Pandemia

Ômicron: restrições de fronteiras devem se basear em evidências científicas

Proibição de voos e fechamento de fronteiras apenas para alguns países pode inibir divulgação de novas variantes no futuro, além de prejudicar pesquisas locais sobre a nova cepa

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No início desta semana, em resposta às restrições de fronteira, a OMS publicou orientações que recomendavam cautela em relação às proibições de viagem para controlar a propagação da variante ômicron

São Paulo – Mais de 50 países intensificaram os controles fronteiriços para tentar retardar a propagação da variante ômicron. Mas pesquisadores dizem que muitas das restrições – especialmente aquelas que visam apenas viajantes apenas de determinados países –, além de não evitar a entrada da nova cepa, podem ter um custo significativo para os países que são alvo das proibições.

Pesquisadores de alguns dos países afetados dizem que as proibições de viagens correm o risco de retardar pesquisas urgentes sobre a ômicron, limitando a chegada de suprimentos de laboratório importados.

A maioria das proibições de viagens tem como alvo a África do Sul, que disparou o alarme sobre a ômicron em 24 de novembro, e Botsuana, que também relatou casos precocemente. Muitas nações também estão proibindo visitantes dos países vizinhos Lesoto, Eswatini, Zimbábue e Namíbia. Na província mais populosa da África do Sul, Gauteng, a nova cepa é responsável pela maioria das amostras de vírus sequenciados nas últimas semanas.

A extensão das restrições de viagem varia de país para país. Os Estados Unidos estão impedindo apenas cidadãos não-americanos que estiveram em países selecionados de entrar em seu território. A Austrália também está exigindo 14 dias de quarentena para seus próprios cidadãos e residentes que visitaram esses países nas últimas duas semanas.

Restrições afetam pesquisas sobre ômicron

Pesquisadores dizem que restrições de fronteira podem dissuadir as nações de alertar o mundo sobre futuras variantes. Também podem retardar pesquisas urgentes, porque poucos aviões que transportam cargas – incluindo suprimentos de laboratório necessários para sequenciamento – estão chegando agora à África do Sul.

“A proibição de viagens afetará, paradoxalmente, a velocidade com que os cientistas são capazes de investigar”, diz o pesquisador Shabir Madhi, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, em entrevista à revista Nature. Isso afetaria também o compartilhamento de amostras com colaboradores globais.

O diretor do Centro de Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul, o brasileiro Tulio de Oliveira, aponta que a redução de voos comerciais pode ameaçar esforços cruciais de vigilância genômica empreendidos por uma rede de instituições do país. “Até a próxima semana, se nada mudar, vamos ficar sem reagentes de sequenciamento”, diz ele à publicação.

No início desta semana, em resposta às restrições de fronteira, a OMS publicou orientações que recomendavam cautela em relação às proibições de viagem para controlar a propagação da variante ômicron. A entidade divulgou recomendações específicas para medidas que considera úteis, como quarentena de recém-chegados e testar viajantes para SARS-CoV-2 antes e depois de fazerem suas viagens.

“É tarde demais. A variante está circulando globalmente”, pontua a cientista Kelley Lee, que estuda saúde global na Universidade Simon Fraser, em Burnaby, Canadá. Segundo ela, as restrições também seriam provavelmente mais eficazes para diminuir o número de casos iniciais em um país quando se reduz o volume total de chegadas internacionais, em vez de se escolher apenas alguns países específicos.

Com informações da Nature