Cannabis x Goiabeira

‘Já vi alucinação com goiabeira, com cannabis não’, afirma especialista

Senado discute a ampliação uso da cannabis medicinal. Único tratamento para diversas doenças, planta encontra resistência entre radicais

Reprodução/Twitter
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Vídeo do embate entre o pesquisador e Damares viralizou

São Paulo – A Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) ouviu nesta quinta-feira (20) especialistas sobre o uso medicinal da cannabis, e a discussão ficou marcada por um momento inusitado entre a extremista Damares Alves (Republicanos-DF) e um pesquisador da área.. O gênero de plantas, da qual a maconha faz parte, é comprovadamente seguro e eficaz para tratamento de diversas doenças, como a epilepsia. Embora a ciência comprove benefícios de substâncias presentes nessas plantas, ultraconservadores tentam barrar seu uso.

Pedro Sabaclauskis, representante da Associação Brasileira de Cannabis Medicinal (Santa Cannabis), ironizou o posicionamento de conservadores que tentam barrar o que pode ser, em muitos casos, a única medida eficaz em muitos tratamentos. “Ela é muito segura (a cannabis), muito mais que uma aspirina. Já vi relatos de alucinações com goiabeira, mas com cannabis não. Das 4 mil pessoas que atendemos nunca vi relatos de alucinações, como muitas vezes é dito”, disse.

O especialista fez referência a uma fala antiga de Damares, que disse ter presenciado uma “revelação”. Com 10 anos, disse que viu “Jesus em uma goiabeira”. “Aos 10 anos de idade eu quis me matar. No dia que eu estava com a substância em cima daquele pé de goiaba aconteceu algo extraordinário. Eu estava em cima do pé de goiaba com o veneno na mão e quando eu ia comer o veneno, eu vi Jesus se aproximando do pé de goiaba”, relatou a senadora. Após a referência de Pedro, Damares se enfureceu e interrompeu sua explicação. “Assim não dá”, disse.

Canabis medicinal em debate

O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH, é também autor de projeto de lei (PL 89/2023) que institui a Política Nacional de Fornecimento Gratuito de Medicamentos Formulados de Derivado Vegetal à Base de Canabidiol. Em conjunto com outra matéria, PL 4.776/2019, do senador Flávio Arns (PSB-PR), ele pretende regular o uso medicinal da planta, além da produção, controle, fiscalização, prescrição, dispensação e importação de medicamentos.

Paim destacou, ainda no começo do debate, que o que está em discussão é apenas o uso medicinal. “Na amplitude maior que for imaginável, mas somente para uso medicinal. Não se debate o uso recreativo”, disse. Parlamentares de diferentes espectros políticos e especialistas defenderam os benefícios da aplicação da cannabis em inúmeras doenças.

Contudo, os argumentos e apelos não foram suficientes para convencer parlamentares ligados ao bolsonarismo. Entre eles, Osmar Terra (MDB-RS), conhecido por defender de forma apaixonada que a covid-19 seria controlada por “imunidade de rebanho” sem vacinas. Sobre a cannabis, disse que “a psicose é muito mais comum do que a gente imagina”. Sua posição foi repetida por políticos como Damares e Eduardo Girão (Podemos-CE).

Sem tempo a perder

A postura de negar ajuda aos doentes foi rebatida por Maria Angela Aboin Gomes. Mãe de filha com autismo severo, Maria viu na cannabis resultados expressivos que melhoraram a qualidade de vida de toda a família. “A questão maior de preconceito é pelo desconhecimento. Eu, como mãe, não tive tempo de espera, porque a vida não para”, disse.

Contudo, Maria ponderou que ela teve oportunidade de chegar ao tratamento revolucionário, e que muitas mães não conseguem. Por isso, a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) defendeu a base da lei de autoria de Paim que busca ampliar a pesquisa e o acesso à cannabis medicinal. “É preciso dar resposta e acalento a quem precisa do medicamento. Milhões de pessoas que não têm dinheiro para importação desse medicamento. Não estamos falando em viciar pessoas. Então, não podemos mais tolerar que se misture (uso recreativo) com o uso medicinal”, concluiu.

Com informações da Agência Senado