São Paulo – Em nota divulgada na semana passada sobre o uso medicinal de componentes de plantas da família da cannabis, entre elas a maconha (cannabis sativa), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reafirma que os tratamentos terapêuticos com o uso de derivados da erva produzem “benefícios únicos”. O relatório técnico reforça a relevância da atual discussão sobre o tema na Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH).

Tramita na Casa um projeto, do senador Paulo Paim (PT-RS), para ampliar a distribuição com fins medicinais dos derivados da cannabis no país. Entre os temas em debate está a distribuição gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Embora a eficácia das substâncias para inúmeros problemas de saúde – especialmente para controle de convulsões e epilepsia – já esteja cientificamente comprovada, parlamentares do campo direitista tentam barrar o diálogo. Por isso, a Fiocruz destaca a existência de “pesquisas conclusivas em apontar a segurança e eficácia dos canabinoides”.

O documento da Fiocruz cita exemplos de êxito do uso medicinal da cannabis. Entre eles, “na redução de sintomas e melhora do quadro de saúde para dor crônica, espasticidade, transtornos neuropsiquiátricos e náusea, vômito e perda do apetite ligados ao tratamento com quimioterapia”.

Por esta razão, cresce o número de especialistas médicos indicando o uso da substância para diferentes terapias. “Quando prescrevo um derivado de cannabis para um paciente com dor crônica, vou tratar sim da dor dele. Mas também vou melhorar a qualidade de sono, diminuir o grau de ansiedade. Outros fatores associados são tratados pelo mesmo medicamento. Quando falamos de anti-inflamatórios, temos problemas (colaterais) na parte renal, gástrica, especialmente em pacientes idosos. A cannabis substitui esses tratamentos com muito mais segurança”, relata o médico ortopedista José Wilson Adrade, em reportagem da TV Brasil.

“Já vi alucinação com goiabeira, com cannabis não”, afirma especialista

Acesso à cannabis na rede de saúde

Em seu relatório, a Fiocruz aponta a relevância do projeto do senador petista, sem citá-lo diretamente. “É indispensável assegurar uma regulamentação abrangente e eficiente, que viabilize a produção, prescrição e o acesso gratuito e universal, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a uma ampla gama de formas farmacêuticas da cannabis e derivados, sempre respaldadas por evidências sólidas de segurança e eficácia terapêutica”, afirmam os pesquisadores do Programa Institucional de Políticas de Drogas, Direitos Humanos e Saúde Mental da entidade.

A utilização de derivados da cannabis para fins medicinais dobrou em 2022 em todo o país. Contudo, ainda existem barreiras legais para sua produção, o que encarece o medicamento. Agora, senadores progressistas trabalham para garantir que o acesso e os benefícios não fiquem limitados apenas a quem pode pagar.

Museu inédito

Nesta segunda-feira (24), na capital da Paraíba, João Pessoa, foi inaugurado o Museu Brasileiro da Cannabis, primeiro do gênero no país. O espaço uma iniciativa da ONG Abrace Esperança, Associação Brasileira de Apoio à Cannabis e tem a finalidade justamente de contar a história do uso medicinal da erva e seus derivados, sem os preconceitos e os estigmas do passado.

Documentos que contextualizam as recentes legislações de descriminalização e depoimentos de mães de pacientes, que mostram como a cannabis medicinal mudou a vida de muitas famílias compõem o acervo do museu. Antigos frascos medicinais vendidos em farmácias, réplicas de equipamentos utilizados na fabricação de cânhamo, jornais antigos, capas de filmes, revistas e depoimentos de pessoas que trabalharam no desenvolvimento científico e na defesa do direito ao tratamento também podem ser apreciados pelos visitantes.

Com informações da Agência Brasil