Legalização e tratamento

Liberação de remédios à base de cannabis na França é baseada em experimento que comprovou benefícios

A Agência Nacional de Segurança de Medicamentos da França divulgou que, a partir de 2025, tratamentos à base de cannabis serão oferecidos no país, após sucesso de experiência de três anos em pacientes com dores e epilepsia

Arquivo EBC
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De acordo com o estudo, pelo menos 91% dos mais de 3 mil pacientes relataram satisfação com a medicação à base de maconha

São Paulo – A Agência Nacional de Segurança de Medicamentos (ANSM) da França divulgou que, a partir de 2025, o país vai oferecer à população medicamentos à base de cannabis medicinal. De acordo com a autoridade em saúde, em anúncio, a legalização da maconha para fins terapêuticos já está prevista na lei de financiamento da Segurança Social de 2024 e deverá ocorrer até 1º de janeiro do próximo ano.

Os medicamentos precisarão de autorização da ANSM até 31 de dezembro de 2024, com uma validade de cinco anos, e estarão acessíveis mediante prescrição médica. A decisão da França tem como base um experimento de três anos, realizado por 275 unidades de saúde de todo o país, que administraram tratamentos à base de cannabis para 3.035 pacientes.

Um relatório citado pela Business of Cannabis – um portal de notícias especializado no mercado da planta – revelou que os primeiros resultados do estudo indicaram uma melhora significativa nos sintomas dos pacientes. Pelo menos 91% deles relataram satisfação com a medicação à base de maconha. A experiência, considerada “sem precedentes”, não observou efeitos colaterais como casos de dependência química ou outras intercorrências à saúde inesperadas.

Mudança de vida

Os medicamentos foram prescritos a pacientes com condições específicas, como dor neuropática, algumas formas de epilepsia, sintomas oncológicos intensos e situações paliativas. Dentro desses casos, foram administrados os remédios à base de cannabis principalmente em forma de óleo e também como vaporizadores. O ensaio foi monitorado por um comitê interdisciplinar da ANSM, presidido pelo médico especializado em farmacologia, dependência e dor, Nicolas Authier.

A pesquisa, que fundamentou a legalização na França, foi encerrada no final do último mês. Em entrevista à agência France24, reproduzida pela Rádio e Televisão de Portugal (RTP), a paciente Valérie Vedere, que fez parte do estudo, aprovou a legalização do canabidiol. Ela teve diagnóstico em 1992 com HIV e, 20 anos depois, com um câncer na garganta. De acordo com Valérie, os efeitos dos tratamentos convencionais eram altamente desconfortáveis. E, como a dor crônica já não podia ser adequadamente tratada como analgésicos comuns, ela optou participar do experimento.

“Eu já usava cannabis ilegalmente para aliviar meus sintomas. Agora, eu poderia passar a usá-la legalmente e ter um acompanhamento consistente com o meu médico”, afirmou. Mylène, uma jovem residente em Paris de 26 anos, que sofre de cefaleia crônica, também destaca que em três meses de tratamento com maconha passou a sentir alívio em suas dores. “O tratamento está realmente surtindo efeito”, garante ela.

A estimativa é que a França tenha até 300 mil pacientes possíveis para tratamento à base de cannabis. A perspectiva também anima a indústria farmacêutica, que diz enfrentar desafios para expandir a produção. Apesar do fim dos testes gratuitos, cerca de 1.842 pacientes continuarão a receber medicamento sob monitoramento da equipe médica. Para muitos pacientes, como Valérie e Mylène, esses tratamentos representam uma esperança renovada para o alívio da dor crônica e condições incapacitantes.

Redação: Clara Assunção


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