crime sanitário

Brasil ultrapassa marca ‘evitável’ de 600 mil mortes por covid-19

Cientistas responsabilizam gestão negacionista de Bolsonaro pela trágica marca causada pelo coronavírus no Brasil. “Destas, 480 mil estariam vivas se tivéssemos mortalidade igual à média mundial”

Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real
Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real
Brasil que sempre viveu, durante toda a história da pandemia, um grande índice de subnotificação em relação à covid-19, passou a "voar às cegas"

São Paulo – O Brasil ultrapassou hoje (8) a marca de 600 mil mortes causadas pela pandemia de covid-19. É como se toda a população do estado de Roraima morresse em um ano e meio. Muitas destas mortes seriam evitáveis, não fosse a desastrosa condução do governo de Jair Bolsonaro ante a maior crise sanitária da história do país. O epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pedro Hallal, resumiu, em seu Twitter, o que representa a marca trágica alcançada pelo país: “600 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil. Destas, 480 mil estariam vivas se tivéssemos mortalidade igual à média mundial (…) Definitivamente, não era uma gripezinha.”

O acadêmico defende que o persistente negacionismo de Bolsonaro tem relação direta com o fato de o Brasil ser o segundo do mundo em total de óbitos causados pela covid oficialmente registrados. O país está atrás apenas dos Estados Unidos, que tem população 50% maior e soma 708 mil mortos. Hallal chegou a sofrer censura ao apresentar um estudo sobre o tema ao Ministério da Saúde.

Outro cientista, o biólogo e divulgador Atila Iamarino, também lamentou as centenas de milhares de mortes evitáveis. Além disso, pontuou o desastre da gestão de Bolsonaro em outros setores, como na Economia. Além de não preservar vidas, impõe sacrifícios extremos aos brasileiros. “600 mil mortes registradas, redução em 2 anos da expectativa de vida em 2020, meio país em insegurança alimentar e 19 milhões passando fome… Mas qual o problema em seguir medidas sanitárias vindas do Ministério da Economia? Tem que ver pelo lado bom: quem tem dólar ganhou dinheiro”, disse, em referência direta ao ministro Paulo Guedes, que mantém reservas milionárias em paraíso fiscal.

Política das 600 mil mortes

Lideranças políticas de diferentes correntes políticas repercutiram a triste marca de 600 mil mortes por covid no Brasil de Bolsonaro. “Mesmo com a redução de internações e mortes por covid, chegamos hoje à marca de 600 mil óbitos. As vítimas e suas famílias tiveram que lutar contra o vírus e a prática negligente de Bolsonaro que, de forma perversa e corrupta, negligenciava vacinas e priorizava propina”, disse a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

A ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) também expressou seu lamento pelas vítimas. “Nosso país ultrapassou a triste marca de 600 mil mortos por covid-19. São vidas que poderiam ter sido salvas, se Bolsonaro não negasse a ciência e trabalhasse ao lado do vírus contra a vida dos brasileiros. Minha solidariedade a todos e todas que perderam alguém”.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Bohn Gass (RS), lembrou os muitos indícios de crimes cometidos pelo presidente durante a pandemia, levantados pelas investigações da CPI da Covid. “600 MIL mortes! Pandemia não é culpa do Bolsonaro, mas o número absurdo de mortes é! Muitas teriam sido evitadas. O governo atrasou e superfaturou vacina, forçou uso de remédios ineficazes, desobedeceu todas as normas de proteção, apostou na imunidade de rebanho… É genocida sim!”, escreveu.

CPI da Covid

Integrantes da CPI da Covid também se manifestaram sobre a marca. “600 mil mortes! Não é uma gripezinha. Muito mais do que um número, são vidas! Pais, mães, avós, irmãos. 600 mil brasileiros com suas dores e sonhos que, agora, deixam um vazio no coração de outras milhares de pessoas. Que Deus nos conforte”, disse o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) citou a ganância como um dos motores dos efeitos devastadores da pandemia no país. “600 mil mortos pela covid no Brasil. Uma sensação triste de que muitas vidas se foram pela soma de ineficiência do Estado, desinformação e ganância. É hora de enxugar as lágrimas e começar a longa caminhada pela reparação da dor de cada família. Precisamos reconstruir o Brasil”, disse.

Por sua vez, o vice-presidente da Comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), postou sua mensagem. “Hoje atingimos a triste marca de 600.000 óbitos. A maioria dessas mortes poderiam ser evitadas caso a estratégia adotada pelo governo federal fosse diferente. Nossa solidariedade a cada um e cada uma neste momento. Também sentimos muita falta de nossos entes queridos”.

Números do dia

No último período de 24 horas monitorado pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) foram registradas 615 vítimas, totalizando 600.425. Também foram notificados 18.172 novos casos – total de 21.550.730 infectados pelo vírus no país desde o início da pandemia, em março de 2020. Isso, desconsiderando a ampla subnotificação denunciada por cientistas e reconhecida por autoridades do próprio governo brasileiro.

Números da covid-19 desta sexta-feira no Brasil. Fonte: Conass


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