Em chamas

Variante da Índia seria ‘gasolina’ na fogueira da pandemia no Brasil

Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, alerta para o atraso das medidas de contenção da nova variante do coronavírus

Reprodução
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Cinco tripulantes do navio MV Shandogn da Zhi que também contraíram a variante indiana estão em isolamento na embarcação

São Paulo – O paciente infectado com a variante da Índia do novo coronavírus está intubado, em estado grave, desde o último sábado (22), num hospital particular em São Luís. Outros cinco tripulantes do navio MV Shandogn da Zhi que também contraíram a variante B.1.617.2 permanecem em isolamento na embarcação, ancorada a cerca de 50 quilômetros da costa maranhense.

De acordo com o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, o Brasil já está atrasado na adoção de barreiras sanitárias para impedir a circulação da variante da Índia. Para ele, o impacto de uma nova cepa, mais transmissível, numa região que mantém um número alto de novos casos diários seria comparável a “jogar um balde de gasolina numa fogueira que já está acessa”.

Em São Paulo, a prefeitura deve implementar barreiras sanitárias em aeroportos, rodoviárias e rodovias a partir desta terça-feira (25). O foco são os passageiros oriundos do Maranhão. Além disso, o Ministério da Saúde anunciou o envio de testes rápidos a São Luís, e para cidades no Sul do país que fazem fronteira com Argentina – primeiro país a registrar a variante – e Paraguai. E também aos aeroportos que recebem passageiros vindos do exterior.

“As medidas do governo vieram dez dias atrasadas pelo menos”, disse Schrarstzhaupt, em entrevista ao programa Revista Brasil TVT neste domingo (23). Ele enalteceu o trabalho de vigilância epidemiológica do porto maranhense, que conseguiu detectar os infectados antes mesmo que o navio atracasse no porto. Ainda assim, a nova variante poderia encontrar outras brechas.

Em chamas

“O controle tem que ser triplicado. Se houver um ambiente favorável a essa nova cepa, a gente pode ver um novo surto”. O pesquisador anota, ainda, que o número de novos casos de covid-19 vem subindo há cerca de um mês. “E esse aumento está vindo forte, porque os patamares nunca chegaram a baixar”. Ele lembra que a elevação do número de casos registrados antecede ao aumento da ocupação dos leitos hospitalares. Estes, por sua vez, também antecipam eventual tendência de elevação no número de mortos.

Schrarstzhaupt criticou as recentes medidas de flexibilização adotadas em diversas partes do país, após o último pico de mortes registrado entre março e abril. Desde então, houve uma queda nos óbitos e nos índices de internação. Apesar dessa redução, os números de casos permaneceram acima dos 55 mil novos contaminados por dia. Na última semana, esse número tem orbitado a marca dos 65 mil novos casos por dia, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

“Na verdade, o indicador para uma flexibilização segura seria o número baixo de novos casos. O ideal seria zerar a transmissão comunitária. (…) Como estamos com um número altíssimo de casos, independentemente se está em platô ou em queda, nunca é momento de flexibilizar”, disse o pesquisador.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima