'Terceira onda'

Infectologista prevê superlotação de UTIs em cerca de duas semanas

Número de novos casos avança mais lentamente devido ao alto índice de infectados, além dos imunizados pela vacinação. Ainda assim, capacidade do sistema de saúde em diversos estados será insuficiente

GovSP
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Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do Ministério da Saúde dão conta de que a queda em procedimentos com finalidade diagnóstica foi de 20% em 2020

São Paulo – De acordo com o médico infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da USP, é “inevitável” a disseminação no Brasil da nova variante do coronavírus descoberta na Índia. Além dos casos registrados no Maranhão, o Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pará e Ceará também investigam casos suspeitos. Apesar de discordar da classificação de uma “terceira onda”, ele prevê que as UTIs devem chegar ao limite da capacidade em diversos estados – incluindo São Paulo – nas próximas semanas, devido ao agravamento recente da pandemia.

Boulos destaca que a escalada recente no número de casos está ocorrendo mais lentamente, em função do número já elevado de infecções. Além disso, a vacinação, mesmo caminhando a passos lentos, também começa a surtir efeito. Por outro lado, a capacidade de atendimento das redes de saúde foi ampliada nos últimos meses. Ainda assim, não será suficiente, alerta o médico.

“Nesse último período, entre fevereiro e março, só em São Paulo foram criados 4 mil leitos extras de UTI. Mesmo assim não foi possível dar conta e muitos morreram sem atendimento especializado”, explicou Boulos, em entrevista a Marilu Cabañas no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (25).

“Estamos com uma capacidade assistencial muito maior. Ainda assim, não deve ser suficiente. É possível que em duas semanas, ou um pouco mais, a gente chegue outra vez à lotação máxima das UTIs em São Paulo, assim como já ocorreu em outros estados”, acrescentou.

Guerra sanitária

Para o infectologista, o enfrentamento da pandemia exige um esforço de guerra coordenado. Sem uma organização centralizada por parte do governo federal, “cada estado faz o que quer”, destacou Boulos. “É essa bagunça que nós temos hoje”. Ele criticou a interferência política do presidente Jair Bolsonaro e classificou como “mau exemplo” a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em manifestação política no último domingo, flagrado sem máscara em meio a aglomerações.

“O que importa é a vida. Para isso é necessário que as pessoas sigam regras sanitárias. E não sigam loucuras de uma pessoa que acha uma coisa diferente e impõe como verdade. Não dá para entender”, reagiu o médico.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira