‘The Guardian’ destaca negacionismo de Tarcísio em querer tirar câmeras de uniformes de PMs
Jornal britânico mostra dados sobre a contribuição do equipamento para a segurança de civis e policiais em São Paulo
Publicado 24/10/2022 - 15h36
São Paulo – A proposta do candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de “reavaliar” o programa estadual Olho Vivo, – que prevê a instalação de câmeras nos uniformes de policiais militares –, vem ganhando repercussão negativa também na imprensa internacional. Além das críticas de especialistas brasileiros em segurança pública que apontam “retrocesso”, o plano de Tarcísio, de remover os equipamentos, recebeu destaque crítico em reportagem do jornal britânico The Guardian, publicada nesta segunda-feira (24).
Na publicação, o ex-ministro de Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro (PL) é apontado como um candidato da extrema direita “negacionista”. A reportagem destaca que, após de São Paulo ter se tornando o primeiro estado do Brasil a instalar câmeras corporais nas fardas de PMs, em um ano o programa alcançou “resultados impressionantes”. Com base em dados da Secretaria estadual de Segurança Pública e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o jornal mostra que o número de pessoas mortas nos chamados “confrontos” com a polícia caiu mais da metade. E que o número de pessoas que resistiram à prisão também registrou queda de quase dois terços.
Mesmo assim, o candidato bolsonarista quer “reavaliar” um projeto “bem-sucedido”, adverte a matéria. The Guardian pondera, porém, que a proposta “não surpreendente dado o histórico de Tarcísio de Freitas”. A reportagem cita, como exemplo, o fato do ex-ministro ter “abraçado negadores da covid-19”. Assim como sua promessa de processar mulheres que recorreram a abortos ilegais para interromper uma gestação indesejada. Assim como a oposição que enfrenta de reitores e ex-reitores de universidades paulistas. Os educadores veem em sua eleição uma “ameaça à posição de São Paulo como líder educacional do Brasil”, destaca a publicação internacional.
Decisão bolsonarista é ideológica
O jornal inglês também menciona análise do advogado Ariel de Castro Alves, presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. À reportagem, Ariel ressalta que o candidato do Republicanos “representa o governo Bolsonaro de negacionistas que não se importam com estatísticas ou ciência”. “Ele assume essas posições porque segue a linha de Bolsonaro de estimular a violência policial”, afirma.
A análise é compartilhada pelo professor universitário e especialista em segurança pública Ignacio Cano, que acrescenta que “não há nada muito profundo na decisão de (Tarcísio)”. “É uma decisão tomada por linhas ideológicas e não técnicas, e os bolsonaristas estão se posicionando contra a modernidade e a tecnologia”, garante. O professor comenta que não há um consenso de que as câmeras nos uniformes da polícia reduza o abuso ou a violência em países como os Estados Unidos, por exemplo. “Mas em São Paulo os resultados foram muito impressionantes”, comenta.
O The Guardian lembra que 6.416 pessoas foram mortas pela polícia brasileira em 2020. E que o estado de São Paulo respondia por quase um terço desses homicídios “eufemisticamente chamados de confrontos”, adverte. O jornal ainda completa que 99% dos mortos eram homens, a maioria menores de 24 anos e sobretudo negros (84%). Com as câmeras, já no terceiro e quarto trimestres de 2021, o número de homicídios em regiões onde a PM usava o equipamento diminuiu de 77,4% e 47%.
Aliado de Roberto Jefferson
As estatísticas da polícia também indicam que, no mesmo período, o número de policiais mortos em serviço caiu pela metade. Tarcísio, contudo, vem repetindo em entrevista ter a impressão de que o PM fica em desvantagem com o uso da câmera. “Para mim, é um voto de desconfiança nos policiais”, alega o candidato bolsonarista. A reportagem do The Guardian alerta, porém, que os equipamentos são vistos como uma forma de prevenir a violência praticada por e contra policiais.
Além de Bolsonaro, Tarcísio também é o candidato do ex-deputado Roberto Jefferson, preso pela Polícia Federal ontem (23). Na ocasião, o também aliado do presidente da República resistiu a uma ordem de prisão lançando granadas e tiros de fuzil, ferindo dois policiais. Em junho, o ex-ministro celebrou o apoio do PTB, partido de Jefferson que “marcou presença” em um evento de homenagem a Tarcísio com uma réplica sua de papelão em tamanho real, já que não poderia deixar sua residência em Comendador Levy Gasparian (RJ), onde cumpria prisão domiciliar.
A relação entre os dois ganhou repercussão nesta segunda, após o atentado do aliado contra a PF. “São farinha do mesmo saco”, comentou o professor de História e membro da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior que diz ver relação entre Tarcísio e Jefferson com a “milícia armada”.