100 dias depois

STF inicia julgamento de denúncias contra golpistas de 8 de janeiro

Relator da ação, ministro Alexandre de Moraes vota para tornar réus 100 denunciados pela PGR por atos contra a democracia. Dias Toffoli votou com o relator

Nelson Jr./SCO/STF - Marcelo Camargo/ABr
Nelson Jr./SCO/STF - Marcelo Camargo/ABr
PGR enviou denúncias ao Supremo sobre atos golpistas, que começam a ser julgadas agora. Alexandre de Moraes é o relator da ação

São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes votou, na manhã desta terça-feira (18), para tornar réus os 100 denunciados pelos atos de terrorismo em Brasília no dia 8 de janeiro. Na ocasião, vândalos depredaram as sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso e o Palácio do Planalto. Também agrediram policiais militares, seguranças dos prédios invadidos e deixaram um rastro de destruição.

Em sua decisão, Moraes afirmou que o país garante liberdade de manifestação, mas atos com objetivo de pregar violência e desrespeito à democracia são “criminosos e inconstitucionais”.

“Não existirá um Estado Democrático de Direito sem que haja Poderes de Estado, independentes e harmônicos entre si, bem como previsão de direitos fundamentais e instrumentos que possibilitem a fiscalização e a perpetuidade desses requisitos.”

“Tanto são inconstitucionais as condutas e manifestações que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático, quanto aquelas que pretendam destruí-lo, juntamente com suas instituições republicanas, pregando a violência, o arbítrio, o desrespeito à Separação de Poderes e aos direitos fundamentais, em suma, pleiteando a tirania, o arbítrio, a violência e a quebra dos princípios republicanos, como se verifica pelas manifestações criminosas ora imputadas ao denunciado”, escreveu.

A votação sobre o recebimento das denúncias contra os acusados, feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), está sendo feita na modalidade virtual. Os ministros depositam os votos de forma eletrônica e não há deliberação presencial. A sessão começou à meia-noite e vai até as 23h59 da próxima segunda-feira (24).

Depois do voto de Moraes, o ministro Dias Toffoli acompanhou o relator. O placar, até as 11h de hoje, era de 2 votos a 0 para tornar réus os 100 denunciados pelos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília.

Terrorismo em Brasília

Em dois inquéritos abertos, a PGR busca identificar os autores intelectuais, incitadores e executores dos crimes de 8 de janeiro na capital federal. A Procuradoria afirma que os denunciados se associaram, de forma armada, a partir de convocações por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens com o objetivo de praticar crimes contra o Estado Democrático de Direito.

A denúncia aponta que “o grupo criminoso tentou depor, por meio de violência e grave ameaça, o governo legitimamente constituído”, sendo que isso “implicaria a prática reiterada de delitos até que se pudesse consolidar o regime de exceção pretendido pela massa antidemocrática”.

Neste sentido, caso o voto de Alexandre de Moraes prevaleça, os denunciados se tornarão réus e responderão por crimes como:

  • Associação criminosa armada;
  • Abolição violenta do Estado democrático de direito;
  • Golpe de Estado;
  • Dano qualificado pela violência e grave ameaça com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

Presos

Agora, com a divulgação do voto de Moraes, que é relator das denúncias, os demais ministros da Corte já podem começar a votar. Se os acusados passarem a responder à ação penal, em seguida o ministro deverá analisar a manutenção da prisão dos 100 acusados, que permanecem detidos.

Do total de 1,4 mil pessoas que foram detidas no dia dos ataques, 294 (86 mulheres e 208 homens) permanecem no sistema penitenciário do Distrito Federal. Os demais foram soltos depois que a Justiça decidiu que não representavam mais riscos à sociedade e às investigações.

O julgamento começa exatos 100 dias após os atos de vandalismo que provocaram prejuízo de R$ 26,2 milhões ao patrimônio público.

Com Agência Brasil, STF e g1