Emprego: obsessão

Com apoio do Solidariedade e líderes no Congresso, Lula amplia aliança: ‘Precisamos pagar uma dívida social’

Articulador do encontro, deputado Paulinho da Força adverte que a eleição não está ganha: “A direita do mundo vai estar jogando contra nós”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula participa de Ato de apoio do Solidariedade à sua candidatura à presidência da República. Geraldo Alckmin e Paulinho da Força participaram do evento

São Paulo – O evento desta terça-feira (3) era para formalizar o apoio do Solidariedade, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu outras adesões. Além do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que já havia se manifestado a favor da candidatura, hoje foi a vez do 1º vice da Câmara, Marcelo Ramos, e do senador Omar Azis, ambos do PSD amazonense, declararem voto no petista. O encontro foi articulado pelo presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), que defendeu ampliação da aliança em torno de Lula e advertiu que a disputa está longe de ser vencida.

“Alguns do seu lado acham que a eleição está ganha. Não está”, disse Paulinho a Lula, diante de auditório com lotação muito acima de sua capacidade, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. “A direita do mundo vai estar jogando contra nós”, acrescentou o parlamentar. “A sua candidatura pode ser muito maior que o Solidariedade, que o PT, uma aliança do Brasil”, afirmou ainda Paulinho. “Nunca teve tanta gente morando na rua, tanta gente desempregada. Esse Bolsonaro destruiu o Brasil. (…) Alguém vai pôr dinheiro no Brasil com um presidente maluco como esse?” Paulinho defendeu que a “reforma” trabalhista não seja tema da campanha. Afirmou que, vencida a eleição, esse assunto se resolverá “em dois meses” no Congresso.

“Vou viajar pelo Brasil”

Apesar do alerta, o futuro candidato a vice na chapa de Lula, o ex-governador e ex-tucano Geraldo Alckmin, agora no PSB, mostrou otimismo. “Paulinho, esse encontro é o prenúncio da vitória!”, exclamou, falando em esperança e apresentando o petista como “maior líder popular do país”, vindo do mundo do trabalho.

Lula reagiu ao “já ganhou”, mas mostrou convicção da vitória, avisando Alckmin para se preparar para a posse. E disse que, a partir de agora, vai sair pelo país. “Quem quiser ficar na rede social, que fique. Eu vou viajar pelo Brasil, conversar com o povo brasileiro”, afirmou. Ele também propôs que em todas as regiões por onde passar sejam divulgadas listas dos candidatos a deputado e senador pelo campo progressista, enfatizando a necessidade de mudar o perfil do parlamento, com nomes identificados com os trabalhadores.

Emprego será “obsessão”

“Vamos ganhar para provar que este país tem uma dívida muito grande, que não é a dívida externa, a dívida com empresários. Precisamos pagar uma dívida social que é secular.” Segundo ele, “o emprego tem que ser uma obsessão”. É preciso ainda “uma política forte de empreendedorismo”. Lula lembrou, nesse caso, que os trabalhadores por aplicativos nada têm de empreendedores: “O cara está sendo transformando num escravo”.

Bastante aplaudido, Randolfe disse que não existe “condição programática” para apoiar Lula. “Existia condição programática para as eleições diretas, para defender a democracia?”, questionou. “Não é uma eleição, é o destino de uma geração”, disse o senador. Ao mesmo tempo, ele afirmou que não se pode cair nas “cantilenas” do governo, que tenta desviar a atenção para os reais problemas do país.

A favor da democracia

Assim, disse Randolfe, a campanha não deve discutir o caso do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que ele chamou de “delinquente”, nem os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Queremos conversar com os brasileiros que estão passando fome”, disse o senador. Para ele, o atual presidente da República usa o cargo “para se proteger de seus crimes”.

As falas de Marcelo Ramos e Omar Aziz ressaltaram diferenças de pensamento com Lula, mas defenderam a aliança pela conjuntura do país. “Está aqui o Lula, que pensa de uma forma. Está aqui o Alckmin, que pensa de outra forma. Mas são democratas. É só comparar com quem fez melhor para o povo brasileiro”, disse Aziz.

Lula entre Alckmin e Paulinho: somando forças para a disputa eleitoral (Foto: Ricardo Stuckert)

O 1º vice da Câmara afirmou que o que está jogo, nesta eleição, é a democracia contra a barbárie, representada pelo atual governo. “O que está em disputa é o direito de continuar discordando, o direito de disputar a pauta política”, afirmou Ramos. “E eu não tenho dúvida do compromisso de Lula com a democracia.”

Fome e desemprego

Ele também ressaltou a crise econômica, com 19 milhões passando fome e quase 13 milhões de desempregados. Desses 19 milhões, afirmou, 17 milhões moram em favelas, 14 milhões são negros e 8 milhões são crianças. E lembrou da inflação: “O cidadão pobre tem que decidir se compra comida ou se compra gás”.

Recentemente filiada ao Solidariedade, a pré-candidata ao governo de Pernambuco, a deputada Marília Arraes, ex-PT, falou sobre o crescimento da região Nordeste durante os governos Lula, situação que mudou nos últimos anos. “A fome voltou a fazer parte da vida das pessoas. E sugeriu ao ex-presidente que implemente, em nível nacional, o programa Chapéu de Palha, criado pelo ex-governador Miguel Arraes, seu avô. Marília aproveitou para dar um chapéu a Lula.

Contra o povo

Já a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffman (PR), enfatizou o papel de Paulinho na construção “dessa rede” de apoios a Lula. “Não podemos deixar que este país continue sendo resgatado pelo ódio, pela arma, pela ignorância, pela ineficiência, contra o povo brasileiro”, afirmou.

Pelo PCdoB, falou o deputado federal Orlando Silva (SP). Pelo movimento sindical, a saudação foi do anfitrião do evento, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e da Força, Miguel Torres. A mesa tinha ainda as presenças do vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, do presidente da UGT, Ricardo Patah, e de um dos vices da CTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira.

Constituição “atrapalha”?

Lula também se dirigiu aos sindicalistas, afirmando que o fascismo não aceita “sindicato forte”, que faz parte de qualquer democracia no mundo. Lembrou do tempo da Constituinte e citou vários líderes daquele período, como Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Orestes Quércia, Miguel Arraes e Leonel Brizola. Afirmou que José Sarney (que, vice, assumiu no lugar de Tancredo Neves) ajudou a garantir a democracia naquele momento político. E observou que desde que a Constituição foi aprovada há aqueles que afirmam, como hoje, que a Carta de 1988 “atrapalha” o país.

“Provamos que o salário mínimo não causa inflação. O que causa são os preços administrados pelo governo”, afirmou o petista, ao criticar a política de preços da Petrobras, cujo lucro, na maior parte, não vai para investimentos, mas para pagar acionistas. Além disso, o BNDES (que Lula considera “uma das coisas mais extraordinárias” criadas por Getúlio Vargas) deve emprestar não para grandes empresas, mas para micro, pequenos e médios empresários.

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