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O 1º de Maio foi prévia das campanhas: defesa dos trabalhadores ante a ‘liberdade de agressão’

Cientista política chama a atenção para a diferença exposta entre os projetos de Lula e de Bolsonaro. E critica uso do Dia do Trabalhador para ataques sexistas e antidemocráticos do lado bolsonarista

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"(A esquerda está) em defesa dos trabalhadores e outra manifestação (bolsonarista) se esconde por detrás do que eles chamam de ‘liberdade de expressão’", diz cientista política

São Paulo – Para a cientista política Rosemary Segurado, o ato unificado das centrais sindicais e as manifestações bolsonaristas, neste domingo, 1º de maio, Dia do Trabalhador, demarcaram de vez em que campo político joga a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentará a reeleição. Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp-SP), ela destaca que os protestos, sobretudo, deram uma prévia de como será a campanha eleitoral neste ano. De um lado, pesará a defesa dos direitos dos trabalhadores, enquanto o lado bolsonarista defende a “liberdade de agressão”. 

O principal ato das centrais sindicais ocorreu no Pacaembu, em São Paulo. A manifestação contou com a presença de Lula que priorizou em seu discurso as pautas relativas à classe trabalhadora, defendendo propostas como o retorno da política de valorização do salário mínimo e a revogação da “reforma” trabalhista, aprovada em 2017 pelo governo Temer.

Por sua vez, os atos bolsonaristas foram marcados por diversos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente da República gravou um vídeo exibido na atividade da Avenida Paulista, também em São Paulo. 

No Rio de Janeiro,  em outro ato bolsonarista, destacou-se a presença do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ). O parlamentar foi condenado recentemente pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão por crimes de ameaça ao Estado democrático de direito e coação no curso do processo. No carro de som, Silveira era anunciado como “o homem que vai explodir o STF, o homem-bomba”. No mesmo veículo em que uma faixa dizia que “no dia do trabalhador, lutamos pela liberdade”. Entre as falas, era tocada uma paródia do funk Baile de Favela, marcada por frases sexistas.

Defesa dos trabalhadores

“Com certeza há diferença (entre os atos) inclusive se pegarmos as pautas principais”, destacou Rosemary, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual (íntegra abaixo). “O 1º de Maio é uma data histórica e é uma data que faz alusão à luta dos trabalhadores em âmbito global. Essa é uma primeira diferenciação. Eu ouvi um aliado de Bolsonaro, que participou do ato, dizer que só na avenida Paulista é que estavam as pessoas que trabalham. E aí eu vou fazer um deslocamento para o ato no Pacaembu em que uma das questões colocadas dialogava com o momento em que estamos vivendo, com altíssimas taxas de desemprego, uma população bastante empobrecida, em um país que já tinha saído do Mapa da Fome e que retornou recentemente pelas ações desse governo que está aí”, contestou a cientista política. 

De acordo com ela, essa é uma das diferenciações que evidenciam de que lado esses dois projetos estão. “Um, de um lado que justamente busca pensar projetos e saídas para tirar o povo da pobreza, gerar empregos e voltar o crescimento do país. E principalmente, uma das questões já apontadas pela pré-candidatura do ex-presidente Lula, que é a revogação da reforma trabalhista. Essa é uma questão muito importante porque, à época, essa reforma vinha como uma grande promessa de geração de emprego. Mas na realidade, o que nós vemos, é que foi uma quebra acentuada do direito dos trabalhadores e com aumento do desemprego”, adverte Rosemary. 

Antidemocrático e bolsonarista

A cientista política também chama atenção para o fato de a campanha de Bolsonaro não apenas seguir na defesa dessa pauta como também continuar com uma estratégia de “cortina de fumaça” para encobrir os reais problemas do Brasil. “O ato (bolsonarista) se disse em defesa da liberdade e da Constituição. Mas em defesa da Constituição atacando justamente um dos seus principais guardiões que é o Supremo Tribunal Federal. E ele faz isso não só através de vários cartazes que vemos entre os manifestantes, mas também entre aqueles que falaram nesses atos. E a primeira afronta é a fala de Daniel Silveira que está sub judice. (…) Ele não poderia comparecer em reuniões públicas e ele não só compareceu, como foi ao ato e continua intensificando essa cruzada antidemocrática”, reprova. 

“O que nós vimos neste 1º de Maio é claramente por onde serão conduzidas as campanhas. Uma (da esquerda) em defesa dos trabalhadores, e outra (bolsonarista) se escondendo por detrás do que eles chamam de ‘liberdade de expressão’. Mas liberdade de expressão não significa liberdade de agressão. De agressão às instituições, agressão às forças democráticas do país. E é isso que o apoiador de Jair Bolsonaro, Daniel Silveira, tem feito nos últimos meses”, conclui Rosemary. 

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