Quem mandou matar?

Sessão solene na Câmara faz homenagem a Marielle Franco, e deputadas cobram justiça

Desde 2018 três grupos de promotores estiveram à frente do caso e o quinto delegado assumiu investigações há pouco mais de um mês

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Câmara realizou sessão solene em homenagem à vereadora assassinada em 14 de março de 2018

São Paulo – A Câmara realizou, nesta terça-feira (15), sessão solene em homenagem à vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e ao motorista Anderson Gomes, assassinados em 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro. Deputadas cobraram justiça. “Aqueles que retiraram a vida de Marielle naquela noite tinham o objetivo, sem dúvida, de tentar calar sua voz, as suas ideias, os seus objetivos, a sua atuação política”, disse a líder do Psol na Câmara, Sâmia Bomfim (SP).

Para Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o crime que tirou a vida da parlamentar e ativista do Psol é de violência política e de gênero. “Quanta dor acumulada porque não há resposta. Para além da ausência, não há resposta. Aparece quem atirou, quem dirigiu o carro, mas não se diz quem mandou, o porquê”, questionou. A deputada lembrou que são muitas as teses, as especulações e as interpretações sobre o assassinato. “Nós podemos até ter as nossas certezas, mas é preciso que se esclareça.”

Desde 2018, três grupos de promotores estiveram à frente do caso no Ministério Público do Rio de Janeiro. Na Polícia Civil, o quinto delegado assumiu as investigações há pouco mais de um mês, nota o PCdoB em sua página na internet. O MP denunciou os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como os assassinos de Marielle e de Anderson. Eles estão presos em penitenciárias federais fora do Rio de Janeiro e vão a júri popular, ainda não marcado.

Mas respostas fundamentais permanecem ocultas. Não se sabe quem mandou matar a vereadora e por que. Uma operação da Polícia Federal, deflagrada na terça-feira (15) para investigar tráfico internacional de armas teve como um dos alvos o policial Ronnie Lessa. ‘Devemos começar perguntar a quem interessa que o caso não seja elucidado”, questionou ontem a vereadora Mônica Benício (Psol-RJ), viúva de Marielle.

Simbologia

A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) destacou a simbologia em torno do crime, por ter tirado a vida de uma mulher negra num país que é o quinto com maior índice de feminicídios no mundo. “Marielle, mulher favelada, em que a favela é alvo do braço armado do Estado, mas lá não chega o SUS, não chega creche”, afirmou.

Na opinião de Erika Kokay (PT-DF), as hesitações da investigação e o silêncio em torno do tema se devem ao fato de que o crime “mexe nos cernes de um poder que se associa com milícias e com jagunços”. Para a petista, “o extermínio de Marielle Franco representa o ataque frontal, a bala no corpo da democracia, balas no corpo de cada mulher negra deste país”.

O presidente do Psol, Juliano Medeiros, afirmou que muitas parlamentares no país se sentem inseguras no exercício do mandato e precisam de proteção policial. É o caso de sua correligionária Talíria Petrone. Para ele, a apuração do caso não é concluída devido a “manobras”.

Aliado de Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sublinhou em discurso que o assassinato foi uma tentativa de calar e interromper os projetos políticos defendidos por Marielle. “A afronta à representatividade política no Brasil é também uma afronta à esta Casa e ao povo desta nação”, afirmou.

Com informações da Agência Câmara