Serra demora e cotados a vice chegam a 10

Desde que se desenhava pré-candidatura do tucano, pelo menos 10 lideranças de quatro partidos foram cotadas para ocupar posto

Serra, Sérgio Guerra e Aécio Neves, tucanos cotados em caso de chapa pura, sem DEM (Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

São Paulo – O candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) segue sem vice na chapa. A definição deve sair apenas no dia 30 deste mês, às vésperas do prazo-limite para a inscrição da chapa junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A aliança deve ter mais dois partidos, o DEM e o PPS, mas a cobiçada vaga foi disputada até aqui por pelo menos 10 lideranças.

O PSDB e o DEM travam uma disputa para definir o dono da vaga. Sérgio Guerra (PE), senador e presidente nacional dos tucanos, reitera, desde a convenção realizada no sábado (12), que a decisão é exclusivamente de Serra. “Agora está nas mãos dele. É Serra quem vai decidir o vice. Vai ter mais umas conversas e decidir”, repetiu nesta quarta-feira (16).

O principal parceiro na provável coligação vê as coisas de uma forma distinta. “Não há ameaças e o DEM vai indicar o vice no dia 30, num processo de escolha com a participação direta de Serra e do PSDB”, garantiu o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), em entrevista à Agência Estado.

O pai do deputado havia mandado recado semelhante alertando para os efeitos de preterir os democratas na escolha. O ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, em entrevista ao IG, alegou que a vice significa mais espaço para a legenda em um eventual governo Serra. Sem isso, o tucano teria de compensar o partido com mais cargos.

Nomes e a dor de cabeça

Foto de arquivo de Serra com Arruda, antes do escândalo deflagrado pela Operação Caixa de Pandora (Foto: Janine Morais/Agência Brasil)

Até meados de 2009, o nome mais cotado era de José Roberto Arruda (ex-DEM, sem partido), governador do Distrito Federal. O envolvimento no escândalo de corrupção investigado pela Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora riscou o brasiliense dos planos tucanos. Arruda estava no DEM desde 2000, após renunciar ao Senado acusado de contribuir na violação do painel eletrônico da Casa. Até então, ele era filiado ao PSDB.

Se o nome do ex-governador do DF virou pesadelo para a campanha de Serra, Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, formaria a chapa dos sonhos de muitos tucanos. Os donos de gestões bem avaliadas nos dois maiores colégios eleitorais brasileiros formariam a dobradinha que poderia conseguir uma parcela mais significativa dos votos do Sudeste, o que poderia compensar uma provável derrota nas regiões Norte e Nordeste.

Aécio negava a hipótese sempre que questionado desde o fim de 2009, quando anunciou a desistência de disputar prévias internas do partido pela vaga principal à Presidência. A pretensão de caciques do PSDB, com a anuência de líderes do DEM, fez com que a hipótese fosse reiterada e rediscutida na imprensa, arrastando a indefinição.

O principal aliado de Serra, que teve a vice de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 com Marco Maciel – filiado ao então PFL –, só abriria mão do posto se fosse em detrimento do ex-governador mineiro. Excluída a hipótese, era hora de o DEM sugerir alternativas. E elas vieram rapidamente. A líder ruralista Kátia Abreu foi uma das primeiras a colocar-se à disposição. Declarando-se pronta para ocupar o cobiçado lugar ao sol, a senadora pelo Tocantins representaria um elo profundo com o agronegócio.

Ruralistas como Kátia Abreu promoveram investida contra MST (Foto: Marcia Kalume/Agência Senado)

Também garantiria um alinhamento a adoção de transgênicos e um freio à reforma agrária, já que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), presidida por ela, promoveu dois estudos nos últimos oito meses para defender a ineficiência dos assentamentos de reforma agrária. Ela ainda participou ativamente do recolhimento de assinaturas no Congresso para a abertura de CPI sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A personagem também é polêmica quando o assunto é meio ambiente. Ela foi pivô de bate-bocas com o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, na análise das políticas brasileiras contra o aquecimento global e com ambientalistas na discussão do polêmico Código Florestal.

O fraco desempenho eleitoral de Serra no Nordeste, porém, tornaria um vice da região mais interessante eleitoralmente. Do DEM, João Carlos Aleluia (BA) foi o nome citado, mas não o único. Uma das lideranças emanadas do carlismo predominante no estado até 2006, Aleluia poderia trazer mais penetração no quarto colégio eleitoral do país, e primeiro fora do Sudeste.

Mais recentemente, entrou na disputa o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Liderança da oposição pelo cargo que ocupa, ele tem se destacado nas críticas às ações do governo Lula, incluindo acusar o PT de terrorismo por acusar o risco de extinção do Bolsa Família. Foi ele que, em entrevista à Veja, afirmou que haveria mudanças na política econômica no que diz respeito a taxa de juros, câmbio e metas de inflação.

Tasso Jereissati (CE) descartou a hipótese, mais interessado na reeleição ao Senado. Outro tucano mencionado é Álvaro Dias (PR), com pouca força por ser de uma região onde o tucano já tem boa penetração junto ao eleitorado.

Francisco Dornelles (PP-RJ) (Foto Waldemir Barreto/Agência Senado)

Ainda no rol das opções descartadas estão o ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) e o senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Enquanto o político de Juiz de Fora alega resistências dentro das hordas tucanas, o senador pepista foi barrado pela posição de seu partido.

O relator do projeto Ficha Limpa, protagonista da polêmica mudança de tempo verbal no texto votado no Senado, teve suas pretensões barradas porque o PP deve manter neutralidade no pleito à Presidência. A legenda detém o Ministério da Cidades desde 2006.

O mineiro Pimenta da Veiga, ex-ministro das Comunicações, vem sendo defendido pelo PSDB de Minas Gerais. Ele assumiu a pasta seis meses depois do processo de privatização da telefonia e foi acusado pelo também ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros de ter levado a pasta de volta ao “modelo ACM”, em referência a Antonio Carlos Magalhães.

Segundo o TSE, as chapas para o Executivo devem ser registradas até dia 5 de julho. No dia seguinte, passa a estar autorizada a propaganda eleitoral. No rádio e na TV, a campanha só começa em 17 de agosto.