Reação

Senadores exigem investigação sobre ameaças a jornalista que revelou esquema bolsonarista de fake news

Lucas Neiva recebeu ameaças de morte após divulgar esquema em fórum virtual que inclui o pagamento em criptomoedas para conteúdos de desinformação a favor do presidente

Isac Nobrega/PR
Isac Nobrega/PR
"Anúncio para a produção de desinformação a favor do presidente não é único", revelou Neiva

São Paulo – Senadores do PT pediram urgência nas investigações das ameaças de morte contra o jornalista Lucas Neiva, do site Congresso em Foco. Ele foi ameaçado e teve seus dados pessoais vazados após a publicação de uma reportagem em que denuncia a tática de um fórum anônimo para produzir fake news em favor do presidente Jair Bolsonaro (PL). O senador Humberto Costa, presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), disse nesta segunda-feira (6) que o órgão tomará as providências necessárias para que esse crime seja elucidado.

“É fundamental que estas ações sejam amplamente investigadas. Esses criminosos não calarão as vozes daqueles que diuturnamente trabalham para nos trazer informação e conhecimento; (…) não cercearão a imprensa brasileira; esses criminosos não rasgarão a Constituição Federal”, disse o senador, em nota.

No fórum de discussão 1500chan (reprodução abaixo) os usuários publicaram, de forma anônima, ameaças a Neiva. “Parece que alguém vai amanhecer morto”, escreveu um dos usuários. “Eu ri do jornalista esfaqueado em Brasília e queria que acontecesse mais”, acrescentou outro. Além disso, o site do Congresso em Foco sofreu um ataque hacker na madrugada de sábado (4) para domingo (5) e ficou fora do ar, após a divulgação da reportagem.

Ameaças em fórum anônimo ao jornalista – Reprodução/Congresso em Foco

Conforme mostrou o jornalista, um usuário do fórum chegou a oferecer pagamento em criptomoedas para a criação de conteúdo falso a favor de Bolsonaro. “No 1500chan, o apoio a Jair Bolsonaro é absoluto. O anúncio para a produção de desinformação a favor do presidente não é único”, diz um trecho da reportagem.

Dessa maneira, ele também destaca que “ataques a movimentos sociais, propaganda de extrema-direita, divulgação de conteúdo declaradamente racista e antissemita, bem como teorias de conspiração” ocupam o topo das discussões políticas de fóruns desse tipo.

Pressão

Do mesmo modo, os senadores Fabiano Contarato (PT-ES) e Jean Paul Prates (PT-RN) também cobraram celeridade nas investigações. Para eles, a liberdade de expressão e o livre exercício da imprensa são fundamentais em uma democracia. Nesse sentido, cabe ao Estado e à sociedade zelar por esses princípios constitucionais.

“As autoridades policiais e judiciárias precisam punir com celeridade mais um ataque criminoso da extrema-direita bolsonarista contra o jornalismo”, afirmou Contarato. Nesse sentido, ele defendeu a aprovação do Projeto de Lei (PL) 4.522/2020, de sua autoria, que criminaliza a hostilização a profissionais de imprensa. “A proposta garante pena mais dura para quem atacar jornalistas”, defendeu o parlamentar.

“É inaceitável que, sob a égide da democracia, a liberdade de imprensa seja alvo de ataques por parte de grupos conservadores”, disse Prates. Assim, ele também afirmou que a bancada do PT no Senado exige apuração sobre as origens dos ataques contra o jornalista.

Além disso, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também se pronunciaram, cobrando investigação “rápida e precisa”. Em nota, apontam para uma “escalada em movimentações antidemocráticas”, devido a falta de atuação dos órgãos de investigação e de Justiça. E também responsabilizam Bolsonaro e outros políticos.

“Sabemos que essas manifestações encontram respaldo nas declarações do próprio presidente da República e de outras figuras públicas, que, ao longo dos últimos anos, tentaram constranger e calar os/as jornalistas”, afirmam as entidades.