Protesto

Seis partidos decidem obstruir sessões da Câmara até saída de Cunha

Tática causou mal-estar com PT e governo, que temem demora na votação de matérias importantes. Iniciativa também é forma de pressionar petistas a adotar posição firme contra o deputado

Alex Ferreira/ Câmara dos Deputados

Cunha disse descartou qualquer possibilidade de renúncia ou afastamento voluntário

Brasília – A promessa dos últimos dias virou compromisso e, no início da tarde de hoje (24), após se reunirem, líderes de seis partidos – Psol, Rede, PSB, PPS, PSDB e DEM – decidiram que vão obstruir as votações do plenário da Câmara daqui por diante enquanto a presidência da Casa estiver sendo ocupada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A iniciativa provoca mal-estar, em razão da postura do PT. Embora o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) tenha dito ontem que os petistas estão liberados para se posicionar como quiserem em relação a Cunha, há, entre a maioria da bancada, um silêncio em relação ao assunto. O que é considerado pela oposição como uma forma de aliviar o parlamentar para evitar que ele acolha requerimentos pedindo a abertura de impeachment contra a presidenta Dilma.

O objetivo das legendas da oposição, com a obstrução dos trabalhos da Câmara, é pressionar Eduardo Cunha a renunciar ao cargo ou se afastar temporariamente, enquanto corre contra ele o processo que o investiga no Conselho de Ética. Ou ainda, tentar antecipar alguma decisão do Judiciário instando o parlamentar a ser afastado (já que três partidos vão entregar logo mais ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedido de representação para que Cunha deixe o cargo – por não ter mais condições de presidir a Câmara).

O argumento dos deputados é que, depois das últimas manobras protelatórias da mesa diretora, presidida por Eduardo Cunha, para atrapalhar o rito dos trabalhos do Conselho de Ética, ele não pode mais continuar na presidência. “Inclusive porque não tem credibilidade nem legitimidade para isso”, afirmou o líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ).

Desde a última semana, os líderes dessas legendas já estavam evitando participar de reuniões das lideranças organizadas semanalmente, no gabinete de Eduardo Cunha ou em sua casa, para discutir a pauta da semana. Agora, essa ausência passa a ser permanente até que a situação seja resolvida.

‘Não mede esforços’

O apoio à atitude dos líderes teve como destaques, sobretudo, o PSDB e o DEM, legendas que somente há pouco tempo se posicionaram de forma contrária ao presidente da Câmara. “Ficou claro que Eduardo Cunha não mede os esforços quando o objetivo é proteger-se. Não queremos um presidente que use o seu cargo. É um comportamento mesquinho que não combina com o decoro que a Casa exige”, afirmou o líder do PSDB, Carlos Sampaio.

“A cena da semana passada marca, de forma negativa, a história do parlamento. Estamos aqui para reagir junto com outros parlamentares, demonstrando nossa insatisfação e revolta como o episódio e a forma como a presidência da Casa foi utilizada para impedir as investigações no Conselho de Ética”, acrescentou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). “Todos os limites foram superados e não nos resta outra alternativa a não ser tomar esta posição, pelo legislativo brasileiro”, acentuou o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).

Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), a atitude vai paralisar a Casa e prejudicar votações importantes para o país. “A Câmara não pode ficar paralisada. O que queremos é o funcionamento do Congresso em todas as suas instâncias”, destacou.

Do Senado, outro que contestou a especulação de que os petistas pretendem “aliviar” a situação de Cunha foi Lindbergh Farias (PT-RJ). O senador divulgou nota na qual enfatiza que Eduardo Cunha “foi a pessoa que mais atrapalhou a presidenta Dilma e o Brasil, em aliança com o PSDB. Então, nessa hora, fiquem tranquilos, os deputados do PT vão votar pela cassação do presidente da Câmara”, afirmou.

O senador enfatizou: “Quem pariu o Eduardo Cunha foram os tucanos, que tinham uma aliança sólida com ele. Não queiram jogar agora no colo do PT. Nossa bancada está firme e vai votar contra Cunha, pela sua cassação”, acrescentou.

Logo após a reunião, os líderes seguiram para a sessão do Conselho de Ética que está sendo iniciada neste momento e tem previsão de votar nesta terça-feira o relatório preliminar sobre a investigação de Cunha. Diante da decisão dos líderes, não se sabe se  haverá quórum suficiente para a realização de sessão conjunta do Congresso Nacional prevista para se realizar esta noite.

Ao falar sobre a possibilidade de obstrução por parte das legendas oposicionistas, ontem, o deputado Eduardo Cunha, mais uma vez, minimizou a questão. Disse que juntas, estas legendas, a seu ver, “não teriam forças para impedir o trabalho da Câmara”. Ele ressaltou que permanecerá no cargo de presidente da Câmara até o final do mandato, descartando qualquer possibilidade de renúncia ou afastamento voluntário.