Eleições 2018

Ruptura ou golpe não interessam ao projeto de Alckmin, diz cientista política

Para Maria Victoria Benevides, governador de São Paulo 'defender uma ruptura agora seria algo acintoso em função do perfil dele'; já o caso de Aécio Neves, 'Freud explica', diz

Marcelo Camargo/ Brasil

Negociações e articulações políticas são mais adequadas ao perfil do governador de São Paulo do que golpe

São Paulo  – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem feito movimentos aparentemente claros no sentido de evitar soluções drásticas contra a presidenta Dilma Rousseff. Um rompimento institucional e um cenário imprevisível, como um processo de impeachment, seria catastrófico para o governador, que tem traçado com cuidado pragmático o caminho para se viabilizar como candidato tucano à Presidência da República.

Para a cientista política Maria Victoria Benevides, além do raciocínio de que a manutenção do processo institucionalmente é fundamental para seus planos, a postura cuidadosa de Alckmin se relaciona com a entrevista que um grão-tucano paulista deu ontem ao jornalista Bernardo Mello Franco, da Folha de S. Paulo. “O Aloysio Nunes Ferreira, que já disse que queria ‘sangrar’ a Dilma até o final, tornou a dizer que não vê motivo para impeachment, que segundo ele só beneficia o PT, que assim teria condições de se organizar, fazer uma boa oposição, e voltar com candidaturas em 2018. Deve ser o mesmo raciocínio que está fazendo o Alckmin”, diz a professora.

Na opinião de Maria Victoria, a estratégia política do governador passa pela manutenção de seu perfil cauteloso. “Alckmin defender uma ruptura agora seria algo acintoso em função do perfil dele, mais conciliador e mais discreto. Ele tem conseguido relativo sucesso esse perfil de bom moço. Não vai se identificar com o estilo do Aécio de jeito nenhum. Além disso, como todo governador de São Paulo, ele sempre procurou ter um bom relacionamento com a presidente.”

Para ela, o caso do senador Aécio Neves, que tem feito a defesa mais enfática de uma ruptura, é passível de outro tipo de análise. “Aécio é o mais afoito nisso (na tentativa de rompimento institucional) no PSDB. No caso dele, Freud explica”, ironiza Maria Victoria, que é também professora da Faculdade de Educação da USP.

Na entrevista ao jornal paulista, Aloysio Nunes Ferreira disse que a queda de Dilma “talvez seja o ideal para o Lula. A gente entra no governo, e ele fica livre para fazer oposição e sair candidato em 2018”. Afirmou ainda:  “No momento, não vejo base para o impeachment. Não se pode brincar com isso”.

Ato pelo mandato de Dilma

Em ato em defesa da democracia e do mandato de Dilma, organizado pelo PT e pelo PCdoB ontem (14) à noite em São Paulo, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que as estratégias da oposição de inviabilizar o governo são “golpistas”. “É uma estratégia golpista. Temos que defender a democracia, o resultado do voto popular, o Estado democrático de direito”, disse. “A democracia se precipitou no país e foram 20 anos de sofrimento para todo mundo. Temos que evitar que haja um agravamento da crise política para que ela se transforme numa crise institucional.”

No evento, o presidente do PCdoB de São Paulo, Jamil Murad, destacou a necessidade da união da esquerda em defesa da democracia. “Achamos fundamental uma frente mais ampla”, afirmou.

Em entrevista ao site Brasil 247, publicada hoje, sem citar nomes, Rui Falcão disse que membros da oposição “sentiram a barra quando se denunciou que estão envolvidos com um movimento golpista”. Para o dirigente, porém, o recuo pode ser apenas aparente. “Temos que estar vigilantes porque o clima é preocupante nesse aspecto. Temos que defender a democracia contra o golpe.”

Na entrevista, ele disse ainda que a defesa do mandato de Dilma vai incorporar nova prática, discutida em reunião da qual participou com o ex-presidente Lula e Dilma: “Nós discutimos a conjuntura nacional, nós vamos fazer várias viagens pelo Brasil a partir de agosto. Ministros, dirigentes partidários, senadores defendendo o mandato da presidenta Dilma, contra o golpe e em defesa de reformas estruturais”.

Ouça matéria da Rádio Brasil Atual sobre o ato em defesa da Petrobras e da presidenta Dilma