Democracia nada

Rodrigo Garcia imita Doria e declara apoio a Bolsonaro e Tarcísio

Motivação “antipetista” do governador seria vingar-se de Haddad pela condenação de irmão envolvido no escândalo da máfia dos fiscais do ISS. PSDB cada vez mais isolado

Reprodução/Facebook/Bolsonaro
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Mágoas pelo irmão preso, cargos e blindagem explicam apoio de Rodrigo a Bolsonaro e Tarcísio

São Paulo – O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), declarou nesta terça-feira (4) apoio “incondicional” ao atual Jair Bolsonaro e a Tarcísio de Freitas no segundo turno das eleições. Tarcísio é o candidato indicado pelo presidente ao governo de São Paulo e vai concorrer com o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Garcia ficou em terceiro lugar na disputa ao Palácio dos Bandeirantes, com 18,40% dos votos válidos. Assim, o governador repete, em parte, o gesto do seu antecessor, João Doria, que apoiou Bolsonaro ainda no primeiro turno das eleições de 2018, com o voto “BolsoDoria”, como ficou conhecido.

Desde então, a guinada do PSDB à extrema direita custou caro aos tucanos, que antes se posicionavam como uma “direita moderada” ou “centro-direita”. Nestas eleições, o PSDB não elegeu nenhum governador no primeiro turno. Além disso, viu sua bancada na Câmara cair de 22 para apenas 13 deputados federais – menos que o Psol, que terá 14 parlamentares. Em São Paulo, a disputa em segundo turno entre Tarcísio e Haddad põe fim a uma hegemonia de 28 anos do PSDB no estado.

Rodrigo usou o antipetismo para justificar o apoio em Bolsonaro e Tarcísio. Disse que São Paulo é um estado desenvolvido porque nunca foi governado pelo PT. Ontem, o candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que estava disposto a conversar com o governador paulista, em busca do seu apoio no segundo turno, tanto na disputa presidencial como na estadual.

Além da ideologia

Questionado se teria consultado Doria sobre os apoios declarados hoje, Rodrigo disse apenas que comunicou ao presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e ao presidente estadual, Marco Vinholi. Disse que seu partido estava reunido naquele momento, decidindo pela “neutralidade” na disputa presidencial, liberando seus quadros. “Eu, pessoalmente, como governador de São Paulo, declaro meu apoio incondicional ao presidente Bolsonaro e ao Tarcísio.”

Mas a “mágoa” de Rodrigo com o PT tem menos a ver com diferenças ideológicas. Isso porque seu irmão, o empresário Marco Aurélio Garcia, foi condenado por lavagem de dinheiro no escândalo da chamada máfia dos fiscais, em que funcionários da prefeitura de São Paulo davam falsificavam a cobrança do ISS e pegavam parte do dinheiro em forma de propina. O esquema foi investigado pela gestão de Haddad quando ele era prefeito da cidade de São Paulo. Desde então, a família de Rodrigo Garcia teria aversão ao ex-prefeito.

Em busca de cargos

Além disso, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, aliados de Rodrigo disseram que o PSDB espera manter parte das secretarias e cargos que ocupam atualmente no governo paulista. Isso porque Tarcísio e seus aliados não teriam quadros suficientes para tocar o governo com competência. Por outro lado, também esperam se blindar de eventuais investigações ou “retaliações” promovidas por um eventual governo de Haddad.

Contudo, o próprio Tarcísio já havia desprezado o apoio do governador de São Paulo. Durante encontro com lideranças do Progressistas, disse que Rodrigo “provavelmente” não estará ao seu lado na campanha. “Eu preguei mudança o tempo todo, não faz sentido agora estar com eles (o PSDB) no palanque”. Após o encontro, o candidato bolsonarista mudou o discurso. Disse que São Paulo “vai muito bem”, e que o governo de Rodrigo Garcia tem políticas públicas que “precisam ser preservadas”, sem citar quais.

Tarcísio também bateu na tecla do antipetismo e repetiu o mito de que Haddad teria sido o “pior prefeito da capital”. Uma afirmação diversas vezes desmentida, já que sua gestão foi internacionalmente premiada várias vezes.

Por outro lado, o apoio de Rodrigo ao bolsonarismo deve aprofundar fissuras com o aliado Cidadania, com o qual o PSDB formou uma federação. “Ele não conte comigo para isso”, afirmou o presidente da sigla, Roberto Freire. Em contraste com a atitude do governador tucano, também hoje o Cidadania anunciou apoio “sem condicionantes” a Lula.