51 imóveis

Randolfe pede que STF investigue escândalo do ‘dinheiro vivo’ dos Bolsonaro

A denúncia dos 51 imóveis pagos em ‘cash’ pela família do presidente foi notícia na imprensa internacional, mas ignorada pelo ‘Jornal Nacional’

A mansão do senador Flávio Bolsonaro custou R$ 6 milhões e está localizada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília

São Paulo – O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou nesta quarta-feira (31) uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo investigação do uso de dinheiro vivo pela família Bolsonaro para pagar ao menos 51 imóveis. A denúncia foi divulgada ontem pelo portal Uol.

Segundo a reportagem, desde os anos 1990 até hoje, o presidente Jair Bolsonaro, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis e, deles, no mínimo 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. A matéria afirma ter se baseado em declaração dos próprios integrantes da família. “Por isso, vou peticionar em relação a esse caso. Só enriquece na política e constrói esse patrimônio quem está roubando”, disse Randolfe.

À Rádio Brasil Atual, o cientista político Cláudio Couto afirmou que as denúncias de corrupção contra Jair Bolsonaro mostram que o presidente tem “telhado de vidro dos mais frágeis”. “Hoje a gente não compra nem pastel na feira com dinheiro vivo. Imagine comprar imóvel em cash”. Ele mencionou o escândalo de corrupção na compra de vacinas contra a covid, os pastores lobistas no MEC e o orçamento secreto como exemplos visíveis do atual governo.

Randolfe afirmou estar “convencido que teve ladroagem e roubo de alguma forma”. “Com o salário legal que a gente recebe não é possível (enriquecer na política)”, acrescentou. “Creio eu que um salário de senador da República, que não é ruim, mas de R$ 22 mil, é incapaz desse tipo de fácil enriquecimento na política, é impossível.”

Segundo a reportagem, as compras registradas nos cartórios com o modo de pagamento “em moeda corrente nacional” totalizaram R$ 13,5 milhões, o equivalente a R$ 25,6 milhões em valores corrigidos pelo IPCA.

Como em 2018, JN ignora denúncia

Apesar de grave, a denúncia do Uol foi ignorada pelo Jornal Nacional, da TV Globo. A atitude do JN em relação aos imóveis é semelhante ao que ocorreu em 2018. Em pleno mês de outubro de eleição, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, denunciou que empresários estavam comprando pacotes de serviços milionários de milhares de disparos de mensagens via  WhatsApp contra o PT.

A repórter afirmava à época que haveria uma grande operação para a semana antes do segundo turno. A denúncia e violação da lei eleitoral foram solenemente ignoradas não só pelo jornal da TV Globo, mas por toda a mídia tradicional.

A denúncia sobre os 107 imóveis dos Bolsonaro desta terça-feira repercutiu na imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian e a rede BBC foram alguns dos veículos que reproduziram a informação, citando o Uol. “As obscuras finanças familiares de Jair Bolsonaro estão sob avaliação renovada depois de alegações de que o presidente brasileiro e parentes próximos usaram dinheiro para pagar mais de 50 propriedades no valor de milhões de dólares”, diz o The Guardian.

‘Dinheiro vivo’

Nas redes sociais, o novo escândalo envolvendo o clã Bolsonaro e o crescimento patrimonial suspeito foi um dos mais comentados durante toda a terça-feira. A expressão “dinheiro vivo” ganhou os trending topics (assuntos mais falados) no Twitter.

“Os Bolsonaro desviaram dezenas de milhões de reais durante trinta anos de vagabundagem. Do slogan do fascismo brasileiro, só sobra ‘família’, a dele. Antes de prendê-los, vamos julgá-los na forma da Constituição”, escreveu o candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT).