contra o golpe

Professores devem levar informação aos estudantes para defender a democracia

Presidenta da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), Rosa Cardoso conclama professores a se engajar em reflexões com alunos

Beatriz Baptista/Adunesp

Rosa Cardoso: estratégia única entre golpes é acusar os governos de ineficientes, autoritários e corruptos

São Paulo – “Devemos ir para a rua, com o nosso cartaz, nossa faixa, deixar uma palavra de ordem que seja vista, mas nós somos intelectuais e devemos produzir reflexões neste momento, levar informação para os estudantes, eles precisam disso porque eles têm vontade, sede de Justiça”, disse a presidenta da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) e ex-coordenadora da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Rosa Cardoso, sexta-feira (1º), durante ato para a instalação da Comissão da Verdade da Adunesp, entidade que representa os docentes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

Rosa Cardoso falou na mesa de encerramento do evento, que foi também um ato em defesa da democracia. Ela discorreu sobre as diferenças entre o golpe de 1964 e o que se pretende atualmente em marcha pela coalizão ente setores conservadores do judiciário, mídia, Fiesp e oposição parlamentar.  “O golpe civil de hoje é o que tem aparecido na América Latina, com mais de 20 tentativas de golpes brancos, semelhante ao que aconteceu em Honduras, com o Zelaya (Manuel Zelaya, deposto em junho de 2009)”. Ela lembrou também o caso do ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo, que sofreu impeachment em junho de 2012.

Ela identifica que a estratégia única entre esses golpes é acusar os governos de ineficientes, autoritários e corruptos. “E dessa desestabilização se passa para o estado de exceção com grampos e prisões temporárias, atropelando a presunção de inocência”. Rosa Cardoso disse também que a divulgação de diálogos privados, como o grampo na conversa entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, um dia antes de sua posse na Casa Civil, é uma marca do estado de exceção.

A presidente da CEV-Rio criticou também o processo de impeachment, que classificou como o estágio seguinte ao regime de exceção. “As leis são vagas e podem ser interpretadas de uma forma ou de outra”, afirmou sobre a regulamentação do orçamento da União. Disse também que as questões que envolvem o impeachment, como as pedaladas fiscais, foram amplamente praticadas por outros governos, nos âmbitos estaduais e federal. E criticou ainda o “presidencialismo flexibilizado”, defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como solução da crise política. “Querem que fique mais fácil tirar do poder um governante que tenda a ser mais popular.” Os fins últimos desse processo golpista, segundo a professora, são reduzir o tamanho do Estado e atacar os direitos trabalhistas, entre outras pautas conservadoras.

O ato da Adunesp contou também com a participação de outros intelectuais de fora do estado, como os professores Marco Aurélio Santana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e José Otávio Nogueira Guimarães, da Universidade de Brasília (UnB). Estiveram representados também o Fórum 21, a Comissão de Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo (CMV), o Comitê Paulista da Memória, Verdade e Justiça e o Instituto Astrojildo Pereira.