Só depois das eleições?

Presidenta da Sabesp desmarca pela segunda vez depoimento à CPI da falta d’água em SP

Dilma Pena enviou atestado médico na tarde de hoje (23) alegando ter passado por cirurgia na traqueia. Intimação foi feita no último dia 17, após a presidenta da estatal ter faltado a convite

Paulo Fischer/Brazil Photo Press/Folhapress

Também à Assembleia Legislativa Dilma Pena alegou problemas de saúde, mas de um parente, para faltar

São Paulo – A presidenta da Sabesp, Dilma Pena, enviou na tarde de hoje (23) à Câmara Municipal de São Paulo um atestado médico e uma nota em que avisa que não estará presente na sessão de amanhã da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as ações e as possíveis omissões do poder público sobre a falta d’água no estado de São Paulo. Atualmente, o Sistema Cantareira opera com 8% da capacidade do “volume morto”, reserva de água que fica abaixo das porteiras de captação das represas – o “volume útil” do reservatório, água normalmente utilizada para o abastecimento de mais de 8 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, secou completamente no começo de julho deste ano.

“Como advogado, me reservo o direito de não comentar atestado médico”, esquiva-se o vereador e candidato a governador Laércio Benko (PHS), presidente da CPI, ao ser questionado sobre a possibilidade de que a presidenta da Sabesp tivesse comunicado sua ausência com maior antecedência. Dilma Pena afirmou que passou por uma microcirurgia na traqueia há três dias (sábado, 20), embora a intimação tenha sido feita na quarta-feira (17), com ampla divulgação pela imprensa. O parlamentar questiona, no entanto, o fato de a Sabesp não ter enviado representante em seu lugar. “Em uma situação tão crítica, é complicado. A pessoa pode encaminhar um representante. Tenho certeza que a Sabesp não fechou as portas. Pelo menos para cobrar a população todo mês, está funcionando normalmente”, ironizou.

Dilma Pena deve ser reconvocada a prestar depoimento na sessão de amanhã, mas a previsão é que ela só se declare recuperada das intervenções médicas após as eleições deste ano, cujo primeiro turno se encerra em 5 de outubro, e o segundo, em 27 do mesmo mês. Na semana passada, ao não corresponder ao convite, a executiva informou que estaria disponível apenas depois do segundo turno.

Além de Dilma, será convocado a depor o diretor de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, Paulo Massato, para prestar esclarecimentos. Massato já representou Dilma Pena em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo em março deste ano, ocasião em que a presidenta da Sabesp se furtou a participar do debate por motivo de saúde familiar.

Naquela oportunidade, Massato fez discurso eminentemente técnico, em que defendeu que a situação atual é resultado exclusivo de um fenômeno climático atípico. “Existe uma zona de baixa pressão sobre todo o planeta, desde a Austrália e a costa Oeste dos Estados Unidos até aqui. É um fenômeno que causa altas temperaturas e poucas chuvas, o que nos levou à situação atual”, disse. Massato responsabilizou ainda o aumento populacional pelo problema, exemplificando que, se entre 1991 e 2000 havia uma tendência de redução dos habitantes do centro expandido de São Paulo, entre 2000 e 2010, essa tendência se inverteu: as periferias estão crescendo menos e o centro voltou a acumular habitantes.

Como ações do governo para lidar com a seca, o diretor da Sabesp pontuou as campanhas de conscientização, o programa de desconto nas contas de água de quem economiza e a flexibilização do volume mínimo dos contratos fixos –como, por exemplo, o mantido com a prefeitura de Guarulhos, que compra água por atacado da Sabesp. Desde março cerca de 1 milhão de pessoas passa por rodízio de água não reconhecido pela empresa estatal.

À Câmara, em audiência pública em maio deste ano, Massato também não esclareceu muitos detalhes sobre a ação governamental: disse aos vereadores que não tinha ideia de como seria mantido o abastecimento de água na cidade até outubro, embora defendesse que não seria “possível” secar o reservatório. Ele admitiu ainda que não houve investimento para ampliar a capacidade do sistema, mas sim na ampliação do sistema de adutoras para levar água para a população.

“A região metropolitana de todas as cidades cresce além dos controles possíveis. O que teve mais investimento foi para levar a água para atender à demanda que se projeta para além das regiões centrais das cidades”, disse, acrescentando que o Cantareira opera no total de sua capacidade projetada, produzindo 73m³ por segundo de água tratada.

Massato chegou a admitir redução da entrega de água, mas sem “oficializar” rodízio ou racionamento. “Nós temos utilizado redutores no sistema de adutoras, que controlam a emissão de água nos períodos em que temos conhecimento de que a demanda é menor. Mas, repito, não racionamos nem fazemos rodízio.”

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