No governo

Por apoio a MPs, ministros negociam cargos e mais participação do PMDB

Apoio está condicionado a nomeações para segundo escalão e reaproximação do partido com o Planalto. Executivo quer manter, ao menos, espinha dorsal dos textos. Negociações seguem com centrais

Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Levy (à esq.) falou sobre a importância do pacote para as contas do país, e Cunha destacou que o considera necessário

Brasília – Diante da certeza de que é preciso negociar o texto das Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665 e depois da confirmação de que as resistências às duas matérias não partem apenas das centrais sindicais, como também de entidades da sociedade civil e até parlamentares da base aliada, o governo caiu em campo na noite de ontem (23) para pedir apoio ao PMDB. As MPs já receberam mais de 700 emendas e a estratégia, conforme deixam claro lideranças da base, é manter ao menos a espinha dorsal do seu teor – que estabelece alteração das regras para concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários.

O pontapé inicial nesse sentido foi dado durante jantar de vários ministros com peemedebistas, num aceno firme de reaproximação com a legenda para negociar apoio ao ajuste fiscal. O jantar teve como organizadores o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), além de vários ministros e integrantes da equipe econômica, que fizeram apresentações sobre a necessidade de mudança e externaram a importância de um ajuste fiscal para o país, neste momento.

O principal interlocutor da área econômica, o ministro da Fazenda Joaquim Levy, explanou de forma técnica o que o pacote representa para o equilíbrio das contas. Em relação à contrapartida política, coube ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, responder e acenar para o atendimento das queixas apresentadas pelos parlamentares, principalmente os senadores peemedebistas.

Destacaram-se entre as reclamações, a falta de diálogo com o governo, ausência da participação da bancada do partido nas decisões tomadas pelo Executivo e, também, a necessidade da legenda vir a ser contemplada com mais cargos nas indicações para o segundo escalão.

Coube a Eduardo Cunha, que durante anos foi tido como um adversário do Planalto dentro do PMDB, o papel principal de negociador. Cunha disse que ele, assim como acreditava que a maior parte dos integrantes do partido na Câmara, entendia e apoiava o ajuste fiscal, por considerá-lo necessário. Não teria, conforme parlamentares que participaram do jantar, se comprometido diretamente em apoiar as MPs da forma como foram encaminhadas ao Congresso, mas deixou claro que os peemedebistas não vão se opor à aprovação das matérias.

Apoio ‘condicionado’

A fala do presidente da Câmara foi entendida como um apoio implícito, condicionado às nomeações de cargos que estão por vir, sobretudo os de diretorias do setor elétrico – consideradas grande filão para os peemedebistas. Para a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, uma das poucas a falar com os jornalistas após sair do jantar, o evento marcou o apoio do PMDB, de uma vez por todas, ao ajuste fiscal do governo. Nem todos, entretanto, consideraram o resultado das conversas dessa forma.

O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), mais polido, não cravou o entendimento como um apoio definitivo. Guimarães acha que existe muito espaço para mais diálogo e para que seja recomposta a base aliada do Congresso.

O deputado admitiu que o Executivo quer negociar as MPs e precisa fazer acordos para contar com apoios à aprovação dos dois textos, principalmente com as centrais sindicais. Mas considerou que o jantar foi um bom passo no sentido de um entendimento, de forma a ser mantida a base das mudanças propostas. “O momento é de aprofundar esse debate”, enfatizou o líder.

Participaram do jantar, além de Temer e Cunha, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o ex-senador José Sarney (MA), deputados e senadores do PMDB, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, Planejamento (Nelson Barbosa), Casa Civil (Aloizio Mercadante), Agricultura (Kátia Abreu), Portos (Edinho Araújo), Aviação Civil (Eliseu Padilha), Turismo (Vinícius Lages), Minas e Energia (Eduardo Braga), Pesca (Hélder Barbalho) e Assuntos Estratégicos (Mangabeira Unger), e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.