Conspiração no armário

PF encontra minuta de projeto golpista de Bolsonaro na casa de Anderson Torres

Rascunho de decreto visava intervenção inconstitucional no Tribunal Superior Eleitoral. Ex-ministro alega “fora de contexto”

Marcos Correa/PR
Marcos Correa/PR
O ex-presidente Bolsonaro e o ex-ministro e ex-secretário Anderson Torres, cada vez mais enrolados

São Paulo – A Polícia Federal (PF) encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres a minuta de um projeto golpista do então presidente Jair Bolsonaro (PL). O documento, que estava em um armário na residência, alvo de mandado de busca e apreensão na última terça-feira (10), é um rascunho de decreto para Bolsonaro implementar uma medida cujo objetivo era mudar o resultado da eleição.

Trata-se de tentar instituir o chamado estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na prática, uma intervenção sob pretexto de apurar supostos abuso de poder, suspeição e medidas ilegais que seriam atribuídas à presidência do tribunal durante o processo eleitoral. No caso, o ministro Alexandre de Moraes.

Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, já confirmada por outros veículos da mídia tradicional do país, o material teria sido produzido após a confirmação da vitória de Lula no segundo turno, em 30 de outubro.

Torres e o terrorismo em Brasília

Torres, então ministro da Justiça de Bolsonaro, foi nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal pelo governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) e tomou posse em 2 de janeiro. Porém, em vez de assumir o cargo, resolveu antecipar férias e viajou aos Estados Unidos. Assim, ele estava fora do país no último domingo (8), quando terroristas bolsonaristas destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

Exonerado, o ex-ministro e agora ex-secretário teve ordem de prisão decretada por decisão do STF, que ontem (11) ratificou ação de Alexandre de Moraes. Ao saber do mandado de prisão expedido, Torres disse, por meio de uma rede social, que tomou “a decisão de interromper minhas férias e retornar ao Brasil. Irei me apresentar à justiça e cuidar da minha defesa”. Mas ainda não retornou.

Sobre a minuta, disse, também pela rede social, que a minuta de golpe encontrada em seu armário está sendo divulgada “fora do contexto”. “Havia em minha casa uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado. Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP. O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá… e vazado fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra mim. Fomos o primeiro ministério a entregar os relatórios de gestão para a transição. Respeito a democracia brasileira. Tenho minha consciência tranquila quanto à minha atuação como Ministro.”

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