Reação democrática

Lula critica Bolsonaro e chama terroristas de ‘aloprados’ ao receber decreto de intervenção

Em encontro com parlamentares, presidente da República disse que intervenção no Distrito Federal só foi necessária porque os que poderiam conversar “faziam parte daqueles que estavam praticando vandalismo”

TV Brasil/Reprodução
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"Quero que vocês saibam que qualquer gesto que contrarie a democracia brasileira será punido dentro daquilo que a lei permite punir", acrescentou Lula sobre o decreto de intervenção federal

São Paulo – Em encontro com parlamentares, nesta quarta-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a falta de diálogo e a inação que tornou necessária a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. Ao receber o decreto legislativo que aprovou a medida na Câmara e no Senado, na véspera, Lula admitiu, sem citar nomes, que “sinceramente não gostaria de ter feito uma intervenção, e sim conversado”. 

“Mas as pessoas que estavam lá não estavam dispostas a sequer conversar, porque eles faziam parte daqueles que estavam praticando vandalismo no Brasil”, afirmou o presidente. A declaração do petista está alinhada a do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, nomeado interventor, que apontou quebra de confiança do governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) e do agora ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres. Ex-ministro da pasta no governo de Jair Bolsonaro (PL), Torres também foi acusado de sabotagem. 

Aos deputados e senadores que acompanhavam a entrega, entre eles, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Lula também agradeceu a aprovação da intervenção como uma medida para “garantir que a democracia continue sendo o sistema de funcionamento da política brasileira, a respeitabilidade pelo direito dos outros. (…) Quero que vocês saibam que qualquer gesto que contrarie a democracia brasileira será punido dentro daquilo que a lei permite punir. Todo mundo terá direito de se defender, à prova da inocência, mas todo mundo será punido”, acrescentou o presidente. 

‘Aloprados’

Durante o encontro, Lula reforçou que as investigações sobre os atos terroristas que depredaram as sedes dos Três Poderes, no último domingo (8), seguirão. O decreto de intervenção – que deve valer até o dia 31 – segundo Lula, mostra que é preciso “punir quem não respeita a lei”. As apurações devem incluir as torres de transmissão em Rondônia e no Paraná, derrubadas há três dias. As empresas do setor também reportaram “indícios” de vandalismo e sabotagem.

O presidente, contudo, também fez críticas à postura de Bolsonaro que segue, dois meses depois, sem reconhecer a derrota nas urnas em outubro. Lula lamentou a conduta do ex-mandatário que, na noite de ontem (10), publicou em seu perfil no Facebook vídeo com novas informações falsas sobre o processo eleitoral brasileiro. A postagem foi apagada logo depois. Mas, conforme reportou a RBA mais cedo, mesmo com pouco tempo no ar, ela passou a ser replicada por bolsonaristas. 

No vídeo, um homem identificado como doutor Felipe Gimenez afirma que “Lula não foi eleito pelo povo”. E que teria sido “escolhido e eleito pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”. Apesar de as urnas comprovarem que o petista venceu o pleito presidencial com 50,9% dos votos válidos contra 49,1% de Bolsonaro. Lula aproveitou para minimizar a horda de terrorista como um “grupo de aloprados” e de “gente com pouco senso de ridículo”. 

Confiança nas urnas

“Já entraram na Justiça e a Justiça já disse qual foi o resultado eleitoral. (Ela) ainda indeferiu o processo e condenou o partido que entrou com o questionamento (das eleições) a pagar uma multa grandiosa e do fundo partidário. Mesmo assim tem gente que quando conta a primeira mentira não consegue mais parar de mentir, porque é preciso justificar a primeira mentira pelo resto da vida. E é o que está acontecendo nesse país”, resumiu Lula.

“Eu até não gostaria de pensar em golpe, eu gostaria de pensar em uma coisa menor, quem sabe, um grupo de pessoas alopradas que ainda não entenderam que a eleição acabou, que ainda não querem aceitar que a urna eletrônica é o modelo eleitoral mais perfeito que a gente tem em todos os países do mundo. Eu sei porque eu viajo muito e em todos os lugares que a gente conta como funciona o processo eleitoral aqui no Brasil, todo mundo fica com inveja de que a gente pode saber do resultado eleitoral apenas duas horas depois das eleições. E que em pouquíssimos momentos da história houve qualquer questionamento ao resultado eleitoral”, acrescentou o petista. 

Sobre o decreto 

A medida de intervenção federal foi assinada no domingo pelo governo federal, após os atos golpistas de bolsonaristas. Relatado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 1/23 foi aprovado ontem pela Casa em votação simbólica, sem a necessidade de contar os votos. Mesmo assim, o PDL contou com ampla adesão, com apenas oito senadores contrários. Entre eles, o senador Flávio Bolsonaro, filho “01” do ex-presidente. 

Ao comentar a decisão, o senador Veneziano Vital do Rego, que substitui Rodrigo Pacheco (PSD-MG), isolado para exames após viagem ao exterior, defendeu a intervenção como uma “alternativa única”. Para o parlamentar, a decisão presidencial pela intervenção identificou o que ficou constatado como “acefalia completa do órgão de segurança (do DF) para conter os atos que terminaram consumando-se em desfavor do povo brasileiro. Numa agressão inominável e abominável às três sedes de poder”, descreveu o emedebista. 

O presidente da Câmara, onde a medida também recebeu aval em votação simbólica, afirmou que o plenário do Legislativo demonstrou que “estava de pé, ouvindo e repudiando os atos que foram praticados de vandalismo e de ofensa às instituições e à democracia brasileira”. Ao entregar o decreto a Lula, Lira ressaltou que os atos de terrorismo exigirão uma “reflexão futura” para “nunca sair de nossas memórias o risco que o Brasil sofreu e superou”, discursou. 

Sem terror e fascismo

Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aproveitou para destacar o encontro desta quarta como uma união dos Três Poderes “ao terror e o fascismo” no Brasil. Em um discurso mais duro, Randolfe frisou que os “terroristas, estejam onde estiverem, ou sejam quem for” podem ter a “certeza que aqueles democratas do país, liderados pelo presidente Lula, reagirão para defender a Nação atacada e a democracia”, garantiu. 

“Esse país tem espaço para todas as posições políticas, à direita, à esquerda, ao centro. Agora, este país não tem e não terá espaço para o fascismo e o terror. O fascismo e o terror só cabem na história em uma posição, a posição do combate e enfrentamento”, finalizou o senador. 


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