Parlamentares não chegam a acordo sobre prorrogação da CPMI do Cachoeira

Reunião no Congresso posterga para o dia 30 uma definição sobre o encerramento, a extensão dos trabalhos por 30 dias ou por um prazo maior

Deputados e senadores divergem sobre o tempo necessário de prorrogação dos trabalhos (Foto: Nilson Bastian/Ag. Câmara)

São Paulo – Acabou sem acordo a reunião de líderes parlamentares realizada na tarde de hoje (16), que decidiria sobre a prorrogação dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários. Embora haja um indicativo de que os trabalhos serão prorrogados, os parlamentares marcaram uma nova reunião para o dia 30 de outubro para definir quanto tempo será necessário para a conclusão da CPMI. Atualmente, o prazo para conclusão das investigações é 4 de novembro.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), se a CPMI for encerrada no prazo previsto inicialmente, as investigações serão prejudicadas. “Nossa intenção é prorrogar por 180 dias para que não se aborte a investigação de pontos importantes, em especial a questão dos laranjas da Construtora Delta, que tem de 12 a 25 requerimentos pendentes. Nós vamos seguir coletando assinaturas para garantir esse prazo de prorrogação”, afirmou Rodrigues. Na tarde de hoje, a assessoria do candidato informou que já haviam sido coletadas 14 assinaturas no Senado.

O vice-presidente da Comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), acredita que não há necessidade de tanto tempo para concluir as investigações. “Nós estamos trabalhando com a possibilidade de prorrogar os trabalhos da CPMI até o final do ano, mas isso vai ser decidido mesmo no dia 30”, disse Teixeira. O deputado evitou falar sobre uma possível convocação do diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, Policarpo Júnior, flagrado em escutas da Polícia Federal conversando com o bicheiro e outros integrantes da quadrilha.

O relator do colegiado, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que não houve dificuldade para chegar ao consenso de que o melhor seria retomar as conversas logo após o segundo turno das eleições municipais. “Eu disse que queria apresentar o relatório depois da eleições do segundo turno, para evitar contaminação das disputas eleitorais e para que o relatório não fosse usado como instrumento de disputa em nenhum caso”, disse em entrevista à agência Reuters.

A reunião para tratar sobre a prorrogação dos trabalhos ocorrerá um dia antes da análise dos mais de 500 requerimentos pendentes que aguardam apreciação dos parlamentares. Dentre eles está a convocação de Policarpo, evitada até agora por atuação de deputados e senadores de PDT e PMDB. Nas ligações interceptadas há indícios do uso de notas e matérias da revista Veja para auxiliar as operações do grupo de Cachoeira.

A CPMI do Cachoeira iniciou seus trabalhos em 25 de abril deste ano. O bicheiro havia sido preso no final de fevereiro. Durante as investigações, escutas telefônicas apontaram relações entre Cachoeira, o então senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o dono da Construtora Delta, Fernando Cavendish, e assessores e secretários dos governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

O senador Demóstenes Torres teve seu mandato cassado em julho por quebra de decoro parlamentar. Agnelo e Perillo foram ouvidos pela comissão e negaram relações com o bicheiro. Fernando Cavendish foi convocado, mas permaneceu calado durante toda a sessão. Sérgio Cabral não chegou a ser chamado a depor na CPMI.