análise

Para Valter Pomar, eleições serão ‘disputa duríssima’, mas PT deve ganhar

Secretário-executivo do Foro de São Paulo e dirigente nacional do PT vê necessidade de se evitar infiltração conservadora e provocação policial em manifestações durante a Copa do Mundo

Divulgação/Articulação de Esquerda

Para Pomar, se Brasil perder a Copa meios de comunicação e a direita vão tentar usar contra o governo

São Paulo – A pouco mais de duas semanas do início da Copa do Mundo em São Paulo, o governo da presidenta Dilma Rousseff está sob a expectativa de como protestos e manifestações podem influir no sucesso do maior evento do futebol mundial e suas implicações políticas em ano de eleições.

Para Valter Pomar, dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores, há três “situações” envolvendo grupos que prometem fazer protestos contra a Copa: os setores sociais “prejudicados pelos governos estaduais ou empresas envolvidas com obras da Copa”, movimentos sociais “com história e organização, que pretendem aproveitar o ambiente da Copa para alavancar suas reivindicações” e segmentos que “consideram a Copa como uma ‘síntese negativa’ da política do governo federal”.

Na visão de Pomar, “o que precisa ser evitado é a combinação perversa entre a infiltração de direita e a provocação policial, com o objetivo de criar um ambiente de caos”.

Sobre as eleições, ele prevê “uma disputa duríssima” no segundo turno. “Mas vamos ganhar”.

Pomar diz que, “do ponto de vista formal, a direção partidária está empenhada” na reforma política, eleita pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, como o principal tema de um eventual segundo mandato de Dilma, juntamente com uma legislação que garanta a democratização do sistema de comunicações. Mas, para ele, na prática, “não se pode dizer o mesmo” sobre a vontade da cúpula petista de ver as duas mudanças levadas adiante.

Leia entrevista à RBA do dirigente petista e membro da tendência Articulação de Esquerda.

Qual sua opinião sobre a questão “Lula ou Dilma?” Ou o “volta Lula”, questão que lideranças do PT evitam em público mas que é bastante debatida no partido?

Não é verdade que o tema seja bastante debatido no partido. Não houve uma única reunião da direção partidária em que alguém tenha proposto debater isto, muito menos trocar de candidato. Lembre-se que o PT é um partido de massas e um partido democrático, sempre há alguém tendo alguma ideia, na maioria das vezes boas ideias. Agora, não podemos conferir status de “tema bastante debatido” para cada vez que alguém tem uma ideia sobre algo. Isto me lembra a discussão sobre o Lula pleitear um terceiro mandato: a imprensa dizia a mesma coisa que diz hoje acerca do “volta Lula”, que havia um debate intenso etc. No final, não havia nada. E não havia nada pelo mesmo motivo que agora não há intenso debate: a Dilma vai ganhar as eleições. No segundo turno, numa disputa duríssima, mas vamos ganhar. Só a oposição tem interesse em alimentar esta discussão sobre troca de candidato.

Rui Falcão tem insistido na necessidade de se investir na reforma política e no marco regulatório dos meios das comunicações. Desta vez o PT está mais empenhado nessas reformas estruturais?

Do ponto de vista formal, a direção partidária está empenhada. Mas, do ponto de vista prático, não se pode dizer o mesmo. O governo continua fugindo do assunto e, pior, continua sustentando com propaganda institucional empresas que assassinam a verdade todo dia, tipo Veja e Globo. E a maior parte do PT ainda não está engajada na campanha de assinaturas do Projeto de Lei de Iniciativa Popular por uma Lei da Mídia Democrática. Ou seja: formalmente há mais empenho, praticamente ainda estamos devendo.

A defesa da reforma política é uma estratégia eleitoral para se mostrar diferente dos demais partidos? Por que não se investiu politicamente nisso antes?

Existe um setor do PT que é contra a reforma política. É o caso do Cândido Vaccarezza, pessoa cuja candidatura a federal em 2014 pedimos impugnação. E há um outro setor que considera que a reforma é essencial, mas é difícil de sair, então falamos dela mas não exageramos na mão. No recente Encontro Nacional do PT, dias 2 e 3 de maio, a maioria dos delegados e delegadas derrotou uma resolução que propunha vincular as alianças à defesa da reforma política. A soma destes dois grupos, o que não quer e o que apenas quer, fizeram com que o PT não investisse politicamente neste tema como devido, antes. O problema é que a realidade conspira a favor dos que defendem que ou fazemos uma reforma, ou a estratégia do PT estará condenada ao fracasso, pois sem reforma nos converteremos num partido que defende reformas institucionais mas que nunca conseguirá maioria institucional.

A que você atribui o fato de o partido ter ficado 11 anos e meio no poder e ainda não ter feito reformas estruturais (comunicações, política e tributária), uma das principais críticas de movimentos sociais e lideranças como do PSOL?

Ao fato da maioria do PT, não todo o partido, ter adotado até agora uma estratégia de aliança com o grande empresariado, em nome de combater o neoliberalismo. O resultado prático disto foi um conjunto de concessões, não apenas na política econômica, mas também na política e no programa estratégico. Por exemplo: como defender reforma agrária radical e ao mesmo tempo aliar-se com o agronegócio em nome de gerar divisas para o país?

Do ponto de vista jurídico e político, você acredita na proposta de plebiscito e Constituinte exclusiva? Há juristas que dizem que isso é uma proposta juridicamente inviável…

Não existe nada juridicamente inviável. O que pode existir são propostas jurídicas que não têm suficiente apoio político. Juridicamente minha tese é a seguinte: a Constituição prevê mecanismos de alteração da própria Constituição. Esta cláusula que define estes mecanismos não é cláusula pétrea. Ou seja, o próprio Congresso pode, por maioria, alterar os mecanismos de alteração constitucional. Politicamente, minha tese é a seguinte: ou fazemos isto, ou o fosso entre o que o país precisa e o que as instituições são capazes de dar vai nos levar a uma crise cada vez mais profunda.

Como avalia o Encontro Nacional realizado no Anhembi dias 2 e 3 de maio?

Avalio negativamente. Os encontros do PT não podem se converter em convenções que se reúnem para ouvir meia dúzia de líderes falarem. Tem que haver debate. E o debate precisa ter maior qualidade política e programática.

Como vê o governo Dilma de modo geral e, em particular, as críticas (inclusive de economistas de esquerda) segundo as quais ela está “quebrando” a Petrobras com a política de segurar os preços dos derivados de petróleo por motivo eleitoral?

Economista de esquerda que adere à tese de que o governo está quebrando a Petrobras não é economista de esquerda: aderiu à tese de que a Petrobras deve ser governada como se fosse uma empresa privada, não uma estatal a serviço dos interesses nacionais e populares.

A menos de três semanas da Copa do Mundo, permanece a ameaça de protestos e manifestações do tipo #NãoVaiTerCopa. O que acha desses protestos?

Acho que há situações diferentes. Existem setores sociais que foram prejudicados pelos governos estaduais ou pelas empresas envolvidas com obras da Copa. Por exemplo, no Rio de Janeiro, pessoas que foram removidas de suas casas. Uma outra situação é a de movimentos sociais reconhecidos, com história e organização, que pretendem aproveitar o ambiente da Copa para alavancar suas reivindicações setoriais. Os governos devem negociar com estes dois setores. Já uma terceira situação é a daqueles segmentos que consideram a Copa como uma “síntese negativa” da política do governo federal. O tratamento que deve ser dado a estes segmentos depende de como vão se comportar. O que precisa ser evitado é a combinação perversa entre a infiltração de direita e a provocação policial, com o objetivo de criar um ambiente de caos.

O Brasil ganhar ou perder a Copa pode influir nas eleições?

Falando em tese, penso que, se o Brasil ganhar a Copa, não influi. Mas se o Brasil perder, os meios de comunicação e a direita vão tentar usar contra o governo. Por isto a direita torce pela derrota do Brasil.