Para Marta Suplicy, mulher na Presidência é oportunidade que não pode ser desperdiçada

A senadora Marta Suplicy e a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira durante palestra (Foto: Jailton Garcia/Seeb-SP) São Paulo – A senadora Marta Suplicy (PT-SP) compara […]

A senadora Marta Suplicy e a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira durante palestra (Foto: Jailton Garcia/Seeb-SP)

São Paulo – A senadora Marta Suplicy (PT-SP) compara o impacto da chegada de uma mulher à Presidência da República à conquista do direito feminino ao voto. Em evento na noite desta segunda-feira (14) na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ela mostrou otimismo com os avanços na busca por igualdade de direitos na sociedade, embora reconheça que haja desafios grandes pela frente, como a participação legislativa e nos espaços de poder político.

Marta lembrou que a chegada de Dilma Rousseff ao cargo máximo do Executivo federal foi decisivo para outros avanços. “A eleição da Dilma abriu uma porta que eu não imaginava. Em um mês, tivemos vice-presidentas eleitas na Câmara e no Senado”, exemplificou. “(Como vice no Senado) tenho meus méritos, mas estou no cargo porque sou mulher”, celebra.

As nove ministras – das 37 pastas do governo federal –, a diretora-geral do Senado e a chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro também foram citadas como exemplos. “Para escalar o ministério, a Dilma teve de suar para conseguir essas nove, porque isso passa pela negociação com os partidos, e as mulheres não têm poder partidário”, sustenta.

Marta lembrou o episódio contado por Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral. Em um aeroporto, a então candidata foi questionada por uma menina se “a mulher pode”. “Ela até demorou para entender a pergunta, mas hoje (após a posse) ninguém duvida de que a mulher pode, sim”, garante.

Ela se disse ansiosa para conhecer os resultados de pesquisas nos próximos anos sobre os efeitos do fato de Dilma estar à frente do país. Apesar de países vizinhos como o Chile e Argentina já terem mandatárias, Marta acredita que, por ser um país de dimensões continentais, o impacto será diferente.

O evento foi organizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e transmitido pela Rede Brasil Atual via Twitcam. A palestra incluiu a programação da entidade para o mês das mulheres. Antes da palestra de Marta, foi feito um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do terremoto e do maremoto no Japão.

Reforma política

Na visão de Marta, o debate sobre reforma política precisa considerar a ampliação da participação feminina, já que apenas 14,8% das cadeiras do Senado e 8,7% da Câmara são ocupadas por mulheres. Ela critica a possibilidade de adoção do voto distrital, em que seriam eleitos apenas o candidato mais votado em cada distrito do país, independentemente de coeficientes partidários.

“Se isso vigorar, só vão ganhar os mais ricos, e todos homens”, antevê. “Pior: vão escalar mais gente da mídia para ganhar a eleição”, completa. Marta afirma ter achado estranho o debate sobre a questão por tomar esse rumo.

A senadora defende o modelo de voto em lista partidária definida por cada legenda com alternância de gêneros. “Mesmo entre aqueles que defendem voto em lista, ninguém propõe a alternância”, questiona. “Nós nem precisamos encabeçar a lista, que pode começar com um homem. Mas, depois, tem de vir uma mulher”, resume. O modelo garantiria uma ampliação significativa de mulheres no Legislativo com efeitos bem mais profundos do que a atual cota de 30% de candidaturas femininas.

Ela atribui a três principais motivos a baixa presença de mulheres no Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais atualmente. Primeiro, os partidos não ajudam a expandir essa participação. De outro, elas não têm recurso. Por fim, há o aspecto cultural.

“Há sempre quem fale ‘elas não querem’. Como parlamentar, percebi que deputadas e senadoras são ou mulher de político, ou viúva ou separada, porque a vida que temos e do jeito que funciona o cotidiano, é muito difícil”, avalia. Como exemplo do entrave cultural, Marta cita o fato de que, enquanto as mulheres de políticos comumente se mudam para Brasília, os maridos muito raramente deixam sua terra natal, assim como os filhos.