À espera de punições

O 8 de janeiro foi resultado de várias ações estimuladas e não acabou, afirma relatora ao entregar documento à CGU

Cópias do parecer final da CPMI também foram levadas ao Supremo e à Procuradoria-Geral da República

Reprodução YouTube
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Eliziane e Vinícius: democracia exige vigilância contínua

São Paulo – Ao entregar ao ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, o relatório da chamada CPMI dos atos golpistas, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) afirmou o 8 de janeiro “não foi um dia em si propriamente dito”. “Ele é resultado de várias ações que vieram sendo incentivadas e orientadas em discursos”, disse a parlamentar. Segundo ela, o “discurso de ódio” incentivou ações golpistas. O parecer final propôs indiciamento de 61 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e oito generais.

Ainda nesta terça-feira (24), Eliziane entregou o documento também à procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos. E declarou estar “absolutamente otimista” de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentará novas denúncias. O relatório foi aprovado na semana passada.

Impunidade é combustível

“Levamos cinco meses de trabalho, ouvimos dezenas de pessoas, foi um trabalho muito intenso, com dezenas de quebras de sigilo. Um trabalho de muita robustez”, disse Eliziane na CGU, ao lado da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e do deputado Rogério Correia (PT-MG). “O combustível para a perpetuação do crime é a impunidade”, acrescentou a parlamentar, que denunciou ameaças devido à atuação na CPMI.

Ela destacou ainda as sentenças já proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre prisão de participantes dos ataques e seu “efeito pedagógico”. Mas a vigilância precisa ser contínua. “Também precisamos entender que o 8 de janeiro não acabou.” Ao receber o relatório, o presidente do STF, Aleandre de Moraes, disse que incluirá o documento nos inquéritos da Corte.

“Filhos ideológicos” da linha dura

Jandira classificou o relatório “profundamente denso, robusto, para continuidade da investigação e para a gente dar à sociedade a resposta que ela espera”. Ela chegou a fazer comparação com a Lei de Anistia aprovada em 1979, no sentido de que agentes do Estado não foram punidos por violações graves a direitos humanos durante a ditadura. Por causa disso, afirmou, gerações da chamada linha dura e seus “filhos ideológicos” seguem atuantes até hoje.

Segundo ela, os adeptos do golpe “apostaram na teoria do caos”. A deputada citou várias iniciativas nesse sentido: torres de energia derrubadas, tentativa de entrar na Polícia Federal, ataque ao hotel onde se encontrava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocupação de rodovias e acampamentos diante de quartéis (“O Exército nada faz para retirá-los”) e a tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília. “Os financiadores estão nesse relatório, a milícia digital, outros tantos do núcleo duro”, disse Jandira.

O ministro da CGU, por sua vez, lembrou que este é o período mais longo de vigência do regime democrático na história do país. Sem apontar nomes, citou as dificuldades impostas a parte do eleitorado em 2022, com muita gente caminhando sob sol forte para poder votar. “Isso é cidadania, é vontade de viver num país democrático, de fazer a vontade do povo prevalecer.” Falou ainda em “derrama” no auxílio consignado e “completo descontrole” do Cadastro Único, entre outros fatores. “Tudo isso contribui para esse enredo que eu acho que a CPI relata.”


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