"Guerra é guerra"

Novo advogado de Cid admite usar delação premiada: ‘Vamos fazer o que for necessário’

Cezar Bitencourt, que vai defender ex-ajudante de ordens, já foi crítico da prisão de Lula e chamou criminosos que invadiram Brasília no 8 de janeiro de “asseclas de Jair Bolsonaro”

Reprodução (Youtube/CNN) e Alan Santos/PR (detalhe)
Reprodução (Youtube/CNN) e Alan Santos/PR (detalhe)
Novo advogado de Cid, Cezar Bitencourt terá tarefa árdua para minimizar efeitos da relação do cliente com Bolsonaro

São Paulo – As coisas podem estar se deteriorando entre as famílias de Jair Bolsonaro e de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente brasileiro até dezembro de 2022. É o que parece indicar entrevista do novo advogado de Cid, Cezar Bitencourt, nesta quarta-feira (16). O defensor declarou não gostar de delação premiada, mas acrescentou que não descarta usar o instrumento. Esse seria o pior pesadelo do ex-presidente.

“Sou crítico (à delação). É uma aberração, na verdade. Mas se for necessário, a gente não abre mão. Guerra é guerra, né? Vamos fazer o que for necessário”, disse Bitencourt à GloboNews. Ele assumiu a defesa do ex-auxiliar de Bolsonaro ontem. É o terceiro que trabalha na defesa de Cid. Segundo ele, como seu cliente é um militar, apenas “cumpre ordens”.

Cezar Bitencourt demonstra ter posições progressistas. Em ocasiões diferentes, na imprensa, foi crítico da prisão de Lula, afirmou que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade e chamou os criminosos que atacaram Brasília no 8 de janeiro de “asseclas de Jair Bolsonaro”.

“Assessor cumpre ordens”

“Alguém mandou, alguém determinou, ele é só o assessor. Assessor cumpre ordens. Vamos examinar os fatos, saber quem é quem, até onde vai a responsabilidade de um e de outro”, anunciou Bitencourt. Disse mais: “Ordem ilegal, ordem injusta, militar cumpre também. Acho que não pode é cumprir ordem criminosa. Vamos avaliar onde apareceu, se apareceu, se ele tinha consciência disso, mas são questões de foro íntimo”.

Bitencourt assumiu o lugar do advogado Bernardo Fenelon, que defendeu Cid até se tornarem públicos os documentos da Polícia Federal que incriminam diretamente o ex-chefe da Ajudância de Ordens, além de outros militares e o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef. 

Fenelon, que é especialista em acordos de delação premiada, alegou “quebra de confiança” entre ele e seu cliente depois da revelação – com extenso material de provas – de que Cid estava tentando vender um Rolex dado a Bolsonaro pela monarquia da Arábia Saudita, entre outras negociações de bens pertencentes ao Estado brasileiro.

Cid “servia para tudo”

O novo advogado de Cid falou também à CNN. “Mauro Cid, como assessor, segue ordens, cumpre ordens do chefe. Não tinha como se desvincular. Ele assessorava o presidente numa variedade de situações, além inclusive da função oficial. Quer dizer, ele servia para tudo”, afirmou. Depois, tentou amenizar as óbvias implicações do que disse, ao ser questionado a respeito de quem seriam as ordens que Cid obedecia.

“Eu não sei se o Bolsonaro não tinha, por exemplo, um vice-presidente, um secretário, um ministro lá que dava essas ordens. Temos que verificar de quem eram essas ordens que eram dadas para o Mauro Cid”, acrescentou Bitencourt.

O primeiro advogado que defendeu o tenente-coronel Cid foi o criminalista Rodrigo Roca, que era muito próximo ao clã Bolsonaro e passou a não ser de confiança da família de Cid, pois estaria protegendo a família do ex-presidente, em vez de defender Cid.

Mercado de advogados em alta

A busca por advogados está intensa no meio bolsonarista. Ontem (14), foi divulgado que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro contratou o criminalista Daniel Bialski para representá-la na investigação do escândalo das joias.

Bialski é advogado da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A decisão ocorreu após a Polícia Federal (PF) pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Michelle e de Bolsonaro (PL).

Há duas semanas, Zambelli foi alvo da  Operação 3FA da PF, quando  agentes estiveram no apartamento funcional da parlamentar e em seu gabinete, em Brasília, em investigação sobre suas ligações e ações junto ao hacker Walter Delgatti Neto, que foi preso.

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