Defesa em vaivém

Novo advogado de Mauro Cid é falante, tem comportamento errático e nega que recebeu ameaça

Mal assumiu defesa do ex-ajudante de ordens, Cezar Bittencourt passou a dar entrevistas antes mesmo de conhecer seu cliente. Disse que Cid cumpria ordens do presidente, mas subitamente recuou

Roque de Sá/Agência Senado
Roque de Sá/Agência Senado
Bernardo Fenelon (à esq.) deixou a defesa de Mauro Cid por suposta quebra de confiança

São Paulo – A defesa do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, passa por momento enigmático. Não é possível saber quais serão os próximos passos de Cezar Bittencourt, novo advogado do auxiliar do ex-presidente. No fim de semana passado, tornou-se público que Bernardo Fenelon, segundo profissional contratado a defender Cid, havia deixado o cliente por suposta quebra de confiança.

Oficialmente, Fenelon citou “razões de foro íntimo” para renunciar à causa. Na mídia, circularam informações de que o entorno de Bolsonaro estaria muito incomodado com ele, um advogado conhecido por ser especialista em acordos de delação premiada.

A renúncia se deu logo depois da Operação Lucas 12:2, da Polícia Federal, que bateu às portas do próprio Mauro Cid e do pai dele, o general do Exército Mauro César Lorena Cid, que estariam envolvidos no esquema de venda de joias.

Um advogado loquaz

Fenelon foi substituído por Bitencourt, que, como se diz na gíria, “chegou chegando”. Verborrágico, não se intimidou diante da tarefa desafiadora e quarta-feira (16), dia seguinte ao que assumiu o caso, já dava entrevistas a GloboNews e CNN para falar da missão. Advogados envolvidos em casos dessa magnitude não costumam falar com facilidade.

À GloboNews, ele disse que, como militar, Mauro Cid apenas “cumpre ordens”, e era isso o que fazia na função de faz-tudo de Bolsonaro e sua esposa, Michelle. Ao comentar o escândalo das joias e as negociações para vender patrimônio do país como bem privado, declarou: “Alguém mandou, alguém determinou, ele é só o assessor. Assessor cumpre ordens. Vamos examinar os fatos, saber quem é quem, até onde vai a responsabilidade de um e de outro”.

À CNN, na mesma linha, declarou que “Mauro Cid, como assessor, segue ordens, cumpre ordens do chefe”. Como o único chefe conhecido do cliente do advogado de 2019 a 2022 era Bolsonaro, as falas de Bitencourt renderam incontáveis manchetes. “O que ele fazia? Assessorava. Assessorava quem? O presidente”, disse à emissora. Esclareceu ainda que sequer conhecia o novo cliente, o que aconteceria na noite daquela quarta-feira.

A bomba da quinta-feira

Já na quinta (17), surgiu, via revista Veja e O Estado de São Paulo, a “bomba” de que o militar “decidiu confessar”. As informações davam conta de que o tenente-coronel Mauro Cid iria dizer à Polícia Federal que houve um esquema de venda ilegal de joias presentadas por governos de outros países ao Brasil. Se confirmada, a notícia teria o condão de desmantelar o clã Bolsonaro.

No entanto, à Folha de S. Paulo, o advogado também concedeu outra entrevista, publicada no final da tarde da mesma quinta, e afirmou que iria parar de falar à imprensa porque “você irrita o outro lado”. “É bom não cutucar abelha com vara curta”, disse.

O recuo

Em mensagem enviada ao jornal O Estado de S. Paulo na madrugada de sexta-feira (18), Bitencourt havia declarado: “Não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da Veja, não se falou em joias”.

Por fim, na mesma sexta, o loquaz advogado concedeu nova e longa entrevista à GloboNews. Para surpresa da bancada de jornalistas, consolidou o recuo claramente e afirmou não ter dito a Veja que Bolsonaro era quem dava ordens no caso das joias, mas que o ex-presidente disse apenas para “resolver um problema” na questão do relógio Rolex.

A jornalista Andréia Sadi, então, perguntou diretamente a Bitencourt se “aconteceu alguma coisa de ontem (quinta) para hoje” e se o advogado recebeu alguma ameaça. “Não. Não recebi ameaça nenhuma, apenas faço o meu trabalho”, respondeu.

Em ocasiões diferentes, Bitencourt citicou a prisão de Lula, já afirmou que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade e classificou os criminosos que atacaram Brasília no 8 de janeiro de “asseclas de Jair Bolsonaro”. Agora, assume a defesa de Mauro Cid.


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