Casa caiu

Bolsonaro ‘não pegou porque não valia nada’, disse Mauro Cid em mensagem sobre esculturas

Em relatório que embasou decisão de Alexandre de Moraes, Polícia Federal destaca que identificou “cinco eixos principais de atuação da organização criminosa”

Reprodução
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Bolsonaro recebe árvore dourada sem valor, em 16/11/2021, em evento na cidade de Manama, no Bahrein

São Paulo – Na decisão em que autoriza operações de busca e apreensão contra Mauro Barbosa Cid (ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro), o general do Exército Mauro César Lorena Cid (pai de Mauro Cid), o advogado Frederick Wassef e o também ex-ajudante de ordens Osmar Crivelatti, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, destaca que a Polícia Federal ressaltou que “foram identificados cinco eixos principais de atuação da referida organização criminosa”.

São eles:

  • ataques virtuais a opositores;
  • ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico devotação e à higidez do processo eleitoral;
  • tentativa de Golpe de Estado e Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia;
  • e uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.

No longo despacho de 105 páginas, o ministro cita que a Polícia Federal destaca, entre inúmeras provas, mensagens trocadas entre MAURO CID e o assessor de Bolsonaro Marcelo Camara, no dia 18/1/2023, que, segundo as investigações da PF, “revelam o objetivo de tentar vender as esculturas douradas e a existência de recursos em dólar, supostamente de propriedade de Jair Bolsonaro, em posse do General Mauro Lourena Cid”. Leia a íntegra da decisão de Alexandre de Moraes.

Era melhor “esse dinheiro levar em cash”

Em áudio acessado pela PF, o inquérito aponta: “O conteúdo do áudio revelou, inicialmente, que o General Mauro Lourena Cid estaria com 25 mil dólares, possivelmente pertencentes a Jair Bolsonaro. Na mensagem, Mauro Cid deixa evidenciado o receio de utilizar o sistema bancário formal para repassar o dinheiro ao ex-Presidente e então sugere entregar os recursos em espécie, por meio de seu pai, diz: ‘Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor ne?” (mantida grafia original).

O texto com as citações do que a PF apurou são riquíssimos em elementos probatórios. Mauro Cid e seu pai sabiam perfeitamente com o que lidavam. Em uma das inúmeras trocas de mensagens, o ajudante de ordens diz que determinadas esculturas não tinham valor, e, por isso, Bolsonaro “não pegou”.

No dia 4 de janeiro de 2023, em conversa com o pai, Mauro Cid pede para ele “não esquecer de tirar fotos” de peças a serem negociadas. Em uma das fotos encaminhada pelo general Lourena Cid, recuperada pela PF, “é possível ver o reflexo de seu rosto na caixa” (veja imagem), relata a PF, numa passagem que evidencia que o próprio general se autodenuncia.

“Não é nem banhado, é latão”

Em outra mensagem, Cid explica que esculturas reproduzindo uma palmeira e um barco, ganhas em evento do Bahrein, não tinham valor e portanto Bolsoanro não quis:

Os elementos colhidos evidenciaram que as esculturas foram evadidas do Brasil, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30 de dezembro de 2022. Em seguida, com auxílio de seu pai, o General Mauro Cesar Lourena Cid, Mauro Cid encaminhou os bens para vários estabelecimentos especializados nos Estados Unidos, para avaliação e tentativa de venda. No entanto, os bens não possuíam o valor patrimonial esperado pelos investigados, fato que frustrou a alienação das esculturas. Isso ficou evidenciado em mensagem de áudio enviada por Mauro Cid a Marcelo Camara, na data de 01 de março de 2023, explicando o motivo do exPresidente Jair Bolsonaro não ter pego as esculturas quando se encontrou com o General Lourena Cid em Miami, diz: “Não. Ele não pegou porque não valia nada. Então tem (…) tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é… não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai, vai levar pro Brasil na mudança (…)” (mantida grafia original).