Rejeição e desespero

Bolsonaro deve seguir cartilha trumpista e causar barulho e instabilidade, diz professor

Para cientista político Paulo Niccoli Ramirez, pesquisa Ipec deve empurrar Bolsonaro para conduta de desespero

Lucio Távora/Xinhua
Lucio Távora/Xinhua
Metade do eleitorado (50%) afirma que não votará no presidente de jeito nenhum

São Paulo – A 12 dias das eleições, o direcionamento do voto do eleitor indeciso tender a favorecer o voto útil pela eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno. É o que avalia o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo em entrevista ao Jornal Brasil Atual. Ramirez leva em conta a nova pesquisa Ipec, divulgada ontem (19), sobre a eleição presidencial, que confirma a migração de votos nesta reta final de campanha.

O levantamento mostrou Lula com 47% das intenções de voto, enquanto a soma dos adversários chega a 45%. Desse modo, com 52% dos votos válidos, se fortalece a chance de vitória do petista em 2 de outubro. O candidato cresceu 1 pontos percentual na nova pesquisa Ipec em comparação com a realizada uma semana antes. Jair Bolsonaro (PL) seguiu com 31%. 

“Mesmo aqueles que votariam em Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), ou qualquer outro candidato, desde que tenham um viéis mais democrático e social, esse eleitorado acaba migrando para Lula exatamente para fechar a campanha no primeiro turno”, observa Niccoli. 

Rejeição a Bolsonaro cresce

Se confirmado o resultado, essa será a primeira vez na história do Brasil que um presidente da República, que busca a reeleição, não chegará ao segundo turno. Não à toa, diante da possibilidade de personalizar o fato histórico, Bolsonaro voltou a atacar o processo eleitoral com mentiras, conforme destaca o cientista político. No domingo (18), fez campanha eleitoral no funeral da rainha Elizabeth II. A apoiadores, Bolsonaro disse ainda não haver possibilidade de não “vencer a eleição no 1º turno”, contrariando todas as pesquisas. 

Para o professor, Bolsonaro “começa a adotar uma postura desesperada, partindo para o tudo ou nada”. O candidato à reeleição também vê aumentar sua rejeição. Na pesquisa Ipec, por exemplo, metade do eleitorado (50%) afirmou que não votará no presidente de jeito nenhum. O total representa um aumento de quatro pontos em relação a primeira pesquisa da série histórica, de 15 de agosto, quando 46% rejeitavam Bolsonaro. Lula, por sua vez, permaneceu com o mesmo índice, de 33%. 

Ramirez pondera que é natural quem está no poder tem índice maior de rejeição. “Mas precisamos também concordar com o fato de que Bolsonaro se esforçou muito para que esse índice fosse muito elevado. Ele se cercou de pessoas absolutamente incompetentes em seus ministérios. Fora isso, toda a situação envolvendo a fome, a miséria, o desemprego, a inflação, problemas ambientais, violência policial e violência durante o processo eleitoral com bolsonaristas desejando o golpe e realizando violências contra petistas.” 

Cartilha de Trump

O presidente, por outro lado, vem tentanto nesta reta final ampliar a rejeição ao nome de Lula, como fez no pleito de 2018. A estratégia, no entanto, tem limites, de acordo com o cientista político. Já que a eleição deste ano é diferente da anterior, em que Bolsonaro enfrentou um adversário menos conhecido nacionalmente e era ele quem estava em primeiro lugar.

Em paralelo, o candidato à reeleição também deve seguir o que Paulo Niccoli Ramirez classifica como a “cartilha trumpista”, em referência ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, para tentar “produzir barulho e instabilidade política rejeitando o resultado das urnas, o processo eleitoral”. O que pode ter efeito reverso e acabar também fortalecendo a campanha de Lula, diz o professor. “Mas ainda nós teremos longos três meses até a substituição desse presidente que está na iminência de uma derrota humilhante. (…) O que vemos nesse ano é que a figura de Bolsonaro se esgotou”, analisa. 

De acordo com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), Lula já tem 25 milhões de votos a mais do que Bolsonaro. O cálculo foi compartilhado por ele em suas redes sociais, após divulgação da pesquisa Ipec. O parlamentar também concorda que, com o impacto da rejeição, o presidente volte a acenar ao golpismo.

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