No Conselho de Ética, Demóstenes nega relações com Cachoeira

Senador confirma encontros com ministros, mas nega “pleito escuso” a favor de jogos ilegais, e admite viagem com Gilmar Mendes à Europa, embora rejeite informação sobre uso de avião de contraventor

“Se tem algum sócio oculto da Delta procurem com uma lupa maior aí, porque não sou eu”, disse Demóstenes (Foto: Wilson Dias/ABr)

São Paulo – Transformou-se em uma sequência de negativas o primeiro depoimento do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) sobre as relações com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No Conselho de Ética do Senado, o parlamentar negou, em linhas gerais, a acusação de que tenha colocado o mandato a serviço da quadrilha desmontada pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal. 

Demóstenes rejeitou a informação de que tenha votado a favor da legalização de jogos quando o Senado apreciou uma medida provisória sobre o assunto editada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não estávamos votando o mérito. Tratava-se de matéria preliminar de cunho constitucional e acompanhei orientação partidária”, explicou, lendo a relação dos demais senadores que votaram com ele, contra a urgência da apreciação da matéria. 

Ao se defender da acusação de ter tentado influenciar ministros do governo e de tribunais superiores do Judiciário com pleitos de interesse de Cachoeira, Demóstenes confirmou a relação com os ministros citados no inquérito da Polícia Federal, mas negou que tivesse feito pedidos de interesse pessoal. “Fui a praticamente todos os ministros (do governo), ainda que sendo de oposição. Quase sempre a resposta era não. Entendi que esse era meu papel.  Mas nunca com um pleito escuso”, defendeu-se.

As escutas telefônicas reveladas pela Polícia Federal, porém, mostraram mais de 200 chamadas telefônicas entre Demóstenes e os integrantes do grupo de Cachoeira. Nelas, o contraventor oferece presentes ao senador, que afirma que irá trabalhar pela aprovação de projetos favoráveis à legalização dos jogos de azar, principal ramo de atuação da quadrilha. Demóstenes atribui a uma questão de comodidade o uso de um aparelho de rádio oferecido por Cachoeira. “Eu não tinha lanterna na popa, o que eu sabia é que me relacionava com um empresário. Não tinha como adivinhar que o rádio era usado para outras finalidades”, justificou.

Demóstenes negou ainda que tenha viajado em avião do contraventor em companhia de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante uma estada na Europa em abril de 2011. “Cachoeira não estava conosco em Berlim e o avião era de São Paulo pra cá, e eu usei sozinho o avião e não o ministro. O processo já esclareceu essa história.” 

A respeito das relações com o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, construtora acusada de irregularidades em obras públicas em vários estados, ele afirmou não conhecê-lo, além de negar participação como sócio da empresa. “O sócio oculto da Delta não sou eu. Se tem algum sócio oculto da Delta procurem com uma lupa maior aí, porque não sou eu.”

Com informações da Agência Brasil e da Agência Senado.