Ditadura

MPF pede responsabilização de autores do Massacre da Granja São Bento, que teve seis mortos em 1973

Ação cita o delegado aposentado Carlinhos Metralha, do Dops de São Paulo

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Uma das vítimas, Soledad Barrett Viedma, estaria grávida

São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação civil pública na Justiça de Pernambuco para responsabilizar os envolvidos no chamado Massacre da Granja São Bento, em janeiro de 1973, um dos episódios mais emblemáticos da ditadura civil-militar (1964-1985). Seis militantes foram assassinados na operação policial, na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife.

Naquela operação, morreram Soledad Barrett Viedma, Pauline Philippe Reichstul, Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José Manoel da Silva. “Houve ainda a ocultação dos cadáveres de Eudaldo, Evaldo e Soledad, que testemunhas relataram estar grávida à época”, lembra o MPF. Soledad era, inclusive, namorada de José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, que se tornou delator da ditadura. O MPF diz que ainda tenta confirmar a morte de Cabo Anselmo, que não teve “qualquer registro oficial”.

Prisão, tortura e morte

Na ação, o Ministério Público pede a responsabilização cível de um dos envolvidos “na prisão ilícita, tortura e homicídio de seis opositores políticos da ditadura”. Assim, ingressou na Justiça Federal contra o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto, o Carlinhos Metralha, que atuou no Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops) em São Paulo. Os procuradores querem que Carlinhos Metralha seja condenado a ressarcir as indenizações pagas pelo Tesouro Nacional aos familiares das vítimas do massacre. E pedem que sua aposentadoria como delegado da Polícia Civil seja cassada.

“A ação busca também a condenação da União a divulgar os fatos relativos ao Massacre da Granja São Bento, por meio de ação ou espaço destinado a promover a memória e a verdade com relação às graves violações aos direitos humanos ocorridas em Pernambuco”, informa ainda o MPF. “utro objetivo é a condenação também da União a reparar os danos imateriais causados pelas condutas de seus agentes durante a repressão aos dissidentes políticos da ditadura, mediante pedido de desculpas formal à população brasileira, com a menção expressa ao ocorrido na Granja São Bento.”

Localização dos restos mortais

Outro pedido é para que a União seja condenada a adotar medidas para localização dos restos mortais de Soledad, Eudaldo e Evaldo. O ex-delegado Carlinhos Metralha já foi condenado, na esfera penal, como o primeiro ex-agente da ditadura responsabilizado por crimes cometidos no período. “Essa condenação histórica foi resultado de uma denúncia do MPF, em 2012, pelo sequestro do ex-fuzileiro naval Edgar de Aquino Duarte, em 1971, em São Paulo”, informa ainda o MPF. Em 2014, o agente compareceu ao lançamento de um livro sobre a história do DOI-Codi.

A versão oficial, de que houve tiroteio no local, é contestada pelo MPF. Segundo o órgão, um dos peritos criminais ouvidos concluiu que “a suposta cena do crime foi forjada para reforçar a versão da ‘resistência seguida de morte’, de modo que, junto aos corpos – cujas marcas de tortura eram gritantes e que já apresentavam rigidez cadavérica –, foram espalhadas armas e munição, como se os militantes estivessem usando-as no momento da morte.”