Mídia ‘requenta’ notícia para atacar MST, diz Pastoral da Terra

Coordenador da CPT defende que financiamento do agronegócio deveria receber mais atenção da imprensa

Bandeira na fazenda Toca da Raposa, em Planaltina (DF). Para CPT, atualização de índice de produtividade e PEC 438 é que mereciam investigações (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) publicou, nesta quinta-feira (8) comunicado acusando a mídia e setores ruralistas de promoverem uma nova investida contra o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). A entidade manifesta “estranheza” a notícia da ocupação de 28 de setembro à Fazenda Santo Henrique ter se tornado manchete apenas nesta semana (clique aqui para ler a íntegra). 

“É uma tentativa de criminalizar o MST e, a partir de imagens colocadas na mídia, a bancada ruralista tenta abrir novamente a CPMI para investigar o movimento”, critica Edmundo Rodrigues, de Aragoína (TO), integrante da coordenação da CPT. “No dia da ação, a notícia foi divulgada sem tanta repercussão, mas depois que 45 deputados retiraram suas assinaturas do pedido de CPMI, a pressão foi retomada”, sustenta, à Rede Brasil Atual.

Segundo a CPT, a Fazenda Santo Henrique e outras, como a Capim, fazem parte do Núcleo Monções, área de 30 mil hectares que pertencem à União. A organização sustenta que a Sucocítrico Cutrale grilou terras para forjar a documentação que atesta sua propriedade. “A imprensa não discute a grilagem feita pela empresa, como não colocam discussão sobre a atualização dos índices de produtividade, a PEC 438”, enumera.

A Proposta de Emenda Constitucional 438 propõe o confisco de terras onde for flagrado o trabalho escravo. Já a mudança dos índices de produtividade foi definida pelo Executivo, atendendo a reivindicação do MST e de outros grupos favoráveis à reforma agrária. Para a CPT, a resistência dos ruralistas é contraditória com o aumento da produtividade no campo.

Para Rodrigues, a pressão não tem relação direta com a eleição de 2010, mas com a ofensiva ruralista. “O agronegócio recebe muito investimento e isso não é investigado. Quando o agronegócio vai bem, não querem que nada mude, mas quando vai mal, vão pressionar o governo por recursos públicos”, lembra. “Isso não é colocado para sociedade perceber a situação atual do campo.”

A nota da CPT critica ainda a falta de atenção dada pela imprensa à denúncia contra a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). A entidade acusa a parlamentar de ter apresentado, na declaração de bens para a eleição de 2006, uma propriedade em Campos Lindos com o valor de R$ 8. 

No Congresso

Depois da primeira tentativa fracassada de abrir uma CPMI para investigar convênios com o poder público e ONGs internacionais de cooperativas e associações ligadas ao MST, a bancada ruralista anunciou um novo esforço para colher assinaturas, desta vez de modo seletivo.

“Estamos fazendo uma triagem direcionada. Queremos que o deputado tenha certeza da pressão que haverá para retirar assinaturas”, disse o líder do Democratas na Câmara, Ronaldo Caiado (DEM-GO).