Abin reconhece que investiga MST e outros movimentos sociais

Agência de inteligência admite monitoramento no mesmo dia em que Sarney se compromete a ler requerimento de CPI para investigar convênios do poder público com cooperativas e associações ligadas ao MST.

Nem todas as ações do MST são previstas, disse Trezza em sabatina no Senado (Foto: José Cruz/Agência Senado)

O diretor interino da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Wilson Roberto Trezza, reconheceu nesqta quarta-feira (14) que o órgão monitora atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras organizações sociais. Apesar disso, ele sustenta que a Abin não tem meios para prever todas as ações, como a ocorrida na fazenda Santo Henrique no interior de São Paulo na semana passada.

“Sempre que há ameaça ao patrimônio público, fazemos ações de inteligência”, disse em sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado. “Temos conhecimento do modus operandi desses manifestantes”, afirmou. “Mas não do episódio específico que ocorreu. É uma possibilidade que foge, às vezes, da atividade de inteligência”, completou.

Indicado para o cargo que ocupa interinamente desde o afastamento de Paulo Lacerda, no início de setembro do ano passado, o nome de Trezza precisa passar por votação na Comissão e depois no plenário do Senado. A demissão de Lacerda ocorreu em episódio em que a Abin foi acusada de ter feito escutas telefônicas clandestinas para monitorar conversas de autoridades, durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Os grampos nunca foram encontrados e o inquérito foi arquivado pelo Ministério Público Federal.

Sarney promete

O requerimento de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar repasses de recursos públicos ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deve ser lido na próxima sessão do Congresso. O presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) declarou nesta quarta-feira (14), que não pretende convocar sessão apenas para a leitura do pedido.

“Abrir uma sessão só para ler um expediente não é uma prática no Congresso”, disse. “Mas na primeira sessão, se [o requerimento] estiver no expediente, leremos imediatamente. Pedidos de criação de comissão, se tiverem assinaturas legais, são imediatamente lidos”, completou.

Desde o fim de agosto, senadora Kátia Abreu (DEM-TO) e o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS), líderes da bancada ruralista, tentam constituir uma comissão. Em setembro, 45 signatários retiraram seu apoio. Sarney criticou a prática, permitida pela lei até a publicação no Diário Oficial.

“Todas as vezes que temos requerimento de comissão de inquérito isso ocorre, lamentavelmente”, disse. “Eu acho que, uma vez assinado, nós não devíamos ter retirada de assinatura, mas isso ocorre dentro do Congresso, faz parte das práticas políticas dentro do Congresso”, completou.

Com informações da Agência Senado e Agência Brasil