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Lula defende reforma política no Brasil para garantir paridade de gênero nos legislativos

Mulheres do campo, da cidade, da floresta e das águas mostraram apoio a candidatura de Lula a presidente, que condena o “já ganhou”

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"Não existe ‘já ganhou’. Então vamos ter que ter muita habilidade para construir nossas alianças", defendeu Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quinta-feira (10), uma reforma política no Brasil para garantir paridade de gênero nos cargos legislativos. Após viagem ao México, na semana passada, o petista se disse inspirado e com vontade de discutir junto a outros partidos de esquerda uma mudança. Nesse sentido, ele defende mulheres ocupem metade das vagas nas câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso. A avaliação é que a atual legislação sobre o tema, com o sistema de cotas, não garante a representação e as candidaturas ainda seguem dependentes de recursos financeiros. 

“No México encontrei um Congresso com 52% de mulheres na Câmara dos deputados, 46,6% no Senado e quase 35% governando estados e prefeituras. Então eu penso: por que o México pôde e nós não? Mas o que aconteceu lá é simples, pois elegeram um presidente, construíram um movimento e fizeram uma reforma na Constituição. Assim, elas são indicadas por lista e sempre com paridade”, observou. 

“Precisamos começar a pensar como vamos fazer para essa paridade chegar no Brasil. Vamos tentar propor uma reforma política que na lista ja garanta essa paridade, porque senão vamos passar o resto da vida se queixando de que é difícil eleger uma mulher, um negro. Tudo é difícil porque depende da capacidade financeira da pessoa e do partido”, acrescentou Lula. 

Além do México, o ex-presidente poderá encontrar inspiração no novo governo do Chile, que toma posse nesta sexta (11). Isso porque o ministério do presidente Gabriel Boric terá 14 ministras e 11 ministros. Ainda no país andino, a Assembleia que redige a futura Constituição – eleita com paridade de gênero e presidida presidida pela epidemiologista María Elisa Quinteros – também pode ser referência. Quinteros sucedeu, inclusive, outra mulher, a professora de origem mapuche Elisa Loncón.

‘Não existe já ganhou

A proposta foi defendida durante o encontro “Mulheres com Lula para Reconstruir o Brasil”, com militantes de mais de 20 entidades de movimentos sociais. Representando a população feminina do campo, da cidade, da floresta e das águas, elas defenderam e confirmaram apoio à candidatura de Lula na disputa pelo Palácio do Planalto. Lula, por sua vez, afirmou que se coloca à disposição para ser candidato à Presidência da República por acreditar que é possível “fazer mais pela sociedade”. 

Líder nas pesquisas eleitorais, o petista condenou, no entanto, o clima de “já ganhou”, porque, segundo ele, a “luta” neste ano “não será fácil”. Por isso, defendeu alianças amplas, para além do campo da esquerda e progressista. “Não existe essa de ‘já ganhou’, eleição a gente só sabe o resultado depois da apuração. Então vamos ter que ter muita habilidade para construir nossas alianças. Tem gente que fala sobre eu conversar com alguém que votou no impeachment. Se eu não conversar, eu vou deixar de conversar com pelo menos 400 deputados”, alegou. 

“Esse país tem que ser reconstruído, temos que pegar cada coisa que foi destruída e reconstruir. Eles destruíram o que fizemos. Então, quero construir um leque de pessoas que ajude a governar esse país para gente mudar. Se a gente ganhar, vamos ter que ter maioria no Congresso, no Senado. Senão, não teremos como reconstruir. Desse modo, temos que construir (isso já) no processo eleitoral”, completou. 

Compromisso feminista

Lula também defendeu o governo de Dilma Rousseff (PT) como uma experiência “bem sucedida” que foi “destruída”, em suas palavras, pelo golpe de 2016. “Mas a gente não pode desanimar”, enfatizou. A ex-presidenta também foi lembrada pelas mulheres. Ela não pôde estar presente no evento para representar o Brasil na posse de Gabriel Boric no Chile. 

As militantes também defenderam a derrubada do governo de Jair Bolsonaro e cobraram de Lula a centralidade de pautas feministas nas políticas públicas. A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), a Confederação Nacional de Articulação dos Quilombos (Conaq), e as centrais sindicais – entregaram um plano de trabalho e de lutas ao ex-presidente, que ratificou os compromissos com os movimentos. 

Em nome da população LGBTQIA+, a presidenta da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Symmy Larrat, também reivindicou a ampliação de políticas específicas para esta população. Symmy já foi coordenadora nacional LGBT no governo Dilma e coordenadora na implementação do programa Transcidadania da prefeitura de São Paulo, na gestão de Fernando Haddad (PT). E, segundo ela, pautas nessa área são hoje violadas pela “narrativa dos genocidas que é moral”. 

“Não podemos  temer e nem gaguejar quando os debates forem sobre esses assuntos. Debate LGBT e sobre a mulher é estruturante e não pode ser reduzido à identidade”. Semelhante à defesa de Lula sobre a paridade de gênero na política, Symmy também destacou que “o caminho para superar o moralismo é aumentar a represnetatividade”. 

Caminho é a unificação

Algumas das entidades também pontuaram divergências quanto a ampliação de alianças com setores que apoiaram o golpe em 2016. Mas ressaltaram apoio a Lula, independente da composição de sua chapa e diálogo. Entre as representações partidárias de seis partidos da esquerda e da centro-esquerda – PT, PSB, Psol, PCdoB, Rede e PV  –, que também participaram do encontro hoje, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) argumentou, porém, “que para derrubar o fascismo tem que ter unidade para além de nós, da centro-esquerda e da esquerda”. 

“A liderança deve ser da esquerda, mas precisamos ter muita amplitude para garantir a eleição de Lula e sua governabilidade. E as mulheres têm um grande papel nisso”, destacou. A deputada federal Taliria Petrone (Psol-RJ) também chamou atenção para a “consolidação de uma unidade”.

Para a parlamentar, “nenhum partido sozinho derrubará Bolsonaro”. Nesse sentido, sua expectativa é que o Psol também acolha esse caminho de convergência. “Os tempos são terríveis para a nossa gente, um dos períodos mais terríveis da Nova República, um horror aberto com o golpe contra Dilma, que tirou a primeira presidenta mulher do país, a execução de Marielle Franco que completa quatros anos se resposta, a sua prisão (de Lula) e a ascensão de Bolsonaro”. 

Na análise das trabalhadoras, militantes, feministas e parlamentares da centro-esquerda e esquerda presentes, o encontro com Lula pela reconstrução foi um momento de esperança em meio à semana do Dia da Mulher marcada por falas sexistas e retrocessos.