Conselho de Coalizão

‘A economia voltará a crescer. A gente não tem que pedir licença para governar’, afirma Lula

Primeira reunião de Conselho de Coalizão reúne representantes de 15 partidos e ministros para começo de “nova relação entre Executivo e Legislativo”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula: “Tenho certeza que a gente vai conquistar uma maioria ampla pra fazer as mudanças que precisamos fazer"

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quarta-feira (8) presidentes de partidos e líderes da base aliada no Congresso Nacional, para a primeira reunião do chamado Conselho Político de Coalizão. O encontro no Palácio do Planalto discutiu temas como reforma tributária, questões econômicas e propostas para as primeiras prioridades do governo. Lula aposta em retomada da economia e afirmou que essa reunião é “o começo da uma nova relação entre o Executivo e o Legislativo”.

Os encontros devem ser contínuos para incentivar “o hábito de discutir os problemas políticos do país”. Ele comentou que quer ter uma relação “harmônica” com Câmara e Senado, embora admita divergências. “Tenho certeza que a gente vai conquistar (no Congresso) uma maioria ampla pra fazer as mudanças que precisamos fazer.”

Estiveram presentes representantes de 15 partidos:  PT, PCdoB, Psol, PDT, PSB, PV, União Brasil, Solidariedade, Avante, Podemos, Patriota, Rede, Cidadania, PSD e MDB. Também participaram os líderes do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Além deles, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, e os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Marina Silva (Meio Ambiente) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

“Frente ampla”

Padilha afirmou que está sendo construída “uma frente ampla” para estabelecer diálogo e debate entre governo e parlamento. De acordo com ele, nada impede que haja conversas com partidos que se declaram oposição. Os governistas pretendem que o fórum seja permanente e dê “continuidade ao processo construído durante transição”, com líderes partidários e de governo.

A reunião não foi aberta à imprensa o tempo todo. No áudio divulgado, o presidente não cita temas polêmicos como Banco Central ou Eletrobras. “Confio que a economia vai voltar a crescer”, disse Lula. “A gente não tem que pedir licença pra governar. A gente foi eleito pra governar. Não tem que tentar agradar ninguém, mas agradar o povo brasileiro.”

Ele disse ainda afirmou que “não esperava que o país estivesse destruído”, ao comentar dados apresentados por Alckmin. “Eu achei que as coisas poderiam estar melhores, mas estavam piores do que a gente podia imaginar.”

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Síntese da destruição bolsonarista

Antes de Lula falar sobre os desafios na economia, Alckmin fez uma “síntese” da situação encontrada pelo novo governo como herança de Jair Bolsonaro. Segundo o vice-presidente, na Educação “foi verificado o pior resultado dos últimos 10 anos em termos de leitura e aprendizado das crianças”. Disse também que a situação da Cultura mostra redução de 85% dos recursos, “agora recompostos através dos fundos”.

Na saúde, lembrou, embora com 2,7% da população mundial, o Brasil teve 11% das mortes por covid. Alckmin destacou ainda o “grande retrocesso na questão das vacinas, que o Brasil era um exemplo no mundo”, além das filas “intermináveis” no SUS. Assim como o aumento de violência contra a mulheres “retrocesso no desenvolvimento social”, com 33 milhões de pessoas passando fome.

Desse modo, segundo Alckmin, é preciso reconstruir áreas de infraestrutura, habitação, transparência e meio ambiente. No cenário externo, o Brasil passou a dever R$ 5,5 bilhões aos organismos internacionais, praticamente saindo do cenário.

Na volta dos EUA

A boa notícia é que os Estados Unidos tiraram o Brasil da lista antidumping para a exportação de aço. “Foi o único país da lista de 11 retirado da lista. A taxa de importação era 74% da alíquota. Isso vai ajudar muito nas exportações brasileiras”, informou o vice-presidente.

Lula viaja nesta quinta-feira aos Estados Unidos e se reúne com o presidente Joe Biden na sexta (10). Depois de voltar, pretende se reunir com ministros que de alguma forma têm relação com infraestrutura. A intenção é discutir projetos interrompidos ou paralisados de interesse de estados e municípios. “Se a gente conseguir fazer com que todas as obras que estão paradas comecem a funcionar e termine algumas, a gente pode contribuir com que a economia brasileira não seja o desastre previsto pelo FMI”, disse.

Lula não mencionou o nome do antecessor, mas declarou achar “bom a gente esquecer quem governou esse país até 31 de dezembro”. No entanto, afirmou que o Brasil não pode “esquecer nunca” a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro. “Hoje eu não tenho dúvida de que isso foi arquitetado pelo responsável maior de toda pregação do ódio, da indústria de mentiras, e noticias falsas nesses últimos quatro anos.”