Presidencialismo de coalizão

Lula e aliados tentam fechar base na Câmara e acordo com Lira e Centrão por PEC da Transição

Governo eleito toma posse em 1° de janeiro e tem pressa para concluir negociações e viabilizar verbas para implementar programas em 2023

Wesley Amaral/Câmara dos Deputados
Wesley Amaral/Câmara dos Deputados
“Não se fala em não votar a PEC, mas em não votar esta semana para votar na semana que vem”, observa Enio Verri

São Paulo – O relator da PEC da Transição (Proposta de Emenda à Constituição 32/22), deputado Elmar Nascimento (União-BA), afirmou no início da noite de ontem (13) que o texto deverá ser votado a partir desta quinta-feira (15). E a tramitação pode se prolongar até a semana que vem. Se o texto aprovado no Senado for modificado pelos deputados, precisará voltar à análise dos senadores e depois retornar para nova votação na Câmara.

Esse cenário não interessa ao governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não é o “fim do mundo”. O que é essencial: A PEC garante verbas de R$ 168 bilhões para a nova gestão governar. Segundo o relator, o melhor é votar o texto aprovado no Senado, mas ele faz uma ressalva. “Às vezes o ótimo é inimigo do bom”, afirmou.

A postura do relator é o que se conhece nos meios políticos como “estratégia de valorização”. Toda negociação tem um preço. O que está em jogo não é apenas a aprovação da PEC da Transição. As negociações dizem respeito também à construção da base de Lula na Câmara dos Deputados e, não menos importante, a nomeação de ministros.

Presidencialismo de coalizão e Centrão

Esse é o contexto político desta segunda semana de dezembro. Como é amplamente conhecido, no presidencialismo de coalizão brasileiro o Centrão é determinante para a aprovação de uma emenda constitucional, independentemente do governo. Sem voto desse bloco informal, não passa PEC – que precisa de 308 votos (ou 3/5) dos deputados dos 513 do Plenário.

As conversas se dão entre governo eleito e União Brasil, o PSD de Gilberto Kassab, MDB e outros partidos. Entraram noite adentro e pela madrugada desta quarta-feira (14). O diálogo com o Centrão teria avançado e, na opinião do deputado federal Enio Verri (PT-PR), há chances reais de votar o texto ainda antes do fim de semana e até mesmo nesta quarta. Para ele, a PEC será aprovada, mas o prazo depende da “estratégia de valorização”. A percepção sutil, observa Verri, é que “não se fala em não votar, mas em não votar esta semana para votar na semana que vem.”

Novo governo Lula tem pressa

Quanto maior a demora, mais cara fica a negociação. Não está em questão a presidência da Câmara dos Deputados. Arthur Lira (PP-AL) tem hoje assegurada sua recondução ao posto em fevereiro. Ele não tem oposição. “O que está em debate são as vagas de ministérios”, diz Verri.

Lira usa a enorme força que tem e seu controle sobre o Centrão para tentar emplacar aliados na Esplanada. Nessa equação, quanto maior a demora, maior a pressão política por espaço no ministério e mais cara fica a conta.

A PEC 32 dá margem de R$ 145 bilhões fora do teto de gastos para o novo governo Lula poder implementar seu plano de governo. O pagamento do Bolsa Família depende disso, assim como o aumento real do salário mínimo, que tem grande impacto. A PEC autoriza ainda mais R$ 23 bilhões em investimentos.

“Incendiaram a cidade e quem foi preso?”

Dois dias depois da segunda-feira de terror em Brasília, quando bolsonaristas atearam fogo em automóveis, ônibus e nas ruas da capital, a cidade está tranquila. Segundo Enio Verri, os hotéis – nos quais muitos dos criminosos estavam hospedados – esvaziaram e “todo mundo se mandou de Brasília”. “Agora a pergunta é outra: incendiaram a cidade e quem foi preso? Ninguém! O governador do Distrito Federal e a Polícia Federal têm que explicar isso”, diz o deputado.

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