Em risco

Lula cita Milei e Bolsonaro, e critica ‘política tomada pelo ódio’

Em Porto Alegre, presidente afirmou que extrema direita “raivosa” e “ignorante” ameaça a democracia em todo o mundo, praticamente inviabilizando o diálogo na política

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Lula afirmou que até hoje Bolsonaro não reconheceu a derrota nas últimas eleições

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta manhã de sexta-feira (15) que a democracia está em risco no mundo, por conta do avanço da extrema direita “raivosa” e “ignorante”, e citou nominalmente seu antecessor, Jair Bolsonaro, bem como o presidente argentino, Javier Milei. Em evento na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, ele prestou conta das ações do governo, defendeu a cooperação com governadores e prefeitos, e anunciou novos investimentos.

“A política está tomada pelo ódio, que certamente a maioria de vocês que fazem política aqui nunca tinham vivido isso. Isso (o diálogo político) acabou no Brasil, acabou nos Estados Unidos. Está acabando em Portugal, acabou na Espanha e está acabando em muitos países”, afirmou.

“A democracia está correndo risco. Possivelmente, porque mudamos de comportamento. A esquerda e os setores progressistas antes criticavam o sistema. Na hora que ganham as eleições, passam a fazer parte do sistema e a direita que fica fora diz que é contra o sistema”, acrescentou.

Nesse sentido, citou então o Plano Motoserra do líder da ultradireita argentina, que ameaça a sobrevivência do Estado. “Quem é contra o sistema hoje, que critica tudo, é o Milei na Argentina. Até o Banco Central ele quer fechar. Quer cortar tudo com o serrote”, disse.

E também apontou para a existência do mesmo fenômeno no Barsil. “Olha aqui o Bolsonaro, que eu não queria falar o nome dele, mas até hoje não reconheceu a derrota dele. Ele fala ‘não sei como perdi’. Ele não sabe porque ele gastou R$ 300 bilhões e achou que não ia perdeu, e perdeu”.

Defesa da democracia

Em contrapartida, Lula afirmou que é preciso lutar para recuperar “o valor das instituições que garantem a democracia”. Ao mesmo tempo, lembrou que quando assumiu a presidência pela primeira vez, a América Latina contava com uma dezena de lideranças progressistas. Atualmente são apenas três – ele próprio, o boliviano Luís Arce e o chileno Gabriel Boric. No entanto, trata-se de um fenômeno mundial, destacou.

“Em todas as lutas que a gente tem que fazer daqui pra frente, a gente tem que lembrar que o que corre risco no mundo hoje é a democracia, pelo fascismo, nazismo, extrema-direita raivosa, ignorante, bruta, que ofende e não acredita nas pessoas”, afirmou. “Temos que convencer o povo e os democratas que não é possível defender a democracia com fome, com racismo e com a desigualdade estampada na saúde, educação, nos transportes, de gênero, de raça, de tudo.”

Durante o evento, o presidente anunciou R$ 29,5 bilhões do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o Rio Grande do Sul. Os investimentos incluem ações nas áreas de energia, saúde, moradia, educação e rodovias. Lula então aproveitou para criticar novamente a gestão anterior liderada por Bolsonaro.

“Queria que alguém mostrasse uma obra que foi feita no governo passado. É impressionante a incapacidade de execução”, pontuou. “Isso é uma demonstração de que quando você não tem o que mostrar, não tem o que fazer, você arruma briga. Todo dia arruma briga com alguém, xinga alguém, provoca a imprensa”, completou.

Durante a tarde, o presidente vai a Lajeado, no Vale do Taquari, para anunciar o início das obras de reconstrução dos municípios atingidos por enchentes.