Fé cristã

Lula divulga Carta aos Evangélicos com Haddad, Marina Silva, Eliziane Gama e Aava Santiago

Em discurso aos crentes em São Paulo, petista diz que história do banheiro unissex, inventada pelo bolsonarismo, “só pode ter saído da cabeça de satanás”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula "Eu sei o quanto as pessoas sérias, evangélicas e católicas, sofrem pra enfrentar as pessoas mentirosas

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quarta-feira (19), de encontro com religiosos em São Paulo e lançou a aguardada “Carta compromisso com os evangélicos”. Lula destaca “o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela liberdade religiosa”, que manteve no período em que governou o país.

“Como todos devem se lembrar, no período de meu governo tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa”, diz a carta. O texto destaca a reforma do Código Civil assegurando a liberdade religiosa, o decreto que criou o dia dedicado à marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos, como realizações de sua gestão.

Apesar dessas medidas e de sua política de inclusão social e valorização da diversidade, o país vive “um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa fé, e afastá-las do apoio a uma candidatura que justamente mais as defende”, afirma o documento (leia a íntegra aqui).

“Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui presidente”, diz Lula na carta aos Evangélicos. “Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de culto e de pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos templos.”

No evento, além do candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT), Lula estava acompanhado de lideranças evangélicas, como a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), a presidenta do PSDB de Goiânia, Aava Santiago, e a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

“Acusações aberrantes”

No discurso em que falou aos crentes, o candidato à presidência destacou as “acusações aberrantes” e mentiras com que o bolsonarismo tenta desconstruir sua candidatura. “Tem coisas que não acredito que um ser humano possa acreditar, mas eles falam, e tem gente que acredita. Agora inventaram a história do banheiro unissex.”

Eu tenho família, tenho filha, netas, bisneta”, afirmou. Segundo ele, a história do banheiro unissex “só pode ter saído da cabeça de satanás”. O candidato disse que não considera “um pastor que mente, pastor”. “Eu sei o quanto as pessoas sérias sofrem pra enfrentar as pessoas mentirosas, na igreja evangélica e na católica.” Ele voltou a alertar os evangélicos para o “poder multiplicador de mentira que é o zap”.

Haddad: Bolsonarismo põe irmão contra irmão

Em um rápido pronunciamento, Haddad se declarou “preocupado com o que acontece no país, uma política de Estado colocando irmão contra irmão”. “Isso é muito perigoso.” Ele lembrou que sua família, de origem árabe e cristã, “veio do Oriente Médio em busca de liberdade, em busca de paz espiritual”. As agressões a padres, pastores e cardeais não podem continuar, disse. “Temos que banir esse tipo de política do Estado brasileiro.”

O candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), citou o norte-americano Martin Luther King, “pastor que ajudou a mudar o mundo, cuja fé removeu montanhas de exclusão e de preconceito nos Estados Unidos”. “Ele falava de paz e inclusão, não de ódio e divisão; falava de vida, não de morte”, disse, antes de lembrar os 687 mil mortos pela covid graças à “forma desumana com que foi tratada” por Bolsonaro.

Marina: Bíblia prega luta pelos pobres

Muito aplaudida, Marina Silva afirmou que, em várias passagens, a Bíblia indica como deve ser “a luta para defender os vulneráveis”. Com o governo Lula de 2003 a 2010, “esse compromisso com os vulneráveis está mais do que provado. A gente saiu do mapa da fome e infelizmente agora voltamos”.

A Carta aos Evangélicos divulgada hoje por Lula “tem o objetivo de dialogar com todas as pessoas”, diz Marina. “Todos aqueles que professam a fé cristã, aqueles que professam outra fé ou aqueles que não têm nenhuma fé, porque o Estado brasileiro é laico”. A deputada eleita acrescentou que “o Estado laico é uma invenção altamente sofisticada para não se discriminar ninguém. Independente da cor, da condição social, da orientação sexual, do que for”.

De acordo com a ex-ministra de Lula, o encontro com os evangélicos é “um gesto em direção à igreja pra dizer que não haverá perseguição, haverá parceria”. “Este ato testemunha que a fé cristã não tem nada a ver com ódio, com mentira fazendo escândalo ao nome de Jesus.”

Aava: não temos que nos converter a Bolsonaro

A vereadora Aava Santiago, presidenta do PSDB de Goiânia, denunciou que a fé “está sendo vilipendiada em nome de supostos valores cristãos, da suposta defesa das infâncias”. “Enquanto eles usam o nome das crianças, eles cortam as crianças do Orçamento”, disse. Dirigindo-se a Lula, a líder evangélica disse que o governo do “fez com que o filho do crente tivesse três refeições”. “Eu faço um apelo às minhas irmãs e irmãos: não permitam o sequestro da nossa fé. Já nos convertemos a Jesus, não temos que nos converter ao Bolsonaro”, pediu

A senadora Eliziane Gama defendeu “o evangelho da tolerância, da cruz, o evangelho do perdão e da ressocialização”.