'Recall'

Joaquim Barbosa: ‘Não tenho a menor vontade de me lançar candidato a presidente’

Presidente do STF critica 'conchavos de cúpula' e detecta 'crise de legitimidade' política. Segundo ele, seria 'salutar' para o país votação em candidatos sem partido

Roberto Stuckert Filho. Planalto

Após reunião com Dilma, Barbosa afirmou que há uma crise entre eleitores e eleitos

São Paulo – Citado por manifestantes nas ruas, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, disse que não tem “a menor vontade de me lançar candidato a presidente da República”. A declaração foi feita em entrevista coletiva, no final da tarde de hoje (25), após audiência com a presidenta Dilma Rousseff. “Tenho 41 anos de vida pública. Acho que está chegando a hora, né? Chega”, disse Barbosa, para quem o país vive uma crise de legitimidade e de representação política, com a população farta de “acordos de cúpula”. Para ele, inclusive, seria “salutar” que os eleitores pudessem escolher candidatos sem filiação partidária. Mas salientou que falava em “diminuir e mitigar” essa representação, e não “suprimir”.

Ele disse ser “inteiramente favorável” a candidaturas avulsas. “Por que não? Já que a nossa democracia peca por essa falta de identificação entre eleito e eleitor, por que essa intermediação por partidos políticos desgastados, sem credibilidade? Acho que a sociedade brasileira está ansiosa por se ver livre, pelo menos parcialmente, desses grilhões partidários que hoje pesam sobre seu ombro. E isso é muito salutar.”

O ministro defendeu também o voto distrital e, nesse contexto, o “recall” de políticos, “para impor ao eleito responsabilidade para com quem o elegeu”. Também criticou o que considera número excessivo de suplentes no Senado. “Disse até para a presidente: sou eleitor do Rio de Janeiro e confesso à senhora que não sei quem é o terceiro senador pelo meu estado. Ninguém na sala sabia também.”

Barbosa disse que a ideia da presidenta coincide com a dele no sentido de “trazer o povo para a discussão e deixar essa tradição de conchavos de cúpula”. Há, segundo ele, necessidade de incluir o povo nas discussões sobre reformas. “Todos os momentos cruciais de nossa história tiveram soluções de cúpula”, afirmou o presidente do STF, citando a proclamação da Independência e da República. “Além disso, tivemos alguns espasmos, crises institucionais que também foram resolvidas em cúpula.”

Ele disse ainda ser favorável à proposta de “pacto” entre os poderes, mas se declarou “voz minoritária” no Judiciário, pelas críticas que faz ao sistema. E pregou “reforma radical” na estrutura de carreiras do Judiciário, “para suprimir ou mitigar o peso da política na evolução da carreira dos juízes em todo o território nacional”. Segundo Barbosa, seria melhor haveria mais promoções por antiguidade do que por merecimento, porque “na maioria dos casos não há merecimento nenhum, é porque tem mais trânsito político”.