ENTRE VISTAS

Jean Wyllys: ‘Não podemos ser ingênuos com golpistas’

Ex-deputado federal analisa cenários para 2022 e diz que indústria da desinformação nos meios digitais é uma das principais barreiras para o campo da esquerda

TVT/REPRODUÇÃO
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Eleito três vezes deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jean Wyllys está doutorando em Ciência Política na Universidade de Barcelona

São Paulo – Tirar o Brasil das mãos de Jair Bolsonaro é a principal tarefa nas eleições presidenciais de 2022, segundo o jornalista e escritor Jean Wyllys. A ideia de uma unidade ampla é apoiada pelo ex-deputado federal, desde que seja em defesa da democracia, incluindo até setores que atuaram no golpe de 2016. Entretanto, Jean alerta que uma aliança momentânea não permite ingenuidade por parte da esquerda.

“Na minha frente cabem até golpistas, desde que reconheçamos que são golpistas. Não podemos ser ingênuos ao dar as mãos a eles, neste momento, para sair desse abismo que eles mesmos nos colocaram. Nós fizemos o impossível para tirar o país das mãos de Bolsonaro, como ir contra a desinformação da imprensa hegemônica, que voltou a fazer jornalismo agora. Porém, na minha frente ampla não cabem fascistas como o MBL, que é uma startup especializada em assassinato de reputação. Eles foram aliados de Bolsonaro até o último momento”, afirma, em sua participação no programa Entre Vistas, da TVT.

Eleito três vezes deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jean Wyllys está cursando doutorado em Ciência Política na Universidade de Barcelona. Ao analisar o cenário para as eleições de 2022, ele diz que a indústria da desinformação nos meios digitais será uma das principais barreiras a serem enfrentadas.

A política, que segundo ele sempre foi ameaçada pela mentira, agora enfrenta uma nova infraestrutura de comunicação para a disseminação de fake news. ” As plataformas digitais são responsáveis nesse processo, porque fornecem dados para a organização da extrema-direita e espalham a desinformação”, aponta. “Só em 2020, durante a pandemia, a esquerda foi entender o processo digital e, em 2022, estaremos mais preparados para lidar com a desinformação. O STF tem desbaratado algumas dessas conexões, mas precisamos chegar aos softwares que monitoram os perfis”, explica.

Filiação ao PT

O ex-deputado federal Jean Wyllys foi filiado ao Psol entre 2009 e 2021, mas filiou-se ao PT no último mês de maio. De acordo com ele, a mudança de legenda é uma maneira de somar forças para as eleições presidenciais do ano que vem.

“Agora, Lula recuperou seus direitos políticos e representa a única alternativa para tirar o Brasil do abismo. Por isso, decidi somar forças à candidatura e me filiei ao partido. Isso faz parte de uma estratégia para não deixar a legenda recuar em pautas importantíssimas”, afirma Wyllys.

Ele relata que, quando entrou para a política, analisava o PT como um partido “tragado pelo MDB” no Rio de Janeiro e, apesar de sua identificação afetiva com a sigla, encontrou no Psol mais representatividade naquele momento. “Sou um cara movido por princípios e causas, nunca por cálculo. Sempre busquei estar ao lado da justiça”, acrescenta.

Exílio de Jean Wyllys em Barcelona

Em 2018, Jean Wyllys foi eleito para o terceiro mandato consecutivo como deputado federal pelo Rio de Janeiro, mas desistiu do cargo após receber inúmeras ameaças contra sua integridade física e a de seus familiares. Segundo ele, o medo se intensificou após o assassinato de sua amiga e vereadora pelo Psol do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e o motorista da parlamentar, Anderson Gomes.

Jean lembra que em sua trajetória na Câmara dos Deputados sempre foi alvo de violência. “Fui uma cobaia de uma propaganda política da extrema-direita, que se intensificou pelo Brasil em seguida”, analisa. Ele relata que as ameaças surgiam nos mais diversos lugares, desde o submundo da internet até as ruas. “Quando a polícia prendeu um dos que me ameaçavam, o Marcelo, ele tinha um mapa com pontos cegos das câmeras da Câmara dos Deputados”, conta.

Até determinado momento, Jean Wyllys pontua que conseguiu tolerar essas violências, mas elas foram aumentando, quando então o deputado federal se deu conta de que já havia apresentado 17 denúncias à Polícia Federal. “O processo de difamação tentou me tornar um inimigo público, ou seja, fiquei vulnerável em qualquer lugar. Pedi proteção ao Rodrigo Maia (à época presidente da Câmara dos Deputados), que negou. Em 2016, saindo de um comício, quase fui linchado por sete homens.  Quando Marielle foi executada, estava convicto de que eu morreria. Então, me vi num cárcere privado, controlando meus passos, e não poderia mais seguir assim.”

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