Nem coça

Indenização de R$ 75 mil a Lula é ‘mixaria’ para Dallagnol, afirma jurista

Lenio Streck destaca que o ex-procurador enriqueceu com inúmeras palestras durante o auge da Lava Jato, a ponto de comprar apartamento milionário em Curitiba

Agência Brasil/Wilson Dias
Agência Brasil/Wilson Dias
Dallagnol também guardava dólares debaixo da banheira, segundo revelou sua própria mãe

São Paulo – O ex-procurador da Operação Lava Jato em Curitiba Deltan Dallagnol terá que pagar R$ 75 mil ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça. O STJ condenou o procurador pela utilização de famoso powerpoint em entrevista coletiva do Ministério Público Federal, em 16 de setembro de 2016. De acordo com a decisão do tribunal, Dallagnol utilizou usou expressões “não técnicas” contra a honra e a imagem, de Lula, se afastando dos conceitos jurídicos.

Para o jurista Lenio Streck, o valor que Dallagnol deve a Lula é apenas “simbólico”. Isso porque, no auge da Lava Jato, o procurador amealhava valores equivalentes em uma única palestra. Assim, são inúmeros os indícios de enriquecimento de Dallagnol, durante o período que Lenio classifica como “República do passa-pano”, quando as instituições se calavam diante dos abusos cometidos pela Lava Jato.

“Não vai fazer coça nenhuma nele, é uma mixaria”, disse Streck, em entrevista a Gustavo Conde, no programa Senso Incomum, na TVT. “Porque isso ele arrecada em uma das suas palestras. Por conta da Lava Jato, ele ganhava R$ 40 mil, R$ 60 mil, R$ 70, com conflito de interesses e tudo”, acrescentou.

Apesar de simbólica, “mostra um pouco do ‘aqui se faz, aqui se paga’, literalmente”, comentou o jurista. Ele considera, no entanto, que o STJ impôs limites contra a “espetacularização” da Justiça. Por outro lado, destacou que se a Lei de Abuso de Autoridade já estivesse em vigor naquele momento, Dallagnol seria “facilmente processado”, também criminalmente.

Perseguição lucrativa

Em outubro do ano passado, o DCM revelou que Dallagnol possuía dólares guardados embaixo da banheira. A informação aparece nas conversas entre procuradores que foram apreendidas na operação Spoofing. Numa delas, a mãe de Dallagnol avisa ao filho sobre os recursos guardados.

“Oi filho, algumas informações que considero importante te passar. 1- embaixo da banheira tem dólares guardados. 2- atrás da última gaveta do gaveterinho (sic) ao lado da porta do quarto de casal ficam guardadas as jóias de valor”.

“É só tirar um pouco dos dólares que ele tem. Nem precisa do Pix”, ironizou Streck.

Em setembro de 2018, Dallagnol também adquiriu um apartamento em área nobre da capital paranaense. Ele pagou R$ 1,8 milhão no imóvel, mas há suspeitas de favorecimento. Outros apartamentos do mesmo prédio são vendidos por R$ 2,3 milhões e R$ 3,1 milhões. Dallagnol pagou em duas parcelas: a primeira de R$ 750 mil, e a segunda, três meses depois, no valor de R$ 1,05 milhão.

Do manchetão ao sumiço na página

Também chamou a atenção o espaço reduzido dedicado pela imprensa comercial à condenação de Dallagnol. Em 2016, quando Dallagnol apresentou seu powerpoint contra Lula, os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de São Paulo deram manchete em primeira página, com amplo destaque. Além disso, fizeram questão de citar Lula como “comandante supremo” da corrupção.

Por outro lado, cinco anos e meio depois, a condenação de Dallagnol pelo STJ não recebeu o mesmo destaque. A Folha deu um pequeno quadro, com apenas um parágrafo, na metade inferior da primeira página. No Estadão, similarmente, apenas uma nota de pé de página, ainda menor. Em O Globo, afinal, a notícia nem sequer aparece na primeira página.

Reprodução/Folha
Reprodução/Estadão
Reprodução/O Globo

Assista ao Senso Incomum, com Lenio Streck