Homenagem a Leonel Brizola se transforma em ato contra Carlos Lupi

Ministro Brizola Neto e deputado Miro Teixeira comandam manifestações contrárias ao presidente nacional do PDT; Paulinho da Força também é alvo de ataques

Rio de Janeiro – Nos anos 1980 e 1990, o poder de mobilização de Leonel Brizola junto à população carioca encheu por diversas vezes a Cinelândia – tradicional ponto de manifestações políticas no centro do Rio de Janeiro – em atos públicos de seu partido, o PDT, ou do governo estadual que comandou em dois períodos (1983 a 1986 e 1991 a 1994). A presença da militância pedetista e brizolista no local era tão intensa que a população apelidou um trecho da praça de “Brizolândia”.

Na última terça-feira (22), dia em que Brizola faria 91 anos de idade e 30 anos depois dos comícios que o levaram à vitória na primeira eleição que disputou após voltar do exílio, a Cinelândia voltou a ser parcialmente ocupada pelo PDT. Com a presença de cerca de 300 militantes, a homenagem ao fundador do partido, no entanto, acabou se transformando em um ato contra o atual presidente da legenda, Carlos Lupi.

A homenagem foi organizada pelo ministro do Trabalho, Brizola Neto, que tenta apear Lupi e o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP), do comando do PDT. Compareceram ao ato os deputados estaduais Paulo Ramos, principal liderança anti-Lupi no Rio, e Bebeto, ex-jogador de futebol e possível candidato do partido ao governo estadual em 2014.

Também marcaram presença alguns nomes conhecidos do trabalhismo que atuaram ao lado do velho Brizola, como o advogado e ex-vice-governador Nilo Batista, o ex-reitor da Uerj Hésio Cordeiro, o ex-deputado Carlos Alberto Caó de Oliveira e o ex-secretário de Saúde Eduardo Costa, entre outros. O integrante da direção nacional do MST, João Pedro Stédile, que era amigo de Brizola, também compareceu.O deputado federal Miro Teixeira, outro que quer ver Lupi fora do comando do partido, também levou sua homenagem a Brizola, por quem foi derrotado nas eleições para o governo do Rio em 1982, quando ainda era do PMDB.

Dois outros netos de Brizola, o vereador carioca Leonel Brizola Neto e a deputada estadual gaúcha Juliana Brizola, que são irmãos gêmeos, também falaram durante o ato. “Nós, que carregamos esse sobrenome, sabemos que o verdadeiro herdeiro de Brizola é o povo brasileiro”, disse Juliana.

As referências a Brizola continuaram, mas o alvo do dia era mesmo Lupi e a atual direção do PDT: “Nós, que herdamos o legado do PDT e de Brizola, que tivemos o privilégio de conviver lado a lado com um líder do tamanho de Leonel Brizola, temos a responsabilidade de não deixar esse partido – que custou muita luta e suor, que custou muito sangue e muita dor para tanta gente – se perder no fisiologismo e no interesse pessoal. A gente vê tristemente um grupo de dirigentes que quer posicionar o nosso partido ao sabor das suas conveniências pessoais”, disse o ministro Brizola Neto.

‘Camarilha’

Enquanto o ministro falava, uma grande faixa onde se lia “Fora Lupi e sua camarilha” foi aberta por militantes: “Queremos ver o PDT unido em torno do trabalhismo e do legado histórico de Leonel Brizola, e não unido na submissão ao fisiologismo e a um interesse partidário que existe não por um projeto ou ideal, mas simplesmente por cargos e benesses. Não podemos deixar um partido com a história do PDT cair na mão de oportunistas que se apropriaram da burocracia partidária e estão fazendo nosso partido perder a coerência”, disse Brizola Neto.

O ministro citou o caso do Rio de Janeiro como exemplo da atuação de Lupi: “Basta ver o que aconteceu aqui, quando ganhamos a eleição do diretório municipal e o presidente do PDT teve a cara de pau de, mesmo depois de derrotado, se auto-registrar como presidente. O PDT está na Justiça pelos desmandos de um presidente nacional que não consegue aceitar que o seu ciclo acabou e que se esgotou o seu processo. O que ele poderia cumprir como transição já foi cumprido, e só o que ele faz agora é envergonhar o nosso partido”, disse, antes de convocar os aliados a compor uma chapa para disputar a convenção nacional do PDT.

Amigo do MST

João Pedro Stédile foi o mais aplaudido: “Venho aqui em nome do MST trazer a nossa homenagem a esse grande brasileiro e companheiro do MST, o nosso saudoso Leonel Brizola”, disse, acrescentando que uma “obrigação afetiva” o levara à Cinelândia: “Quiçá, se não fosse pelo governo Brizola no Rio Grande do Sul de 58 a 62, eu não tivesse a oportunidade de ter estudado. Eu só consegui estudar o ensino fundamental depois que o Brizola instalou em todas as comunidades rurais as escolinhas que a direita chamava de Brizoleta. Portanto, eu só consegui estudar graças à visão histórica do companheiro Leonel Brizola, que sabia que só o conhecimento liberta verdadeiramente o povo”.

O líder do MST lembrou ainda que foi Brizola quem desapropriou a primeira fazenda no Brasil, além de ter sido um dos fundadores do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), “o primeiro MST que nasceu lá no Rio Grande”. Stédile arrancou risos dos militantes ao dizer que “dessa maneira, o MST está aqui porque também é neto de Leonel Brizola”.

Contra Paulinho

Militantes do PDT vindos de outros estados também usaram o microfone, com destaque para Erlon Chaves, adversário do deputado Paulinho, presidente da Força Sindical, na disputa pela presidência do partido em São Paulo: “O primeiro artigo do estatuto do PDT diz que o partido é para lutar, mas precisamos fazer isso na prática. Em São Paulo, somos oposição ao Paulinho e eu espero que o Brizola Neto pegue essa bandeira (de enfrentar o líder da Força), porque o Lupi é um pelego. Espero que o Brizola Neto não amarele”, disse.

Coube a Miro Teixeira passar a mensagem da reconstrução partidária e pedir que o PDT volte a ser um partido de ponta na política brasileira: “É um espetáculo ver as pessoas que lutam, trabalham e fazem o PDT aqui reunidas. Meu desejo é ver esse comício aumentar, fazer essa praça ficar ocupada por todos os nossos companheiros. O PDT precisa ter candidaturas aos governos estaduais, ao Senado e as prefeituras de um modo geral”, afirmou.

O deputado se disse pronto para atuar pela unidade do PDT. “Não uma falsa unidade, mas a unidade na luta. Vamos para a rua, vamos fazer as caravanas do PDT, vamos aos municípios para fazer convenções. Queremos eleição direta para a presidência do partido e já defendi isso no diretório nacional. O que salva o partido de uma crise é a manifestação do voto direto dos filiados. Vamos procurar mais gente, vamos filiar mais gente e nos preocupar em lançar candidaturas. Vamos lutar para nos recuperarmos como referência.”