Garotinho quer voltar ao governo do RJ, mas enfrenta resistência de PT e PMDB

Ex-governador impediria a polarização da disputa regional entre Gabeira e Cabral. Ele enfrenta posição dúbia de seu partido, o PR, e denúncias na Justiça

Depois que Cabral assumiu o governo, houve afastamento de Garotinho. Na gestão anterior, de Rosinha Garotinho, ele foi secretário de Segurança do Rio de Janeiro (Foto: J.Freitas/Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Enquanto as direções nacionais de PT e PSDB se esforçam para repetir com os aliados Sérgio Cabral (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) no Rio de Janeiro a provável polarização que acontecerá na disputa presidencial em outubro, um nome forte e conhecido na política fluminense corre por fora na tentativa de voltar ao governo do estado. Com cerca de 20% das intenções de voto nas pesquisas de opinião até aqui realizadas, o ex-governador Anthony Garotinho, agora no PR, aposta no crescimento de sua candidatura e no renascimento político em grande estilo.

Garotinho vinha mantendo um perfil discreto desde a filiação ao PR – partido que faz parte da base de sustentação do governo Lula – em junho do ano passado. O bom desempenho nas pesquisas, no entanto, animou o ex-governador a tentar consolidar o apoio do governo federal e garantir a presença da candidata petista Dilma Rousseff em seu palanque durante a campanha eleitoral. A primeira tentativa de aproximação aconteceu durante um encontro com Dilma no dia 25 de janeiro e já provoca diversas reações no cenário político fluminense.

Apesar de não ter passado recibo publicamente, Sérgio Cabral trabalha nos bastidores para implodir a candidatura de Garotinho. Ex-aliados, os dois romperam relações desde que Cabral sucedeu Rosinha Garotinho no governo do estado e passou a controlar o PMDB no Rio. Outra dificuldade, ainda maior, para Garotinho é a conhecida antipatia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nutre pelo ex-governador, que manteve uma postura anti-Lula quando foi candidato à Presidência da República em 2002 pelo PSB e, em 2005, fez severas críticas ao governo federal no auge da crise do mensalão.

Essa realidade faz com que, apesar do encontro cordial com Dilma, já esteja em curso uma operação política para tirar Garotinho do páreo. Lula recomendou ao presidente do PT no Rio, deputado Luiz Sérgio, que procure o grupo político do ex-governador para negociar uma possível retirada de candidatura. Outro passo neste sentido já foi dado pelo presidente da Assembléia Legislativa do Rio, deputado Jorge Picciani (PMDB), um dos principais aliados de Cabral, que já teve um primeiro encontro com Garotinho: “Estamos conversando e tudo acontecerá no tempo certo. Não podemos descartar nenhuma possibilidade”, diz Picciani.

Em outra frente, Lula e o PT pretendem agir nacionalmente para fazer com que o PR force Garotinho a desistir da candidatura ao governo do Rio. Nesta esfera, entra em campo o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, que já iniciou contatos com o presidente do PR, Sérgio Tamer, e com o principal nome do partido no governo Lula, o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento: “A posição partidária do PT nas eleições do Rio é pela consolidação da aliança com o PMDB e pela reeleição de Cabral”, diz Dutra.
 

PR dividido

Oficialmente, o PR afirmou em nota distribuída à imprensa que “o apoio à candidatura de Garotinho ao governo do Rio em 2010 é irrevogável”. Nos bastidores, no entanto, a direção nacional do partido já trabalha com a hipótese de recuo. A moeda de troca, nesse caso, seria a confirmação do apoio de Lula e do PT à candidatura de Alfredo Nascimento ao governo do Amazonas. Para esse xadrez político se resolver, é preciso que o atual governador, Eduardo Braga (PMDB), desista de lançar o vice-governador Omar Aziz (PMN) a sua sucessão além de confirmar o apoio a Nascimento. Lula e Cabral devem se reunir com Braga para tratar deste arranjo após o carnaval.

Mesmo que Garotinho vença a queda-de-braço interna no PR e mantenha a candidatura ao governo estadual, não deverá contar com o apoio explícito do PT. Lula já afirmou a diversos interlocutores que, no Rio, subirá apenas no palanque de Cabral. Dilma, por sua vez, se limitaria a participar de palanques do PR no interior do estado, onde Garotinho tem desempenho superior ao da região metropolitana. “O presidente não fez aquele esforço todo para que Lindberg Farias desistisse de concorrer ao governo para depois subir no palanque do Garotinho”, resume uma fonte do Palácio do Planalto, ouvida pela Rede Brasil Atual. A referência é ao petista prefeito de Nova Iguaçu e pleiteava a candidatura majoritária.

Outro obstáculo que Garotinho enfrenta é a clara oposição ao seu nome por parte de setores da direção do PT e do PMDB no Rio que não esquecem momentos políticos passados. Quando era governador, Garotinho, que tinha como vice a petista Benedita da Silva, tirou o PT de sua equipe de governo após um ano de mandato e qualificou o partido de Lula como “o partido da boquinha” por pleitear cargos no primeiro escalão. No ano passado, durante o ato de filiação ao PR, disse que, sob o comando de Cabral, o PMDB “deveria passar a ser chamado de PC, o partido do contracheque”.

Problemas com a Justiça

Não bastassem as dificuldades políticas, Garotinho ainda vê pairar sobre si as pesadas nuvens da Justiça Eleitoral. Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu denúncia de crime eleitoral contra o ex-governador e um de seus principais aliados, o deputado federal Geraldo Pudim (PR). A denúncia se refere à apreensão pela polícia, em 2004, de cerca de R$ 320 mil em dinheiro na sede do PMDB de Campos, reduto eleitoral do casal Garotinho. O dinheiro, segundo a denúncia, estaria sendo usado para a compra de votos.

Atualmente prefeita de Campos, Rosinha Garotinho também enfrenta alguns problemas com a Justiça que podem atrapalhar o objetivo do marido de voltar ao Palácio Guanabara. Na mais recente ação, o Ministério Público apresentou uma denúncia por improbidade administrativa contra a ex-governadora. Juntamente com o então procurador-geral do Estado, Francesco Conte, e mais sete empresas, Rosinha é acusada de lesar os cofres públicos em R$ 41 milhões durante uma negociação para quitar débitos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), ocorrida em dezembro de 2006, nos últimos dias de seu governo.