Reação

Gabriela Hardt, que condenou Lula, volta a assumir a Lava Jato

Com casos de corrupção envolvendo a Lava Jato vindo à tona, volta de juíza que já substituiu Moro sinaliza que a República de Curitiba tenta sobreviver

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais
Juíza copiou sentença de Moro contra Lula e também fazia combinações com Dallagnol

São Paulo – A juíza federal Gabriela Hardt assumiu hoje (23) a condução dos processos da Operação Lava Jato em Curitiba. Ela volta ao comando da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná após o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) determinar o afastamento do juiz Eduardo Appio. No auge da Lava Jato, Gabriela atuou como substituta do ex-juiz Sérgio Moro na condução da investigação.

Em 2019, ela condenou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso do sítio de Atibaia. Gabriela ficou conhecida por copiar na íntegra trechos inteiros da sentença de Moro no caso do chamado triplex do Guarujá. Posteriormente, as duas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Conversas reveladas pela Vaza Jato, em 2021, mostraram que o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, também combinava os passos da acusação com a substituta de Moro. Ele chega a mencionar inclusive a criação de uma “planilha Google” na qual seriam relatadas as prioridades do órgão acusador para a juíza.

Ataque preventivo

Em sua primeira decisão após o retorno ao comando da Lava Jato, a magistrada determinou a inclusão do Ministério Público Federal (MPF) na petição na qual Appio determinou a retomada da investigação sobre o suposto uso de escutas ilegais na cela onde o doleiro Alberto Youssef ficou preso no início das investigações da Lava Jato.

Assim, a volta de Gabriela Hardt parece atender aos interesses políticos da chamada “República de Curitiba”. Tratava-se de um conluio entre o então juiz Moro, procuradores e agentes da Polícia Federal para perseguir opositores. O grampo ilegal contra o doleiro foi uma das primeiras iniciativas do grupo.

Antes do afastamento, em entrevista à Globonews, Appio justificou a decisão de investigar novamente o caso da escuta ilegal. “É o momento de passar a limpo tudo o que aconteceu. Se ocorreram ilegalidades, essas ilegalidades vão ser processadas e julgadas no tempo e modo devido, garantido o devido processo”, afirmou o juiz.

Tacla Duran

Se Youssef pode ser considerado uma espécie de “caixa-preta” das ilegalidades da Lava Jato, o advogado Rodrigo Tacla Duran, por outro lado, é o homem que pode causar danos irreparáveis na reputação dos integrantes da República de Curitiba. Em março, em depoimento ao juiz Appio, Tacla Duran denunciou que foi vítima de “extorsão” e “perseguição” por parte de Moro e Dallagnol.

Para evitar ingerência da Gabriela Hardt, o ministro Dias Toffoli determinou hoje que dois processos ligados a Tacla Duran em tramitação na 13ª Vara Federal de Curitiba sejam suspensos e enviados ao STF. Por citar Moro e Dallagnol, Appio já havia enviado o depoimento de Tacla Duran à Suprema Corte, solicitando a abertura de investigação. Além disso, o juiz também pediu a inclusão de Tacla Duran em programa de proteção a testemunhas. Isso porque ele também relatou ameaças por parte de pessoas ligadas aos procuradores da Lava Jato.

A retaliação contra o advogado não tardou. Em meados de abril, o desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4 emitiu ordem de prisão contra Tacla Duran. Ele atendeu a pedido do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba. O desembargador é pai de um dos sócios do senador Sergio Moro (União-PR) em um escritório de advocacia.

Agora, Toffoli determinou que todos os recursos nos processos de Tacla Duran “deverão permanecer sem que seja proferida nenhuma decisão interlocutória pelo juízo ou tribunais a quo, reiterando-se o que já havia sido determinado anteriormente”.