Recado

‘Floresta em pé, fascismo no chão’, diz Txai Suruí

Líder indígena respeitada em todo o mundo, Txai Suruí, 25 anos, manda recado aos jovens: “Temos que entender que sem floresta não há vida”

Reprodução
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São Paulo – “Vi de perto toda a destruição, todo o descaso e todo o ódio desse governo”, disse a ativista indígena Txai Suruí. Ela fez um discurso emocionado durante a Super Live Brasil da Esperança, encontro de representantes de movimentos sociais e da sociedade civil, partidos, artistas, intelectuais e influenciadores. O evento tenta marcar uma arrancada da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, a seis dias do primeiro turno na eleição presidencial. Txai chamou os presentes para que olhem para a Amazônia, onde há “uma guerra invisível”. E pediu pela eleição de Lula, único candidato que tem oscilado para cima nas últimas pesquisas eleitorais.

A indígena lembrou dos mortos na floresta. Mortos durante os quatro anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, quando a destruição da floresta avançou com ilegal, queimadas, descaso e desmonte das estruturas de defesa do meio ambiente. “Poderia gastar todo tempo que tenho aqui falando dos guerreiros que morreram por amar e defender a floresta. Espero que meu nome nunca esteja nessa lista. Nem do meu pai, grande cacique Almir Suruí, nem da minha mãe, ativista ambiental, Neidinha”, disse.

Com a voz embargada, lamentou saber que isso não é muito difícil de acontecer. “Principalmente nos tempos que vivemos agora.” Além da escalada da violência na floresta, lembrou do descaso de Bolsonaro com a covid-19. “Enterrei minhas duas avós mortas de covid pela forma como essa pandemia foi tratada. Senti as ameaças das nossas vidas aumentarem todos os dias. Não sei se vocês sabem como é viver sob ameaçada por defender sua casa, por defender nossa floresta. Venho de um dos lugares mais perigosos para ativistas e defensores do meio ambiente”.

“Guerreiro da floresta nunca gela, não agrada o injusto e não amarela. Nós continuaremos resistindo, pois somos a última geração que pode salvar a Amazônia”

Ela mencionou o perigo que ronda a vida dos defensores da floresta. “Enterrei o meu amigo Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que foi assassinado por ser um guardião da floresta. Não só ele. Enterrei minhas duas avós que morreram de covid por como essa pandemia foi tratada. Senti as ameaças das nossas vidas aumentarem todos os dias.”

Txai Suruí relembrar casos de violência na floresta, como o assassinato do ambientalista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. “Junto com os povos indígenas, denunciei as invasões e o garimpo ilegal. Chorei e choro até hoje por todas as mulheres e jovens Yanomamis que estão sendo estupradas. A Amazônia está vivendo uma guerra invisível que nem o Brasil nem o mundo conhecem”.

Sou jovem e tenho um recado para todos os jovens. Temos que olhar e entender que sem floresta não há vida. A vida de todo mundo. Estamos vivendo uma crise climática e precisamos de mudanças radicais e urgentes. Não podemos aceitar que tudo isso que contei continue acontecendo. Por isso temos que assumir a responsabilidade de defender a democracia e lutar contra o facismo.

“A melhor forma de defender a floresta é com indígenas, pessoas pretas, da favela, mulheres, decidindo também. A melhor forma, também, é elegendo Lula presidente”, disse Txai Suruí. Líder do Movimento da Juventude Indígena e do movimento do indígenas Kanindé, em Rondônia. Ela foi a primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência do clima. “Por isso estou aqui hoje. Sem a floresta não existe Brasil. Nós somos a Amazônia. Indígenas, quilombolas, ribeirinhos. Todos que estamos aqui. Floresta em pé, fascismo no chão.”