Próximo sábado

Catedral da Sé receberá ato inter-religioso por Bruno Pereira e Dom Phillips

Dom Cláudio Hummes também será lembrado no evento, que terá a presença de representantes de diversas religiões e do cantor Chico César

Agência Senado
Agência Senado

São Paulo – A Catedral da Sé, no centro de São Paulo, receberá no próximo sábado (16), a partir da 10h, um ato inter-religioso em homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista inglês Dom Phillips, assassinados no mês passado na Amazônia. Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, também será lembrado no evento, organizado em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente. A atividade incluirá ainda atrações culturais, com a presença, entre outros, do cantor e compositor Chico César.

Segundo os organizadores, o ato terá a presença de católicos, anglicanos, metodistas, pentecostais, judeus, muçulmanos, bahá’ís, budistas, kardecistas, povos tradicionais de matrizes africanas e membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Mogi da Cruzes, representará a Igreja Católica. Também participarão representantes de povos indígenas e ativistas pelos direitos humanos. As viúvas de Bruno, Beatriz Matos, e de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, estarão presentes.

“Honrar a memória”

A iniciativa do evento é da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a Comissão Arns de Direitos Humanos, o Instituto Vladimir Herzog e a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além de Chico César, participam o coral indígena Opy Mirim, a cantora Marlui Miranda e cantora lírica Tati Helene.

“Honrar a memória desses defensores de direitos humanos exige dar continuidade à sua bem-aventurada missão. Assim, devemos relatar e denunciar a violência que se impõem sobre esses povos, exigir que sejam tomadas as providências devidas para a sua proteção, e transformar todas as crenças e estruturas que dão espaço para a violência”, afirmam, em manifesto, a Frente e as entidades que organizam o ato inter-religioso na Sé.

“Podem tocar o terror”

Beatriz Matos concedeu extenso depoimento a Lia Hama, da revista Piauí, sobre Bruno, que ela conheceu em 2010. Ela lembra que as ameaças começaram, principalmente, a partir de 2018, quando o indigenista assumiu a Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai. “Foi quando ele começou a chamar a atenção dos garimpeiros ilegais. Quando conheci Bruno, ele já recebia ameaças de morte, mas houve uma escalada na violência após a entrada do governo do presidente Jair Bolsonaro. O recado do governo federal aos garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais é claro: ‘Podem tocar o terror porque não vai acontecer nada com vocês'”, relatou Beatriz.

A antropóloga contou ainda que os pescadores ilegais envolvidos no crime são conhecidos há muito tempo na região. “Não é de hoje que têm conflitos com os indígenas e a Funai. A novidade é a coragem para cometerem o crime em plena luz do dia, com várias testemunhas. Provavelmente acharam que seria mais um assassinato a ser esquecido”, afirmou. (…) “Eu comparo a morte de Bruno ao assassinato do seringueiro e sindicalista Chico Mendes e da missionária americana Dorothy Stang. Ambos foram assassinados por defenderem a preservação da floresta amazônica e dos povos que vivem nela. Que a comoção provocada pelas mortes de Bruno e Dom sirva para melhorar as condições de vida dessas pessoas e de seus aliados. Nada trará o Bruno de volta, mas espero que sua morte não tenha sido em vão.”