Inelegibilidade

Em voto, ministro do TSE ironiza crença bolsonarista: ‘Alguém pode acreditar que a Terra é plana’

Ministro Floriano vota contra Bolsonaro: “Exercer a competência pública para propalar, como chefe de Estado, uma inverdade, é um desvio de finalidade”

Reprodução/TV Justiça
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"Se este crédulo for um professor da rede pública, não lhe é permitido lecionar inverdades científicas"

São Paulo – Ao proferir seu voto a favor da inelegibilidade de Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (29), no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Floriano de Azevedo Marques manifestou-se de maneira contundente e didática. Ele citou a crença bolsonarista na “terra plana” para explicar que o ex-presidente incorreu em desvio de finalidade. O julgamento está 3 a 1, faltando um voto para o então chefe de governo se tornar inelegível, por fazer o discurso para embaixadores de dezenas de países, em 18 de julho de 2022, quando atacou o sistema eleitoral brasileiro.

“Alguém pode acreditar que a Terra é plana, mesmo contra todas as evidências científicas”, disse Floriano. “Esse sujeito pode ainda integrar um grupo de estudos terraplanistas ou uma confraria da borda infinita e dedicar seus dias a imaginar como um avião dá a volta no plano para chegar a outro extremo. Porém, se este crédulo for um professor da rede pública, não lhe é permitido ficar a lecionar inverdades científicas aos seus alunos, pois isso seria desviar as finalidades educacionais que correspondem a sua competência de servidor docente”, explicou.

Na sequência, o magistrado vinculou a argumentação à conduta de Bolsonaro enquanto chefe do Estado brasileiro:

“As convicções íntimas de quem quer que seja são respeitáveis e, desde que não firam outro direito constitucional,  têm que ser preservadas. Agora, exercer a competência pública para propalar, com a legitimidade de chefe de Estado, uma inverdade já sabida e reiterada, é um desvio de competência e de finalidade”, disse o ministro.

Fragilidade intelectual de Bolsonaro

Ele também ironizou a conhecida fragilidade argumentativa ou intelectual de Bolsonaro.

“Se disse aqui na tribuna que o primeiro investigado (Bolsonaro) talvez não tenha muita habilidade retórica. Humanos, nós todos temos nossas limitações. Concedamos o benefício da limitação de oratória. Ora, se o manejo da língua não é o forte de alguém, mais um motivo para não se arvorar a discursar sobre um tema tão grave, com tão frágeis bases, diante de diplomatas estrangeiros, aviltando a Pátria e constrangendo a República”, disse o ministro.

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