Com disputa repetida, eleição em Manaus tem cenário indefinido

Antes disposto a dar 'surra' em Lula, tucano Arthur Virgílio vira Artur Neto e promete trabalhar com governo federal; Vanessa Grazziotin conta com apoio de Dilma para impor segunda derrota ao tucano

A grande diferença entre as pesquisas não permite definir vitória de Virgílio ou de Vanessa (Fotos: José Cruz. ABr/ Waldemir Barreto. Agência Senado)

São Paulo – Estas eleições municipais voltaram a fabricar o duelo que polarizou o Amazonas em 2010. Se há dois anos Vanessa Grazziotin (PCdoB) e Arthur Virgílio Neto (PSDB) pelejaram por uma vaga no Senado, com vitória da primeira, ambos agora voltam a se enfrentar nas urnas. Em jogo Manaus, com seus 1,8 milhão de habitantes, uma importante zona franca e cidade-sede da Copa do Mundo de 2014.

Vanessa Grazziotin é senadora, mas já foi vereadora e deputada federal. Arthur Virgílio – que dois anos atrás se transmutou em Artur Neto, sem h – governou Manaus entre 1989 e 1993. Antes havia sido deputado federal, cargo que também ocuparia depois de sua gestão frente à prefeitura manauara. Também dirigiu a Secretaria Geral da Presidência da República durante o governo Fernando Henrique Cardoso e teve grande destaque como senador ao capitanear a oposição parlamentar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na tribuna, certa vez, ameaçou inclusive dar-lhe uma surra.

O tucano e a comunista lideram as pesquisas de intenção de voto, mas não são os únicos candidatos que disputam o direito de governar Manaus. Ao todo, são nove os postulantes. E as sondagens eleitorais têm se mostrado bastante díspares até agora. Em 16 de agosto, o Ibope mostrava uma vantagem de dez pontos de Artur Neto, com 29%, sobre Vanessa Grazziotin, com 19%. Essa liderança desapareceu no último dia 20, quando o mesmo Ibope divulgou empate de 29% entre ambos candidatos – resultado observado também pelo levantamento do jornal A Crítica em parceria com o Instituto Action. No entanto, o sábado (29) voltou a registrar vitória tucana, desta vez com oito pontos de diferença: 36 a 28, números do Instituto Diário de Pesquisa.

“Estamos com o pé no chão, usando os resultados apenas como parâmetro, não como definição”, explica o presidente do PSDB em Manaus e membro da coordenação de campanha do candidato tucano, Alessandro Cohen. “Temos apresentado propostas concretas para resolver os problemas da cidade, e os últimos levantamentos mostram o reconhecimento da população à nossa campanha.” De acordo com o dirigente, a expectativa do PSDB manauara é que as urnas revelem uma diferença ainda maior que as sondagens eleitorais. “O que a gente percebe nas ruas é um sentimento muito grande de mudança.”

Alianças

Atualmente, a capital do Amazonas é governada por Amazonino Mendes, do PDT, que já foi governador do estado em três ocasiões: entre 1987 e 1990, entre 1995 e 1998 e entre 1999 e 2003. Prefeito de Manaus pela primeira vez, Amazonino tinha direito de concorrer à reeleição, mas desistiu. Seu governo tem sido mal avaliado pela população manauara: apenas 28% dos cidadãos aprovam sua gestão, e cerca de 50% a consideram ruim ou péssima. Segundo o Ibope, Amazonino está entre os dez piores prefeitos das capitais brasileiras. Mas o político tem ainda outro motivo para afastar-se da disputa: passou por uma cirurgia cardíaca no começo de setembro e permaneceu 27 dias internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Como resultado, nem o diretório municipal do PDT nem seu líder apoiarão oficialmente qualquer nome neste primeiro turno.

À primeira vista, Vanessa Grazziotin poderia dispensar o apoio de Amazonino. Sua candidatura reflete em parte as alianças federais estabelecidas pelo PCdoB, seu partido, e conta com o apoio do PP, PT, PMDB, PSL, PTN, PV e PSD. Duas máquinas governamentais também trabalham por sua vitória: a senadora é apoiada pela presidenta Dilma Rousseff (PT) e pelo governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD). Também a apoiam ex-prefeito de Manaus e atual senador, Eduardo Braga, do PMDB, e o ex-presidente Lula, cuja popularidade no estado é ainda maior que sua aprovação nacional – cerca de 90%. Apesar de estar se recuperando de um câncer, Lula arrumou espaço na agenda para participar de um comício ao lado de Vanessa no último dia 19.

Artur Neto conta com a força de sua trajetória política de mais de 30 anos, além da aliança que seu PSDB firmou com o PPS, que tem se aliado normalmente aos tucanos no Congresso Nacional. “Existem outros partidos independentes que nos apoiam”, explica Alessandro Cohen, do PSDB manauara, que não se assusta com o peso dos nomes estaduais e nacionais que trabalham pela candidatura rival. “O Artur, hoje, não simboliza nada contra o governo federal. Pelo contrário, encarna o que Manaus está precisando: gestão e progresso. A primeira coisa que fará se for eleito vai ser buscar ações conjuntas com o governador do Amazonas e a presidenta Dilma. Oposição ele fazia quando era parlamentar, e a população está entendendo isso.”

Segundo turno

Na capital amazonense, portanto, não se observam coligações tão “inusitadas”, como em outras capitais. Porém, de acordo com o cientista político Luiz Antônio Nascimento, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os interesses locais podem acabar falando mais alto caso a disputa seja levada para o segundo turno – cenário mais provável por enquanto. “Tudo indica que Vanessa Grazziotin terá dificuldades”, sinaliza, lembrando que o candidato do PSB à prefeitura, Serafim Correa, até agora com aproximadamente 10% das intenções de voto, já demonstrou várias vezes que não deve marchar com a representante do PCdoB depois do dia 7.

O professor da Ufam também não acredita que outros candidatos com bons resultados nas pesquisas – Henrique Oliveira (PR) e Sabino Castelo Branco (PTB) – se aliem a Vanessa no segundo turno. Juntos, Sabino e Henrique somam algo em torno de 16% e 20% das intenções de voto. Luiz Antônio Nascimento compreende a conjuntura partidária em Manaus a partir da suposta intenção de Amazonino Mendes, atual prefeito da cidade, em disputar o governo do Amazonas em 2014. “Serafim, Henrique e Sabino são historicamente ligados a Amazonino”, anota. “Aparentemente, eles poderiam apoiar Vanessa Grazziotin contra Artur Neto, mas as relações políticas podem falar mais alto.”

Segundo o pesquisador, Omar Aziz e Eduardo Braga (maiores nomes amazonenses a apoiarem a candidata do PCdoB) são dois nomes bastante fortes para disputar – e vencer – o pleito estadual dentro de dois anos. “Por isso, quanto mais sangrando eles saírem destas eleições municipais, maior o dividendo político do Amazonino para a próxima eleição”, analisa o professor da Ufam. “Em troca, Artur Neto, se for eleito prefeito de Manaus, apoiaria o antecessor em seu projeto de voltar ao governo do estado.”

A reportagem da RBA tentou conversar com a coordenação de campanha da candidata Vanessa Grazziotin, do PCdoB, mas não obteve resposta.